Título: Equipe de Obama estuda alternativas contra a crise
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2008, Finanças, p. C10

O governo do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estuda uma série de iniciativas para combater a crise financeira, inclusive algumas idéias que o atual governo tentou empregar com sucesso limitado. Gerald Herbert / AP Photo

O presidente eleito Barack Obama: sugestões de sua equipe econômica

Entre os planos em discussão está injetar mais capital nos bancos, criar um mercado para ativos ilíquidos que inundam os livros dos bancos e ajudar os mutuários em dificuldades para pagar as prestações da casa própria.

Membros da equipe econômica do presidente eleito apresentaram ontem ao presidente várias questões, como planos para um pacote de estímulo econômico e sugestões para combater a crise financeira.

A abordagem na nova equipe provavelmente incluirá alguns componentes semelhantes aos usados ou considerados pelo secretário do Tesouro Henry Paulson. Mas enquanto Paulson apostou na aquisição de fatias dos bancos como o principal mecanismo do Tesouro para ajudar a resolver a crise, o governo Obama está desenvolvendo uma abordagem mais ampla que provavelmente incorporaria várias medidas.

O novo governo está "tentando reunir componentes (...) que serão complementares (....) embora reconheça que não há uma resposta fácil" ao problema, disse uma pessoa familiarizada com os planos da equipe do presidente eleito.

A equipe de Obama, na esperança de evitar as críticas lançadas contra Paulson pela falta de transparência, também está tentando encontrar uma maneira convincente de explicar o raciocínio por trás de sua abordagem.

Uma diferença importante entre as abordagens do atual e do novo governo será a ajuda para os mutuários não serem despejados. Paulson e a Casa Branca resistiram aos clamores para embarcar num socorro governamental aos mutuários.

A equipe de Obama, por outro lado, considera essa medida essencial para seu plano, dizem pessoas a par da situação. Parlamentares democratas estão pressionando para que Obama adote medidas rapidamente para ajudar os mutuários em risco. Detalhes do plano do presidente eleito não são ainda conhecidos, em parte porque continuam sendo elaborados.

Num novo sinal da magnitude do desafio, a Federal Deposit Insurance Corp., a agência governamental de seguro-depósito, preparou-se para mais quebras no sistema bancário americano.

Os cinco membros do conselho da FDIC, que tem a tarefa de administrar os bancos quebrados, aprovaram o aumento do orçamento da agência em 2009 para US$ 2,24 bilhões, um acréscimo de US$ 1 bilhão em relação a 2008, e anunciou que planeja aumentar os quadros de supervisores e fiscais de bancos para 6.269 profissionais, uma adição de mais de 500 funcionários.

A FDIC informou que o aumento de gastos pode ser coberto com a cobrança de tarifas mais altos dos bancos.

Ao mesmo tempo em que ainda não está exatamente definido o formato do resgate financeiro de Obama, espera-se que dê continuidade às tentativas de Paulson de atenuar a falta de capital das instituições financeiras. Isso pode significar injeção adicional de recursos, como também um esforço para ter a ajuda do governo na recuperação do valor dos créditos de recebimento duvidoso, como os títulos lastreados em hipotecas.

"Estamos analisando uma série de iniciativas que nos permitirá agir agressiva e responsavelmente para solucionar as crise econômica e financeira tanto no setor financeiro quando no restante da economia, inclusive programas de alívio à retomada de imóveis", disse Stephanie Cutter, uma porta-voz de Obama.

Paulson inicialmente planejava ajudar as instituições financeiras com a compra de créditos podres usando os US$ 700 bilhões do Programa de Alívio de Ativos Problemáticos aprovado pelo Congresso em outubro. Os bancos estão lutando com o excesso de oferta de seus ativos, que continuam a perder valor, forçando-os a fazer baixas contábeis e arcar com o impacto financeiro.

Mas Paulson desistiu da idéia em favor da tomada de US$ 250 bilhões em participações no capital dos bancos, alegando que esta era uma maneira mais rápida e efetiva de encorajar as instituições financeiras a emprestar dinheiro a pessoas físicas e jurídicas. No entanto, a crise financeira continuou a se agravar, a despeito dos esforços do Tesouro, gerando crítica dos parlamentares e de Wall Street.

Ontem, Paulson reconheceu que os bancos não estão emprestando o suficiente, apesar da injeção de recursos do governo, mas disse que os EUA não querem estatizar a indústria e ditar que empréstimos os bancos devem fazer.

A maior parte do pacote de socorro planejado pela equipe de Obama provavelmente não será revelada até que o novo presidente assuma o poder, em 20 de janeiro. Parte também dependerá de Paulson buscar ou não a segunda parte dos US$ 700 bilhões prometidos aprovados pelo Congresso. A primeira parcela, de US$ 350 bilhões, está acabando rapidamente e pode ser drenada ainda mais por um possível socorro às combalidas montadoras americanas.

Os políticos deixaram claro que se o Tesouro quiser a segunda parcela dos recursos, precisará criar um plano para mitigar as execuções judiciais e estabelecer exigências mais rígidas para os bancos obterem fundos governamentais. Paulson já disse que gostaria que a equipe de Obama apoiasse quaisquer programas novos mas a mesma ainda não colaborou com o secretário do Tesouro nas atuais medidas.

(Colaborou Jessica Holzer)