Título: PSDB disputa xadrez dentro da própria sigla
Autor: Aranha, Patrícia
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2010, Política, p. 6/7

Cresce a pressão para que José Serra assuma a candidatura ao Palácio do Planalto. Mas setores do partido ainda tentam convencer Aécio Neves a entrar na briga

Em conversas privadas com seus correligionários, Aécio Neves começou a admitir a possibilidade de compor a chapa puro-sangue com José Serra

Semana decisiva para o PSDB. Além da pressão para que o governador de São Paulo, José Serra, assuma a candidatura à Presidência da República e comece a tentar reverter a tendência de queda registrada pelas últimas pesquisas de intenção de voto, voltou a crescer o movimento para que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, seja a opção do partido ao Palácio do Planalto. Mesmo tendo se retirado da disputa interna em dezembro, garantindo que se dedicaria à campanha ao Senado, o governador mineiro continuou alimentando os sonhos de parte da cúpula tucana e de partidos aliados de tornar-se o candidato principal ¿ no caso de Serra optar pela campanha à reeleição para o governo paulista ¿ ou de compor, como candidato a vice-presidente, uma chapa puro-sangue.

Em 8 de fevereiro, a insistência de Serra em postergar a decisão motivou um jantar do alto tucanato no Palácio das Mangabeiras, residência oficial o governador mineiro. Na ocasião, o presidente do partido, o senador Sérgio Guerra (PE), foi direto ao assunto, perguntando a Aécio se ele aceitaria ser candidato a presidente no caso de Serra desistir. Diante da resposta afirmativa, os líderes passaram a fazer reserva sobre o assunto. Em entrevista, Guerra fez questão de manter o roteiro, garantindo que a candidatura de Serra continuava ¿estável, sólida e consistente¿.

A comemoração do centenário do ex-presidente Tancredo Neves, avô de Aécio, na próxima quinta-feira ¿ quando será inaugurada a Cidade Administrativa, nova sede do governo mineiro ¿, é apontada como data emblemática para que seja feito o anúncio sobre a candidatura tucana. Aécio e Serra acertariam os últimos detalhes, pessoalmente, em jantar marcado para a véspera, em Belo Horizonte. Mesmo apostando que a conversa será definitiva, ninguém arrisca nos bastidores bater o martelo pela desistência de Serra.

Para evitar especulações, os dois governadores têm conversado, quase que diariamente, por telefone. Nesses contatos, Aécio tem transferido para Serra o ônus da pressão para ser candidato a vice-presidente. Além das declarações dos líderes do DEM e do PPS, multiplicam-se na internet os apelos, como o encabeçado pelo poeta Ferreira Gullar, que apostam no sucesso da dobradinha. Em entrevista ontem, Aécio disse que não quer ser responsabilizado por uma eventual derrota de Serra caso não seja candidato a vice. ¿Eu serei responsabilizado apenas pelo governo que estamos fazendo em Minas. Tomara que seja uma bela responsabilidade. Cada um de nós é responsável pelo que constrói, pelo que faz¿, pontuou. Sobre a possibilidade de uma chapa puro-sangue, Aécio ironizou: ¿Sou mestiço. Como é que vou participar de uma chapa puro sangue?¿

O comentário de ontem no Palácio da Liberdade é de que, se quiser atrair o governador mineiro, o PSDB não poderá adiar mais. Aécio até topa ser candidato, mas não aceitará ser tratado como um plano B. Como o partido está atrasado também em relação à formação dos palanques estaduais, Aécio temeria pelo sucesso da empreitada presidencial.

Negativa

Durante o lançamento do selo em comemoração ao centenário de nascimento de seu avô, ontem, Aécio negou a possibilidade de assumir o lugar de Serra na disputa pela Presidência da República ou de compor chapa como vice. ¿Não se cogita nada parecido com isso. Nós estamos ainda a um longo período das eleições. Existem momentos e momentos numa caminhada eleitoral, e o nosso companheiro, o governador José Serra, tem todas as condições de enfrentar adequadamente essa disputa¿, disse.

Em conversas privadas com seus correligionários, entretanto, o governador mineiro começou a admitir a possibilidade de compor a chapa puro-sangue. Conhecedores do estilo mineiro de fazer política, acreditam que esse possa ser o sinal de que as declarações não passam de cortina de fumaça para encobrir a intenção de encabeçar a chapa.

Mas nem todos os cenários estão definidos nesse verdadeiro jogo de xadrez que se tornou a definição da chapa tucana. A presença do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) na quinta-feira, em Belo Horizonte, seria mais um sinal de que Aécio poderá assumir a candidatura, tendo o próprio Ciro como candidato a vice-presidente. Seria a declaração que a oposição precisa para reverter o jogo da sucessão, hoje mais favorável ao governo Lula.

O Palácio do Planalto, até a noite de ontem, não confirmava a presença do presidente Lula na inauguração da Cidade Administrativa. A tendência é que Lula tenha agenda em Brasília. Ele seria representado pelo vice-presidente, José Alencar.

Eu serei responsabilizado apenas pelo governo que estamos fazendo em Minas. Tomara que seja uma bela responsabilidade¿

Aécio Neves, governador de Minas Gerais

Cenários diversos Adauto Cruz/CB/D.A Press - 29/10/09 Ciro Gomes (PSB-CE) poderia ser o vice de Aécio na chapa dos tucanos

Uma eventual candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), à Presidência da República, iria embaralhar o palanque estadual para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). A maior perda para a candidatura de Dilma poderia vir do partido que se comprometeu a compor chapa com o candidato a vice-presidente, o PMDB.

Para garantir o maior número de palanques estaduais, os tucanos abririam mão da candidatura ao governo de Minas Gerais e apoiariam o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB). O Planalto também perderia o apoio do PSB nos estados, já que um dos cotados para candidato a vice-presidente na chapa tucana é o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). Com ele, o PSDB pretende dividir o eleitorado da Região Nordeste, que, a cada pesquisa de intenção de votos, mostra-se mais disposto a eleger a candidata indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um alto cacique do PMDB garante: se Aécio for candidato, dois terços dos diretórios peemedebistas estarão com ele. A decisão de Aécio de sacrificar a candidatura do vice-governador Antônio Anastasia (PSDB) em Minas seria tomada como o compromisso de que o tucanato tratará o PMDB como aliado de primeira hora numa eventual vitória do PSDB, mesmo que a cúpula do partido esteja com Lula.

Os tucanos que articulam o nome de Aécio como opção também apostam que desembarquem, da candidatura de Dilma Rousseff, aliados do governo como o PDT e o PP, que já haviam acenado com essa possibilidade antes de Aécio ter anunciado que havia optado pela candidatura ao Senado.

Posicionamento

Sem um candidato do PSDB ao governo de Minas, o PT teria que rever seu posicionamento. Hoje, boa parte dos petistas, pressionados pelo Palácio do Planalto, já admitem abrir mão da candidatura própria ao Palácio da Liberdade em nome de uma composição com o PMDB (veja matéria ao lado). Se perder o aliado para os tucanos, a legenda correria o risco de ficar isolada, repetindo a performance das últimas campanhas estaduais. Não restaria alternativa ao PT senão adotar um discurso de forte oposição ao PSDB, garantindo o palanque para Dilma no estado, a despeito da grande popularidade de Aécio. (PA)

Caminho aberto para a aliança

Alessandra Mello Carlos Moura/CB/D.A Press - 6/2/10 Hélio Costa, do PMDB: discussões caminham para um entendimento com o PT e ministro deve ser candidato ao governo

O ministro das Comunicações, o peemedebista Hélio Costa, disse ontem que PT e PMDB devem fazer, daqui a cerca de 15 dias, um pronunciamento conjunto sobre o quadro eleitoral em Minas Gerais. O ministro evita admitir que as duas legendas já bateram o martelo em torno de sua candidatura ao governo do estado, mas afirmou que as discussões caminham para um entendimento e garantiu que a aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão no Palácio do Planalto, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, terá palanque único, descartando a possibilidade de PT e PMDB lançarem nomes próprios isolados.

Costa também garantiu que o vice-presidente da República, José Alencar (PRB), não será candidato ao governo do estado ¿ nome lançado como alternativa para o impasse entre PMDB e PT. ¿Isso já é assunto velho¿, afirmou. Segundo ele, os entendimentos entre as duas legendas avançaram positivamente. ¿Estamos muito bem posicionados e caminhando para um entendimento.¿ Ele disse que a aliança PMDB/PT em Minas não é mais problema para a direção nacional dos dois partidos e que está ¿fechado¿ com a candidatura da ministra Dilma no segundo maior colégio eleitoral do país, afastando a possibilidade de um entendimento com o PSDB.

Segundo aliados dos dois pré-candidatos ao governo mineiro pelo PT ¿ o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel ¿, a orientação para abrir mão em favor de uma possível candidatura de Costa partiu do próprio presidente Lula, que não quer palanque dividido em Minas Gerais. Na última semana, os dois já deram sinais de que vão mesmo abrir mão da disputa em favor do PMDB e já amansaram o discurso em defesa da candidatura própria, tratada até então como irreversível.

Ontem, durante evento em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Patrus admitiu que estuda permanecer no ministério até o fim do governo Lula, caso sua pré-candidatura não se viabilize. O ministro disse que tem ainda um mês para definir se desincompatibiliza do cargo ou não, mas adianta que prefere o Executivo. ¿Tenho respeito ao Legislativo, mas prefiro o Executivo. Se for para disputar o governo de Minas, é claro que disputarei. Se não for, vou pensar na possibilidade de permanecer no ministério até o fim do ano.¿

Mudança

Os apoiadores de Pimentel, que eram os mais ferrenhos defensores da candidatura do ex-prefeito, chegando a bater de frente com Hélio Costa, já admitem uma mudança de planos e começam a ensaiar um discurso de distensionamento. Alguns dos sinais são as conversas em torno da indicação do deputado federal Virgílio Guimarães (PT) como possível vice da chapa peemedebista. O deputado apoiava a pré-candidatura de Pimentel. Segundo um aliado do ex-prefeito, as conversas em torno da candidatura de Hélio Costa também envolvem um acordo para que o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), desista da candidatura ao governo da Bahia, em favor da reeleição do governador Jaques Wagner (PT).

Se for para disputar o governo de Minas, é claro que disputarei. Se não for, vou pensar na possibilidade de permanecer no ministério até o fim do ano¿

Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social

Análise da notícia O senhor do tempo tucano

Denise Rothenburg

Toda a oposição está hoje praticamente parada na soleira da janela à espera da decisão de um único homem: José Serra (foto). Governador do estado que concentra o maior número de eleitores e ainda líder nas pesquisas mesmo sem ter se declarado candidato, virou o senhor do tempo daqueles que enfrentarão o PT na sucessão presidencial.

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, se apressa em dizer que Dilma Rousseff cresceu por conta da exposição que obteve em janeiro e fevereiro, tempo em que Serra estava de galochas, com a água subindo pelas ruas de São Paulo. Guerra e Fernando Henrique Cardoso não têm feito outra coisa senão pedir aos tucanos um pouco mais de calma e paciência, que a hora de sair a campo vai chegar.

O problema é que, nos outros estados, os tucanos começam a ficar indóceis. Acreditam que a antecipação do calendário eleitoral por parte do PT do presidente Lula obriga o PSDB a mudar a sua estratégia. Alguns acham que é chegada a hora de tirar de Serra uma definição. Ou ele sai candidato já, ou então abre as portas para Aécio Neves, que está a 30 dias de concluir seu segundo mandato de governador em Minas. Numa hipótese ou na outra, Serra está a um passo de perder o título de senhor do tempo das oposições. Afinal, tem muita gente esperando e não são poucos os que começam a dar sinais de cansaço.

A um passo de ser o vice

Principal interlocutor do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), junto a parlamentares e prefeitos mineiros, o secretário de governo Danilo de Castro reuniu-se ontem com a base aliada para discutir a estratégia eleitoral da campanha do vice-governador, Antonio Anastasia (PSDB), ao governo mineiro, e a chance de eleger um número maior de deputados no chapão que será encabeçado por Anastasia e que contará com PP, PPS, DEM, PR, PTB e PSB. Desse rol de legendas, vai sair o nome do candidato a vice na chapa que concorre ao Palácio da Liberdade, cargo cobiçado porque, caso Anastasia seja eleito, não poderá disputar a reeleição, uma vez que vai assumir o governo do estado em abril com a desincompatibilização de Aécio.

Oficialmente, os deputados afirmam que a escolha do vice ainda não está resolvida e que só ocorrerá depois da definição da candidatura do PSDB à Presidência da República. Mas nos bastidores, o nome do deputado e presidente da Assembleia Legislativa, Alberto Pinto Coelho (PP), já é tido como o escolhido para candidato a vice-governador na chapa tucana ao governo de Minas. O parlamentar tem o apoio de 54 dos 77 deputados estaduais e também a preferência do Palácio da Liberdade. Ele disputava a vaga com algum representante do DEM, mas com os problemas que o partido enfrenta em Brasília, as chances dos democratas no estado encolheram.

Obstáculo

No entanto, um fator que poderia impedir a escolha do nome de Alberto Pinto Coelho seria uma composição do PSDB com o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), mas ele caminha para ser o candidato ao governo do estado com o apoio do PT. Além disso, o ministro já avisou que, independentemente do quadro eleitoral, apoia a candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para a Presidência da República, e que ela terá um palanque único no estado.

Questionado sobre sua escolha para vice, Pinto Coelho disse que a decisão caberá ao governador e a seu candidato, mas falou como quem já está disposto a ocupar a vaga. ¿Meu nome colocado pelo partido e lastreado por outras agremiações políticas da base me credenciam como opção. Se meu nome for escolhido, não medirei esforços para honrar a confiança dos mineiros ao lado do nosso candidato Antonio Anastasia¿, disse o presidente da Assembleia Legislativa. (AM)