Título: Crise mundial ameaça mais projetos no país
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2009, Empresas, p. B5

A suspensão do projeto de instalação de uma siderúrgica no Espírito Santo, tomada na semana passada pelos sócios Baosteel e Vale do Rio Doce pode gerar um "efeito dominó" na indústria de aço do país, avaliam fontes do governo. As usinas continuam cortando produção para enxugar a oferta, o que está levando o grupo ArcelorMittal a uma queda-de-braço com sua filial brasileira, a ArcelorMittal Tubarão, porque quer parar mais um alto- forno da empresa, o de número 3, inaugurado no final de 2007. Silvia Costanti / Valor

Roger Agnelli, presidente da Vale, que tomou decisão com Baosteel de cancelar CSV e tem usinas previstas no Pará e Ceará

A difícil situação se estende ao setor de ferro-gusa. Luis Guilherme Monteiro, diretor financeiro da Cosipar, disse ao Valor que os guseiros estão sofrendo restrição de crédito dos bancos e falta de encomendas do exterior. Isso está levando à paralisação de 70% dos alto fornos de gusa de produtores independentes nas regiões Sul e Sudeste e 41% no Norte.

Na sexta-feira, a Vale confirmou notícia antecipada pelo Valor de que ela e a chinesa Baosteel, maior siderúrgica da China, haviam optado por liquidar a Companhia Siderúrgica de Vitória (CSV). "A crise econômica global, que afetou a cadeia levando as siderúrgicas de todo o mundo a uma forte redução da produção de aço, bem como a mudança dos cenários para o próprio projeto, levaram a Baosteel a propor o cancelamento do projeto e a liquidação da CSV", informou nota da Vale. Roger Agnelli, presidente da mineradora, esteve em dezembro na China, onde se reuniu com a cúpula da Baosteel para decidirem o destino do empreendimento, depois que o governo do Espírito Santo vetou a construção da planta no pólo industrial de Ubu, em Anchieta (ES).

A mineradora, no comunicado, reiterou seu compromisso com o fortalecimento da siderurgia brasileira, reafirmando que continuará engajada no desenvolvimento e viabilização de novas siderúrgicas no Brasil. Além do projeto do Pólo de Anchieta (ES), a Vale ainda tem dois outros em estágio inicial: a Companhia Siderúrgica de Pecém, no Ceará, e a Usina Siderúrgica de Marabá (PA). Esta última produzirá bobinas e chapas grossas, com investimento de US$ 3,3 bilhões.

No Espírito Santo, estava programada a implantação de uma usina para fabricar numa primeira fase 5 milhões de toneladas de placas de aço. O investimento era de US$ 5 bilhões. Baosteel e Vale planejavam ampliar a produção da CSV para até 10 milhões de toneladas de placas de aço em 2014. Os chineses, que detinham 60% do negócio, estavam muito entusiasmados com o projeto, pois tinham como meta tornar essa unidade um centro de suprimento para suas usinas na China e para novas laminadoras que pretendiam adquirir nos Estados Unidos e na Costa Oeste da Europa.

A recessão mundial é, porém, uma ameaça concreta a estes planos de expansão do setor, avaliam fontes oficiais, temerosas de que a desaceleração econômica atinja até projetos costurados pela Vale com sócios estrangeiros. A maior preocupação é com o projeto da cearense CSP, que pode correr o risco de ser engavetado ou adiado. Até o momento, o único parceiro da Vale é a sul-coreana Dongkuk Steel. A japonesa JFE Steel, terceira maior siderúrgica do mundo, anunciou seu interesse na CSP. Mas apesar de ter assinado um memorando de intenção com as duas parceiras, em abril de 2008, a japonesa pretende aguardar o resultado do estudo de viabilidade da usina, em estado de conclusão até março, para se definir.

A JFE anunciou recentemente que vai cortar 25% da sua produção global de aço e informações de agências internacionais dão como provável sua desistência da sociedade na CSP e numa usina no Vietnã, caso o mercado do aço continue despencando. No mercado e no governo persistem dúvidas sobre o destino da usina cearense se a JFE não aderir. O investimento é de US$ 6 bilhões.

A siderúrgica de Marabá está em fase de estudos conceituais, para os quais contratou o grupo ThyssenKrupp. Até o momento, a Vale não anunciou um sócio para o empreendimento, que é um compromisso político assumido por Roger Agnelli, a pedido do presidente da República, com o governo do Pará. Uma fonte da Vale garantiu ao Valor que, apesar da recessão global, "este projeto não vai parar".

Há dúvidas no mercado quanto ao destino de outros investimentos ainda no nascedouro, como a usina da Techint no porto Açú, em São João da Barra, no Rio, sobre as usinas de Itaguaí (RJ) e Congonhas (MG), ambas da CSN. Itaguaí rola há anos na prancheta. Outras dúvidas recaem sobre expansões previstas pelo grupo Gerdau para a antiga Cosígua, no Rio, e para a Aços Villares, em São Paulo. Também a ArcelorMittal deve congelar projetos de duplicação em Juiz de Fora (MG) e em Cariacica (ES).

Dentre as novas usinas, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), da ThyssenKrupp e Vale, em Santa Cruz (RJ) deve sair do papel até o início de 2010. A siderúrgica de Resende, da Votorantim, deve inaugura a primeira fase no segundo semestre, com 500 mil toneladas. A Usiminas deve fazer até 2011 a primeira fase da siderúrgica de Santana do Paraíso (MG). A outra etapa, segundo disse Marco Antonio Castello Branco, presidente da empresa, ao Valor, foi adiada de 2012 para 2014.