Título: Petrobras vai renegociar contratos de 700 projetos
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2008, Empresas, p. B7

Um dos motivos que provocou o adiamento do plano de Negócios da Petrobras para o período 2009-2013 é a expectativa de queda de preço de equipamentos e serviços e até a possibilidade de renegociação de orçamento dos cerca de 700 projetos que a companhia tem em seu portfólio. Ruy Baron/Valor Sérgio Gabrielli, presidente da estatal: "Vamos ter custos modificados"

Segundo o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, até agora os preços de insumos usados na fabricação de equipamentos como plataformas, e até fretes, não acompanharam a queda de preços do petróleo. Em café da manhã ontem com a imprensa, ele citou como exemplo o frete de navios que transportam minério, que há alguns meses custavam US$ 240 mil por dia e agora custam US$ 8 mil. "Vamos ter custos modificados. O preço do aço caiu 40% e isso vai ter que se refletir no (nosso) custo de alguma maneira", frisou Gabrielli.

Ele admitiu que esse é o caso das plataformas P-61 e P-63, cujas propostas de preço foram abertas pela Petrobras - com preços acima de US$ 3 bilhões - sem que a estatal tenha decidido levar a encomenda adiante. O Valor apurou que a empresa não descarta a possibilidade de abrir nova licitação.

Sobre o assunto, Gabrielli disse que ainda não há decisão de contratar essas unidades porque os preços cobrados refletem a queda do petróleo e de outros custos da indústria. O mesmo pode acontecer com parte dos equipamentos para grandes projetos como o Complexo Petroquímico do Rio (Comperj).

"Estamos com vários pacotes de licitação em andamento e que não foram concluídos. Vamos analisar fatores específicos e condições concretas de cada projeto, caso-a-caso, em função dos custos. Não tem sentido travar contratos com custo no pico se sabemos que daqui há quatro ou cinco meses eles vão cair", explicou o presidente da Petrobras.

Mesmo com a volatilidade que aponta para uma expressiva queda de receita provocada pela redução dos preços do petróleo, a Petrobras garante que nada altera a viabilidade da exploração no pré-sal. Tanto Gabrielli quanto o diretor de exploração e produção, Guilherme Estrella, disseram que é viável mesmo com o barril sendo comercializado na faixa de US$ 40 a US$ 50.

O presidente da Petrobras foi evasivo quando questionado sobre projetos específicos do plano estratégico que poderão ser mantidos ou adiados, inclusive as refinarias do Maranhão e do Ceará, que terão capacidade de processar 900 mil barris/dia.

Sobre ambas, o diretor de abastecimento, Paulo Roberto Costa, já havia garantido que elas estavam no plano apresentado ao conselho na sexta-feira. Ontem, a Petrobras informou que, "em função de o conselho de administração não ter concluído a análise do Plano (...), os investimentos para os próximos cinco anos serão anunciados apenas em 2009".

Segundo Gabrielli, a decisão do conselho de postergar para janeiro a aprovação do novo plano estratégico se deve à necessidade de se ter mais "precisão nas expectativas". Segundo ele o adiamento foi uma decisão de consenso tomada depois que a Petrobras apresentou seus grandes números e não projetos individuais. O único grande projeto apresentado foi o do pré-sal, quando foram especificadas projeções de preço e custos para toda a cadeia de produção, envolvendo desde a exploração e utilização do gás até o refino do petróleo, apelidado na empresa como plansal. Mas Gabrielli explicou que por causa delas a Petrobras precisa de mais tempo para ter maior clareza.

"Estamos na fase macro de definição de grandes números, de escolha de projetos que devem ser adiados. Não há decisão tomada. Estamos discutindo o volume geral de investimentos, a capacidade de captação, o volume geral de preços que vamos ter e os custos. E vamos dolarizando isso e desdobrando nos diversos projetos."

Ele não deixou claro que mudanças são esperadas nesse contexto até janeiro, quando o plano de negócios voltará a ser analisado. O plano anterior, já defasado, previa investimentos de US$ 112,4 bilhões, mas não inclui os recursos para desenvolver a produção nos campos do pré-sal, que vão absorver bilionários investimento, que vão elevar reservas, produção e o endividamento da companhia.

O plano anual de investimentos da Petrobras, aprovado pelo Congresso, prevê dispêndios máximo de R$ 72,7 bilhões em 2009. O valor é superior aos R$ 55 bilhões previstos para 2008, com a companhia encerrando suas atividades com captações de US$ 8 bilhões.

Gabrielli repetiu ontem que não há previsão de queda no preço dos combustíveis no Brasil porque a Petrobras não repassa variações de curto prazo para o mercado. E citou como exemplo duas variáveis importantes que ainda não estão claras, como o câmbio e o preço internacional da gasolina, que indica preços 25% maiores julho.