Título: Apoio à candidatura Dilma define posição de Lula na disputa por Mesas
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2009, Política, p. A6

Chamado a arbitrar o conflito entre o PT e o PMDB nas eleições para a direção da Câmara e do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve optar pela saída que for melhor para a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na sucessão presidencial de 2010. Lula defende uma aliança preferencial com os pemedebistas, cujo partido tem capilaridade, com o maior número de prefeitos e vereadores do país, e o maior tempo de rádio e TV no horário eleitoral. Cesar Greco/Foto Arena/Folha Imagem - 12/1/2009 Dilma: candidata preferencial do presidente, ministra tem a simpatia da bancada pemedebista no Senado

Lula está preocupado com a tensão observada entre os dois partidos que quer juntar em 2010. No momento, o conflito de maior evidência é a eleição para as Mesas do Senado e da Câmara. Mas o presidente também está atento ao contencioso entre PT e PMDB nos Estados. Especialmente em dois deles: Rio de Janeiro, governado por um pemedebista que até agora tem se revelado um aliado incondicional, e a Bahia, onde o governador Jaques Wagner disputa o espólio do carlismo com o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional).

O PMDB também tem uma avaliação pessimista sobre a aliança eleitoral de 2010. No momento, os pemedebistas só vêem três Estados em situação de relativa tranqüilidade: Pará, Goiás e Rio - apesar da preocupação de Lula com o Estado. O mais importante, entretanto, é que o PMDB não quer decidir agora de que lado estará em 2010. O grupo mais identificado com Lula e sua candidata Dilma Rousseff é o do Senado, que reivindica a presidência da Casa para José Sarney (AP). Mas isso não o impede de vir a apoiar um candidato do PSDB, se este se mostrar mais competitivo que Dilma.

O mesmo ocorre na Câmara, onde o favorito na eleição, deputado Michel Temer (SP), é o candidato de um acordo entre PT e PMDB e tem o apoio formal do PSDB e do DEM. Temer integra o grupo mais ligado ao PSDB e com boa relação com o governador de São Paulo, José Serra. O tucano e o pemedebista são amigos desde a época de militância no movimento estudantil e Temer articulou a participação do PMDB como vice na chapa de Serra em 2002, quando o tucano foi candidato à Presidência.

Serra intensificou articulações políticas com o PMDB de São Paulo, base política de Temer, no ano passado, na disputa municipal. Foi o governador tucano quem costurou o acordo entre o PMDB paulista e o DEM do prefeito Gilberto Kassab na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2008. O PMDB foi considerado um dos principais responsáveis pela vitória do prefeito, ao aumentar o tempo de televisão do candidato e lhe dar quase o dobro do tempo de propaganda que tinham os adversários (é o que Lula espera fazer com Dilma na sucessão de 2010).

Na disputa pela presidência da Câmara, Serra atuou para que DEM e PPS também aderissem à candidatura de Temer, já com vistas à construção de alianças para a disputa eleitoral de 2010. A proximidade entre Serra e Temer é vista com desconfiança no PT. O fato de Temer ter feito uma festa do apoio tucano-demista só aumentou o receio dos petistas.

No Senado, Lula não faz restrições à candidatura de Sarney, aliado de seu governo. O problema é que o PT cerrou fileiras para eleger o senador Tião Viana (AC), embora disponha só da quarta bancada (a maior, com 20 senadores, é a do PMDB, seguida de DEM e PSDB).

A disputa pelas Mesas da Câmara e do Senado é mais imediata, mas Lula também está preocupado com o contencioso PT-PMDB nos Estados, que pode arruinar uma eventual aliança em torno de Dilma em 2010. O caso da Bahia é exemplar: O PMDB derrotou o candidato petista na eleição municipal de 2008 e o PT cobra a devolução dos cargos ocupados pelos pemedebistas no governo de Wagner. O ainda "aliado" Geddel articula o divórcio ao compor uma aliança com DEM, PSDB e PPS no Estado para as próximas eleições. Tudo isso sob as bençãos de José Serra.

Nos cinco Estados que dirige, o PT não quer conversa: Bahia, Sergipe, Pará, Piauí e Acre. Mas dirigentes do PT avaliam que o acordo com o PMDB está adiantado no Rio e no Paraná. No Rio, entretanto, a situação não está clara e há divergências entre o PT nacional e o estadual quanto ao apoio à reeleição do governador Sérgio Cabral, do PMDB. A direção nacional petista classifica as conversas com o PMDB no Estado como "avançadas" e destaca que uma possível aliança tem chance de ser fechada já no primeiro semestre deste ano. O PT do Rio, entretanto, analisa o apoio a Cabral com desconfiança, depois que o governador deixou de apoiar a candidatura do PT em 2008, na disputa pela prefeitura da capital. O PT lançou o deputado estadual Alessandro Molon com apoio do governo do Estado, mas Cabral logo retirou o apoio e lançou Eduardo Paes, ex-filiado ao DEM e ao PSDB e filiado ao PMDB em 2007, eleito prefeito do Rio.

No Paraná, os petistas negociam com o grupo do governador Roberto Requião e não descartam participar de chapa com o PMDB.

O PT também não se conforma com a deserção do chamado bloquinho e quer atrair PSB, PDT e PCdoB de volta ao mesmo teto eleitoral. Ainda neste ano.

O PT considera mais avançadas as conversas com o PDT, pelo "estreitamento na relação" entre as duas siglas depois que o presidente licenciado do partido Carlos Lupi foi nomeado ministro. Os petistas têm expectativas em relação ao PCdoB, mas os comunistas são os que mais incitam o PSB a lançar a candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) - idéia que seduz boa parte do partido mas é administrada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que preside o PSB, de acordo com a melhor conveniência partidária. Ao propor apoio à reeleição de Eduardo Campos, o PT sinaliza ao "bloquinho" .