Título: Desemprego na indústria é o mais preocupa o governo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2009, Brasil, p. A3

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, levará ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda-feira, o pior resultado mensal da história do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Independentemente do saldo entre contratações e demissões verificado em dezembro - perda de pouco mais de 600 mil vagas, quando o normal é cerca de 300 mil - o que assusta o governo nesta crise é o desempenho da indústria no último mês de 2008. Tradicionalmente, o setor que mais contribui para os déficits de dezembro é o comércio porque no último mês do ano são dispensados os empregados temporários contratados para as vendas do Natal.

A indústria também tem, de outubro a março, seu período mais fraco de criação de empregos, mas é o setor que dá mais consistência ao emprego formal no setor privado, sob o regime jurídico da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Por esse motivo, já na segunda-feira, Lula e alguns ministros, Lupi incluído, tentam definir as primeiras medidas da guerra que esperam enfrentar contra o desemprego. Um fracasso terá consequências políticas desastrosas e arranhará a boa imagem de Lula nas classes mais pobres, as que mais ganharam com o ambiente econômico dos últimos seis anos.

Nessa guerra, uma das armas que já está praticamente engatilhada é o pacote habitacional que os empresários da construção civil vêm chamando de Habitação de Interesse Social (HIS). Na preparação dessas medidas de rápida redução do déficit habitacional de 8 milhões de unidades, os slogans eleitorais confundem-se com as metas e ouvem-se nos corredores frases de impacto como, por exemplo, "construir uma casa por minuto" ou "entregar um milhão de casas até o final de 2010".

No desenho das políticas públicas, a prioridade é a geração de renda e emprego. Se a crise impedir uma expansão relevante do emprego formal, a idéia do governo é dar mais musculatura ao microcrédito e ao apoio à produção familiar e aos pequenos empreendedores. Outras ações, como frentes de trabalho voltadas para a infra-estrutura urbana, principalmente saneamento, também devem ser divulgadas.

O saldo do Caged, de janeiro a novembro, foi de 2.107.150 empregos criados, recorde para o período. Com a perda das mais de 600 mil vagas em dezembro, 2008 será encerrado com saldo pouco superior a 1,5 milhão de postos de trabalho. Com o estrago provocado pela crise econômica, o resultado do ano passado será pior que o de 2007, quando o balanço do Caged apontou criação de mais de 1,61 milhão de empregos celetistas.

O sinal do impacto da crise no mercado de trabalho formal já tinha sido dado em novembro, quando foram perdidos pouco mais de 40 mil vagas. Naquele mês, os 12 segmentos industriais identificados no levantamento do governo tiveram saldos negativos que levaram o setor a eliminar 80.789 empregos. O pior desempenho, em termos absolutos, foi das indústrias de alimentos e bebidas, que cortaram 13.524 postos.(AG)