Título: Mercado de telefonia vive queda-de-braço
Autor: Magalhães , Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2009, Empresas, p. B3

Preços mais baixos é o que a Oi espera, em 2009, dos fornecedores de equipamentos de telecomunicações. A expectativa é de que vai haver redução nas compras das operadoras dos países que convivem com a economia em retração. "Com a queda na demanda mundial, a competição entre fornecedores deve se acirrar. Como os fabricantes são globais, terão de repassar a baixa dos preços", avalia o presidente da empresa, Luiz Eduardo Falco. Paulo Giandalia/Valor Paulo Castelo Branco, presidente da NEC: expectativa quanto à liberação das concessões para redes WiMax

A expectativa da Oi sinaliza o clima que está se disseminando entre operadoras e fornecedores, uma verdadeira queda-de-braço buscando ajustes e cortes de custos diante das incertezas criadas pela crise financeira internacional. E a Oi tem poder de fogo. A empresa, que já era grande - o investimento em 2008 foi de R$ 4,5 bilhões - está se tornando um gigante com a finalização do processo de fusão com a Brasil Telecom. A promessa é de investir R$ 30 bilhões nos próximos cinco anos.

O presidente da TIM, Mario Cezar Pereira de Araújo, também é taxativo. Ele está colocando os fabricantes de celulares para guerrear entre si: "Estamos negociando as compras dos terminais para o segundo trimestre. Estipulamos o tipo de aparelho e a faixa de preço com câmbio fixado. Não tem discussão. Fechamos com quem se enquadrar ao nosso patamar", diz o executivo. A TIM promete investir R$ 2,3 bilhões neste ano, R$ 300 milhões a mais do que em 2008.

No fim de outubro, quando o pânico se espalhava pelas bolsas de valores e a cotação do dólar chegava às alturas no Brasil, começaram as reuniões entre fornecedores e operadoras na busca de avaliar os efeitos da crise nos contratos, tanto de infra-estrutura como de telefones celulares.

O presidente da fabricante de equipamentos Alcatel-Lucent, Jonio Foigel, diz que o problema cambial preocupava a todos. "Os clientes quiseram negociar, adiar, repensar. Foi uma situação natural diante da instabilidade e de que não se sabia o que iria acontecer no dia seguinte. Alguns adiaram pagamentos, outros, que tinham estoques, aceitaram receber no valor do dólar antes da crise. Foram negociações caso a caso, privilegiando a boa relação", diz.

O presidente do conselho de administração da Nokia Siemens, Aluízio Byrro, lembra que a cotação do dólar oscilante é mais preocupante que a estabilização em um patamar mais alto. Muitos produtos são fabricados no país, mas a indústria ainda é dependente de importações. As importações do setor, em 2007, atingiram R$ 2,019 bilhões, praticamente o dobro de 2006.

Alguns contratos entre operadoras e fabricantes fixam bandas cambiais, criando uma espécie de hedge. Antes da crise, dificilmente era prevista uma explosão na cotação da moeda americana. O dólar chegou a atingir R$ 2,5360, para venda, em 4 de dezembro. Em 1 de agosto, era cotado a R$ 1,5590. Os contratos da Oi, por exemplo, fixam a banda em R$ 1,90. Se o dólar sobe mais do que isso, quem perde é o fornecedor.

Mas, no fim do ano passado, conta um fornecedor que prefere não se identificar, houve uma reação forte dos fabricantes. As empresas lembraram as operadoras que, quando a moeda americana estava em queda livre, foram elas que absorveram as perdas. Em resposta, as operadoras alegaram que os fabricantes compram partes e peças com antecedência e, por isso, foram beneficiados pelo dólar mais baixo do primeiro semestre.

As conversas se estenderam até meados de dezembro, sendo suspensas nas festas de fim de ano. As negociações trouxeram poucas revisões na área de infra-estrutura, mas avançaram na de telefonia celular, onde oscilações de preços trazem efeitos imediatos. Um executivo de uma operadora celular lembra que as prestadoras de serviço brasileiras têm um trunfo: o mercado brasileiro é atraente por si só. O Brasil vem mantendo crescimento acelerado - vendeu 76 milhões de terminais no ano passado, um volume alto para o universo de 150 milhões de acessos registrados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Esse executivo lembra que, do lado dos fornecedores de celulares, vem acontecendo mundialmente uma queda acelerada de preços devido aos avanços tecnológicos. "Eles (os fabricantes) acabam ganhando nessa ponta, mesmo com o valor do dólar subindo. Além disso, a disputa é por participação de mercado, o que pesa na precificação das ações e nas concorrências. Muitas vezes, eles jogam os preços para baixo para não perder a colocação", diz.

Apesar do ambiente de crise internacional, com crédito mais caro e cenário de incertezas, a expectativa para este ano é otimista na indústria de telecomunicações. A estimativa da Associação da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) é de que, em 2009, vai se repetir o faturamento com equipamentos e prestação de serviços de 2008. O valor, estimado em R$ 21,1 bilhões, é 21% superior ao 2007.

O diretor da área de telecomunicações da Abinee e presidente da NEC, Paulo Castelo Branco, ressalta que o crescimento do ano passado frente ao anterior foi alto, pois o primeiro semestre de 2007 foi "muito ruim". O desempenho de 2008 foi "quase tão bom quanto o período logo após a privatização", puxado pela instalação das redes de terceira geração da telefonia celular (3G) em todo país e a entrada da Oi em São Paulo.

O executivo diz, no entanto, que a Abinee estima para 2009 um faturamento na mesma faixa de 2008 ou um pouco abaixo disso. "Mais, nem pensar", afirma. O primeiro semestre terá faturamento gordo, pois há grandes compras de redes 3 G que se estendem do ano passado. E, como lembra Foigel, da Alcatel-Lucent, as operadoras têm compromissos a atingir, fixados pela Anatel.

Castelo Branco acrescenta que há, ainda, a expectativa para o segundo semestre da liberação para leilões das concessões para instalação das redes WiMax, a banda larga sem fio. São as freqüências de 3,5 G que foram suspensas devido a disputas jurídicas.

Byrro, da Nokia Siemens, diz que neste ano vai crescer a necessidade, tanto das operadoras fixas como celulares, de investir em sistemas de transporte de dados. O uso do celular para mandar fotos e acessar a internet cresce de maneira acelerada, afirma o executivo, o que exige um aumento da capacidade das redes para realizar as transmissões de forma rápida, sem ferir a satisfação do cliente.