Título: PIB desacelera no 4º tri e facilita política monetária
Autor: Sergio Lamucc
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2005, Brasil, p. A5

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2004 mostrou um cenário de clara desaceleração da atividade econômica ao longo do ano e uma forte expansão do investimento, combinação que tende a permitir uma política monetária menos rigorosa nos próximos meses. O crescimento de 10,9% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede o investimento na construção civil e em máquinas e equipamentos, agradou boa parte dos analistas, por indicar uma ampliação razoável da capacidade de oferta da economia. Depois de crescer a uma taxa anualizada de 7,3% no primeiro trimestre do ano em relação ao anterior, na série livre de influências sazonais, a economia encerrou o ano com uma expansão de apenas 1,7% no período entre outubro e dezembro, segundo os mesmos critérios.

Como notam os analistas do Bradesco, "o ritmo de crescimento no final de 2004 é menos do que um quarto do ritmo de crescimento observado no início do mesmo ano". Uma taxa anualizada de 1,7%, continuam eles, mostra que a economia já está avançando a um ritmo "aquém do que se convenciona estimar como taxa de crescimento potencial", calculado como algo entre 3% e 4%. O economista-chefe do Credit Suisse First Boston (CSFB), Nílson Teixeira, também avalia que os números do PIB mostram uma desaceleração da economia. "O resultado reforça a nossa avaliação de que demanda doméstica não está exercendo pressão significativa sobre a inflação", afirma ele. Teixeira acredita que a resistência dos índices de preços em níveis elevados se deve à rigidez inflacionária, e não a um eventual aquecimento da demanda. O comportamento do consumo das famílias, que cresceu 4,3% no ano, não o preocupa, principalmente num cenário em que os investimentos aumentaram a um ritmo significativo. Teixeira lembra que os investimentos terminaram o ano passado com expansão de 10,9%, "taxa bastante superior aos 5,2% do PIB". Segundo ele, é um número positivo para a perspectiva de crescimento sustentado da economia. No quarto trimestre, a FBCF registrou queda de 3,9% em relação ao trimestre anterior, mas o recuo foi relativizado pelos analistas. Primeiro, porque a base de comparação era alta, uma vez que o crescimento nos três meses anteriores atingiu 6,8%. Além disso, como notam os analistas do Bradesco, "o IBGE considerou como exportadas duas plataformas de petróleo produzidas pela Petrobras alugadas para uma subsidiária no exterior". Essa operação, embora as plataformas não tenham saído do país, reduziu o consumo aparente de máquinas e equipamentos no quarto trimestre, já que ele é formado pela soma de produção doméstica e importação de bens de capital, excluindo as exportações. Num cenário de desaceleração da atividade econômica e aumento da capacidade de oferta da economia, os analistas apostam que não há motivos para tanto rigor na política monetária daqui para a frente, conforme reconheceu o próprio Banco Central (BC) na ata da reunião de fevereiro do Comitê de Política Monetária (Copom). O economista-chefe da MCM Consultores Associados, Celso Toledo, diz que a economia já está perdendo força, uma desaceleração que é em parte induzida pela alta de juros iniciada em setembro. Ele acredita que o resultado do PIB entre janeiro e março pode até mostrar uma queda em relação ao quarto trimestre do ano passado, o que vai ajudar a frear a inflação. Toledo estima uma expansão de 3% para 2005, um número relativamente baixo, mas que estaria, segundo ele, dentro do limite do crescimento potencial, entendido como aquele que não provoca desequilíbrios externos e nem pressões inflacionárias. As previsões da maior parte dos analistas, porém, variam entre 3,5% e 4%. Teixeira deve revisar para cima sua projeção, atualmente em 3,4%, principalmente devido ao impacto que o aumento das exportações de minério de ferro pela Vale do Rio Doce vai ter sobre a atividade econômica. Um fator importante é que os analistas esperam que a formação de capital fixo siga em crescimento em 2005, o que é fundamental para garantir uma expansão da economia sem pressões inflacionárias. O economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, lembra que muitos setores da economia trabalham próximos do limite da capacidade instalada, o que é um incentivo para novos planos de investimento. Além disso, há uma melhora da percepção de risco do Brasil, o que torna os empresários mais confiantes para investir por prazos longos. Também vale lembrar, por fim, que a expectativa é de um crescimento entre 3% e 4% neste ano, abaixo dos 5% de 2004, é certo, mas ainda assim um ritmo razoável para um país que cresceu 2,4% ao ano entre 1995 e 2004.