Título: Importações afetam balança
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2010, Economia, p. 13

Enquanto embarque destinado a outros países aumenta 27,2% em fevereiro, desembarque de produtos estrangeiros sobe 50,8%

As empresas voltaram a exportar, diante da retomada gradual dos mercados externos, o que também aumentou as importações Welber Barral, secretário de Comércio Exterior

As importações estão crescendo numa velocidade quase duas vezes superior à das exportações, o que vem prejudicando os números do comércio exterior brasileiro. Em fevereiro, os embarques de produtos nacionais para outros países somaram US$ 12,197 bilhões, com crescimento da média diária de 27,2% em relação ao mesmo mês em 2009. Enquanto isso, os desembarques de mercadorias estrangeiras foram de US$ 11,803 bilhões, num aumento de 50,8%. Essa desproporção fez minguar o superavit comercial do mês, que foi de apenas US$ 394 milhões, o pior para meses de fevereiro desde os US$ 265 milhões obtidos em 2002. O governo conta com o início das vendas de itens agrícolas para reverter a situação.

¿Tanto as exportações como as importações tiveram médias diárias de vendas recordes para meses de fevereiro, o que mostra uma reação bastante notável no comércio exterior. Isso está ligado à forte recuperação econômica. As empresas voltaram a exportar, diante da retomada gradual dos mercados externos, o que também aumentou as importações de matérias-primas para a produção industrial interna¿, explicou ontem o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Ele admitiu que o resultado da balança poderia ter sido deficitário no mês, mas afastou essa possibilidade no fechamento do ano, mesmo que algumas empresas deixem de exportar para apostar no aquecido mercado interno.

A partir de meados de março até o fim de agosto, os produtos agrícolas retornam à pauta de vendas, o que deve melhorar bastante o desempenho das vendas e do próprio resultado comercial anual. O governo não tem meta de superavit, apenas se comprometeu com um objetivo de exportações no valor de US$ 168 bilhões. Barral reconheceu que o crescimento do volume vendido e comprado se deve, em parte, à base deprimida de comparação do ano passado, quando o mundo estava na fase mais aguda da crise internacional. Mas garantiu que a situação das exportações agora é melhor do que a dos anos anteriores: 2006 (12,9%), 2007 (15,5%) e 2008 (19,7%) ¿ em 2009, a queda foi de 20,9%.

A realidade é um pouco diferente nas importações, cuja taxa de crescimento superou a de fevereiro de 2006 (19,9%), de 2007 (21,1%) e de 2009 (-30,9%), mas ainda não voltou ao nível de 2008 (56,6%). No acumulado no bimestre, as vendas somam US$ 23,502 bilhões e as compras, US$ 23,274 bilhões, com o saldo positivo em apenas US$ 228 milhões. O volume exportado de produtos básicos subiu 28,6%, o de semimanufaturados, 21,6%, e o de manufaturados, 20,6%. Nas importações, os bens de capital (equipamentos para investimento) cresceram 17,2%, matérias-primas, 34% e bens de consumo duráveis ,65,2%.

Mercados No mês, os principais destaques nas vendas foram petróleo (136,1%), influenciado pelo aumento do preço internacional em 126,8%, laminados planos (91,4%), e automóveis (90,1%). ¿As exportações de veículos estão crescendo, mas ainda ficam longe de recuperar os números que já tiveram¿, disse Barral. No bimestre, a expansão dos embarques se deu mais para os países emergentes, como Argentina (63,5%), China (43,1%),além do Oriente Médio (56,2%) e da Europa Oriental (50%). Apesar disso, os Estados Unidos, com alta de 20,2%, mantiveram o primeiro lugar no ranking de destinos tomado da China em janeiro. Os norte-americanos responderam por 11,5% da pauta, enquanto os chineses ficaram com 9,9%.

¿A tendência é que haja uma nova reversão quando os embarques de produtos agrícolas forem retomados com toda a força para a China¿, previu o secretário. O destaque nas importações foram os automóveis (116,5%), vindos principalmente da Argentina, da Coreia do Sul e do México, aparelhos para uso doméstico (163,8%) e insumos minerais (114,6%). Embora tenham enfrentado uma queda de 2,9% nas vendas de seus produtos para o Brasil, os EUA continuam como o principal país fornecedor, recebendo US$ 3,6 bilhões no bimestre, seguidos por China (US$ 3,2 bilhões) e Argentina (US$ 1,9 bilhão).