Título: PDVSA dá calote e Venezuela já apela a multinacionais
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Fonte: Valor Econômico, 16/01/2009, Política, p. A7
A PDVSA, estatal de petróleo da Venezuela, não está pagando fornecedores e prestadores de serviço,afetada pela queda do preço do petróleo. Executivos da empresa dizem que ela parou de pagar as prestadoras de serviços em agosto e que o total da dívida, incluindo fornecedores, chega a US$ 3 bilhões. Sem capacidade de investimento, o governo da Venezuela está acenando para as multinacionais que há pouco tempo hostilizava, oferecendo participação em novos projetos de prospecção, segundo a imprensa americana.
De janeiro a setembro do ano passado, a conta da PDVSA com fornecedores foi de US$ 7,86 bilhões, um aumento de 39% em relação ao mesmo período de 2007, de acordo com dados da própria estatal de petróleo.
A dívida com francesa Schlumberger e a americana Halliburton chega a US$ 1 bilhão, segundo algumas estimativas. Representantes das duas empresas não quiseram comentar o problema.
"Estamos tendo problemas, assim como muitas empresas em situação parecida em todo o mundo", disse Eudomario Carruyo, diretor de Finanças e membro do Conselho da PDVSA.
"Nossa receita simplesmente caiu pela metade", afirmou.
Carruyo não quis confirmar o valor das dívidas com os fornecedores. "São de tamanho importante, mas são gerenciáveis."
A PDVSA está reconsiderando sua estratégia financeira para esse ano, disse Carruyo. Como primeiro passo, à empresa planeja renovar sua linha de crédito de US$ 1,16 bilhão com um grupo de bancos liderados pelo BNP Paribas.
Mas as multinacionais já estão dando sinais de preocupação. Executivos da Halliburtone da Schlumberger estiveram na Venezuela nos últimos meses para discutir as contas pendentes.
As prestadoras de serviços estão evitando assumir novos encargos, em novos poços.
Durante reunião recente com as prestadoras, um membro do conselho da PDVSA pediu a elas que diminuíssem em 40% o valor que . cobram pelos serviços. A proposta, entretanto, não foi bem recebida pelas empresas, disse um executivo que participou da reunião.
Os membros da Câmara de Hidrocarbonetos da Venezuela estão planejando uma reunião de emergência com a PDVSA para discutir uma saída para a crise.
Pressionado, o presidente Hugo Chávez já trabalha para reverter sua política refratária em relação às petroleira multinacionais. Autoridades do governo começaram a oferecer perspectivas de prospecção a grandes companhias como a Chevron, a Shell e a Total, segundo o jornal "The New York Times".
O diário diz que o presidente vem "cortejando discretamente" as petroleiras, numa, mudança de abordagem. Desde 2007, a Venezuela impôs uma série de aumentos de royalties, nacionalizou campos prospectados pelas multinacionais e usou de uma retórica agressiva contra os interesses das companhias estrangeiras.
Essa "corte" foi confirmada ao "Times" por executivos do setor. A simples perspectiva de voltar a investir no país sul-americano mostra o quanto as companhias estão penando para conseguir entrar em novos projetos, particularmente no Oriente Médio.
Além do histórico de rusgas com o governo, o petróleo extrapesado da Venezuela tem um valor cerca de 30% abaixo do Brent, mais leve e de mais fácil refino.
Com a queda abrupta do preço do petróleo, o governo venezuelano aparentemente teve de reconhecer que não tem capacidade de investimento para aumentar sua produção, que registra queda sistemática nos últimos anos.