Título: Montadoras ainda esperam efeito IPI
Autor: Olmos , Marli
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2009, Empresas, p. B6

Depois de cortar a produção à metade, por meio de férias coletivas, e conseguir reduzir o estoque em 30%, a indústria automobilística dá mostras de que depende ainda do efeito do incentivo tributário, concedido pelo governo na virada do ano, e também de uma expectativa de queda na taxa básica de juros, para equilibrar a atividade.

O estoque do último dia de dezembro - 211,6 mil veículos entre fábricas e concessionários - ainda é alto na avaliação de Jackson Schneider, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Equivale a 36 dias de vendas.

Trata-se de um volume menor do que o do mês anterior, que chegou a 56 dias de vendas. Mas esse enxugamento de estoque foi obtido a muito custo. Ao deixar funcionários em casa, por meio de férias coletivas e licenças remuneradas, a indústria conseguiu com que suas linhas de montagem operassem em dezembro no ritmo mais lento dos últimos nove anos.

Com parte do efetivo em férias, a produção caiu para 102,05 mil unidades, o que representou queda de 47,1% em relação a novembro e 54,1% na comparação com dezembro de 2007. É quase um terço do que as montadoras fizeram dois meses atrás.

Como resultado da estratégia, o total de estoques de carros parados nas lojas e nos pátios da indústria caiu de 305.354 para 211.625. O mercado interno só absorveu 194.486 veículos, 19,7% menos do que um ano atrás, mas 9,4% acima do vendido em novembro.

A exportação também foi mal. As vendas ao exterior somaram 41,3 mil unidades, a menor marca mensal de pelo menos três anos. A volatilidade do câmbio nos países que compram carros do Brasil é apontada pelos dirigentes do setor como motivo para a retração.

Por não saberem exatamente qual será o impacto da redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI), que só entrou em vigor na segunda semana do último mês do ano, os dirigentes da indústria automobilística não se arriscam a fazer prognósticos para os próximos meses e nem sequer para o ano.

Mas no mercado os concessionários já comemoram. "Saímos de um deserto no fim do mês para uma loja com bom movimento depois do anúncio de queda do IPI", afirma o gerente de vendas da Amazon, concessionária Volkswagen, Marcos Leite. A redução de preço, que chega a R$ 2 mil num carro popular, faz a diferença, afirma ele. O incentivo vale até março, o que tem animado muito gente a antecipar a troca do carro.

Os primeiros dias do incentivo que reduziu o IPI do carro popular a zero e baixou a alíquota de 13% para 6,5% para a faixa de motores de 1.1 a 2.0 já demonstram uma recuperação no desempenho de vendas dos modelos mais baratos. Também a venda a prazo, que havia caído para 54% do total no início de dezembro, voltou a ficar em 60% no final do mesmo mês.

Como foi beneficiada pela redução na carga tributária no mercado interno, a indústria automobilística parece evitar fazer uma correlação entre o desempenho no mercado doméstico e o corte de empregos em dezembro.

A queda nas vendas externas é a culpada, segundo o presidente da Anfavea, pelas 3.208 demissões na indústria de veículos e de máquinas agrícolas só em dezembro. Nas fábricas de veículos os cortes chegaram a 1.968 em apenas um mês. O setor terminou o ano zerando o número de empregos abertos ao longo do segundo semestre.

Os dirigentes do setor dão a dica de que esperam a reversão do quadro, com os efeitos da queda do imposto e eventual redução de juros. Quando questionado sobre o futuro do emprego no setor, o presidente da Anfavea disse: "Vamos ter de avaliar o que teremos condições de produzir para vender".

Ao mesmo tempo em que lamenta a queda de produção, vendas, exportações e emprego no final do ano, a indústria automotiva comemora o recorde anual. A produção de 3,214 milhões de unidades em 2008 foi a melhor da história, avançou 8% na comparação com a de 2007 e deverá conduzir o Brasil à posição de sexto maior produtor de veículos do mundo, se o país, conforme prevê a Anfavea, de fato passar à frente da França. O maior produtor de veículos é o Japão, seguido pela China, Estados Unidos, Alemanha, Coréia do Sul e Brasil.

Em 2008, o mercado brasileiro fechou com o recorde de 2,82 milhões de veículos. Isso representou acréscimo de 14,5% em relação ao total de 2007, a melhor marca do setor. No caso do mercado interno, o Brasil deverá ocupar, segundo projeções, o quinto lugar no ranking mundial, atrás de Estados Unidos, China, Japão e Alemanha. Com o impulso de vendas de 2008, o Brasil, que até então ocupava a oitava posição, passou à frente do Reino Unido, França e Itália.