Título: Vendas das distribuidoras têm leve reação
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2009, Empresas, p. B7

As vendas de aço na rede de distribuição que opera com produtos laminados planos, como chapas grossas e chapas finas para o setor automotivo, de autopeças, de máquinas e equipamentos e o da construção civil, começaram janeiro dentro de um cenário ligeiramente melhor do que o que se previa no auge da crise, por volta de novembro. Esse é o retrato do momento, segundo Christiano Freire, presidente do Inda, entidade dos distribuidores do país.

Conforme Freire, a expectativa de venda em janeiro e fevereiro é de 230 mil toneladas em cada mês, uma forte recuperação (mais de 40%) sobre dezembro. O mês apresentou o pior desempenho do ano, com 160 mil toneladas. Esse volume é um número ainda preliminar do Inda. "Ninguém dos clientes da rede comprava alguma coisa em dezembro. Jogava tudo para janeiro", comenta Freire, que também preside a Frefer, empresa da família e dona de 4% do mercado distribuidor. "A estratégia era queimar estoques e preservar caixa para fechar o ano com balanço bonito".

Até outubro, a média mensal de entregas da rede distribuidora era de 335 mil toneladas e em julho o setor atingiu o auge de 409 mil toneladas. Para poder atender a demanda, era preciso até importar material - o câmbio de R$ 1,60 era um fator vantajoso até meados de setembro. Até as usinas tiveram de recorrer a esse expediente diante do aquecimento do consumo local. "Depois, a R$ 2,30 ou R$ 2,40, ninguém mais quis se arriscar a importar", diz.

No começo do mês, informa Cunha, algumas distribuidoras, como a própria Frefer, tiveram de chamar pessoas em férias, pois muitos clientes começaram a fazer pedidos. "Ainda se tratam de encomendas sob demanda, que exigem entrega rápida".

Ao mesmo tempo, os clientes mantêm uma forte pressão para queda de preços do aço ao apresentar pedidos. Isso já levou a ArcelorMittal a cortar 10%. Usiminas e CSN ainda resistem. Em entrevista ao Valor em dezembro, Marco Antônio Castello Branco, presidente da Usiminas, disse que o pleito dos consumidores era muito forte: variava de 5% a 40%.

Segundo o executivo, a percepção deles estava contamina pelas notícias de ofertas "spot" do mercado internacional, onde havia uma queima dos estoques. Lembrou que o preço do aço aqui também caiu 40% quando expresso em dólar com a desvalorização do real. "Como os preços do minério de ferro e do carvão continuam estáveis, não há margem para redução", afirmou.

O segmento da distribuição, que alia instalações de centro de serviços, como corte e dobra e até estamparia, responde por um terço das vendas de aços planos no país, da ordem de 12 milhões a 13 milhões de toneladas por ano. Siderúrgicas como Usiminas, CSN e ArcelorMittal, por meio de seus canais próprios, já detêm quase metade do volume comercializado.

No ano passado, conforme dados preliminares de fechamento do Inda, as vendas atingiram 3,73 milhões de toneladas, o correspondente à média de 310 mil por mês. Em relação ao desempenho do ano anterior, esse volume representa aumento de 15%. Sobre 2006, o setor já havia crescido mais de 20%, quando atingiu 3,57 milhões de toneladas em 2007.

Em janeiro e fevereiro, aponta Freire, uma das prioridades da rede é baixar o nível de estoques, que virou o ano bem elevado considerando o atual cenário: 915 mil toneladas. Por isso, a previsão de pedidos nas usinas é de 160 mil toneladas em cada um dos dois meses. "Queremos entrar em março com 750 mil toneladas, um patamar correspondente a três meses de vendas, que é aceitável". As compras da rede, comparadas há um ano, vão cair 45%, enquanto a expectativa de vendas é de retração entre 25% e 27%.

Na avaliação de Freire, a decisão das usinas em abafar ou parar fornos, com antecipação de reformas, foi bem apropriada. "Isso ajudou a regular a oferta diante da nova demanda, não permitindo uma guerra de preços no mercado interno". Outro fator que ajudou, aponta ele, foi o câmbio, com fortalecimento do dólar, inibindo a entrada de material importado.

Freire, que em março passa o comando do Inda a Carlos Loureiro, fundador da Rio Negro, reclama que o governo deveria também ter tomado medidas para aliviar o aperto do setor, assim como fez para as montadoras. Exemplos: desoneração da carga tributária (caso de IPI), postergar em até 35 dias o recolhimento de impostos e repassar diretamente financiamentos. "A gente liga no BNDES e eles dizem que ainda não há dinheiro disponível". Essas e outras medidas, observa, ajudariam a aliviar o fluxo de caixa das empresas.