Título: Armínio sugere reuniões mensais
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2009, Finanças, p. C1

O ex-presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, acha que na atual conjuntura seria melhor fazer reuniões mensais do Comitê de Política Monetária (Copom). Em momentos mais calmos esse prazo mais longo, de 45 dias, até se justificava. Mas hoje, com a enorme instabilidade existente na economia mundial, seria muito mais tranqüilo para a diretoria do Banco Central se pudesse tomar decisões mais freqüentes sobre a taxa de juros e a política monetária.

As reuniões do Copom eram mensais até o início de 2006 quando foram espaçadas, somando oito no ano. A justificativa do BC foi que a estabilidade econômica dispensava reuniões mais freqüentes.

Se as reuniões do Copom voltassem a mensais, isso evitaria as discussões a respeito de uma antecipação da decisão, como foi sugerido pelo presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, quarta-feira, em reunião de empresários com a equipe econômica, quando estava representando a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Segundo participantes do encontro, Cypriano sugeriu ao Copom fazer uma reunião extraordinária e antecipar o esperado corte da taxa básica, que está em 13,75% ao ano desde setembro. Cypriano não quis comentar o assunto, ontem.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, teria respondido, em tom amistoso, mas não deixando de provocar o banqueiro, que "o problema não é a Selic; é o spread bancário".

O presidente da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC), Renato Oliva, concorda com Cypriano. "Se o BC já tem elementos para tomar uma decisão, seria adequado antecipar a reunião. Temos pressa em resolver o problema e criar condições para melhorar a economia", afirmou.

Economistas ouvidos pelo Valor não acreditam, porém, que o Copom faria uma reunião extraordinária. José Francisco de Lima Gonçalves, economista do Banco Fator, afirmou que uma antecipação da reunião poderia significar o reconhecimento de que o Copom teria errado já em dezembro ao não reduzir a taxa básica e, por esse motivo, aumentar a volatilidade, que já está grande no mercado. Além disso, segundo Gonçalves, antecipar em dez dias a reunião teria "impacto irrelevante".

O economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo Silveira, também descarta a possibilidade: "O Copom ainda deve está discutindo o percentual de corte".

Flávio Serrano, economista sênior da BES Investimentos, avalia que uma eventual antecipação da reunião do Copom não faria sentido, pois os efeitos de um corte da taxa de juros só são sentidos nos diversos setores da economia com uma defasagem de seis a 12 meses podendo chegar a 18 meses. "Antecipar (o corte) em uma ou duas semanas não muda nada."

"Não estamos em situação de colapso como outras economias que tiveram cortes de emergência nos juros." Nos Estados Unidos, a redução de emergência nas taxas foi mais para restabelecer as condições de mercado do que para estimular a economia, disse Serrano. "O cenário está poluído e incerto para o BC adotar medidas drásticas", afirmou. Para ele, a indústria está mal, mas o varejo está em melhor forma, como mostram as vendas de Natal, um pouco melhores que as de 2008.

Em um ponto todos concordam: a taxa básica tem que cair mais do que o um quarto de ponto que se esperava no fim do ano passado. Os dados divulgados nesta semana confirmaram os piores temores dos analistas a respeito da economia. Gonçalves, que já esperava corte de 0,25 ponto em dezembro, elevou a previsão para 0,50 ponto especialmente após a informação de que a produção industrial despencou 5,2% em novembro em comparação com outubro, puxada pela queda dos bens de consumo duráveis, que caíram 20,4%.

Com base nas mesmas informações, Silveira, da Gradual, já espera um corte de 0,75 a 1 ponto percentual. Essa corrente ganhou peso, ontem, com a divulgação que a produção de veículos, em dezembro, desabou 54,1% em comparação com igual mês de 2007 e 47,1% sobre novembro, apesar do aumento das vendas que permitiram a redução dos estoques.

A BES Investimentos projetava três cortes nos juros no primeiro semestre, mas por conta da piora da atividade econômica além do previsto, sobretudo na indústria automobilística, está projetando quatro cortes. Para a reunião deste mês, o economista espera redução de 0,50 ponto, mas não descarta uma queda de 0,75%.

Na avaliação de Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB,, alguns agentes têm colocado todo o peso no BC para se resolver os problemas da política econômica. "O BC sozinho não pode muita coisa. É necessário uma coordenação maior de políticas." Para ele, uma política fiscal mais responsável poderia ajudar até mais a economia neste momento.

Padovani revisou sua expectativa de corte para a Selic de 0,25 para 0,50 ponto. Além dessa redução, ele avalia que aumentou a probabilidade de haver mais três cortes de 0,50 no primeiro semestre.

Elson Teles, economista chefe da Concórdia Corretora, avalia que o corte da Selic pode chegar a 0,75 ponto. Sua projeção, porém, é que fique em 0,50 por conta do cenário ainda incerto. Para ele, no primeiro semestre deve haver uma queda de dois pontos na Selic.

A sugestão de Meirelles sobre a redução do spread bancário é relevante porque o spread subiu nas últimas semanas. Mesmo com a queda pronunciada nos juros futuros, disse Teles, não ocorreu uma redução das taxas para o tomador final de crédito. Ao contrário, as taxas subiram por conta do cenário de maior risco e do temor de maior inadimplência.

Silveira observou que o mesmo está acontecendo em outros mercados. "Apesar de a taxa interbancária de Londres, a Libor, ter caído bastante, o spread não caiu com a percepção negativa dos bancos com o risco privado. O spread sobe não porque os bancos querem lucrar mais mas sim porque o risco percebido subiu. Por isso os bancos estão cobrando prêmios mais elevados. ", disse o economista.

Se o spread for mantido quando a Selic cair, o ganho dos bancos - ou o prêmio cobrado pelo risco - vai aumentar mais.

Os juros do crédito subiram apesar da queda que traçada no mercado futuro desde o início de dezembro, antecipando o corte da taxa Selic e o recuo da inflação. Nesta semana, as taxas do "swap" de 360 dias caíram abaixo de 12%, refletindo as expectativas baixistas do mercado.

Segundo Silveira, a taxa de juro futuro é que influencia a economia pelo canal do investimento. Ela também deveriam balizar os juros do crédito. Mas, se a Selic cair, vai dar um empurrão a mais nessa tendência.