Título: BC deve reduzir Selic para 13% na quarta-feira, prevê mercado futuro
Autor: Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2009, Finanças, p. C2

O mercado futuro de juros da BM&F consolidou o consenso de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central irá iniciar na quarta-feira um ciclo de baixa da taxa Selic já por meio de um corte de 0,75 ponto, tido como ousado. A expectativa de que o juro básico cairá de 13,75% para 13% já está "precificada" na curva futura de juros. Dependendo dos indicadores que surgirem de hoje até a tarde do dia 21 não se descarta a ampliação da aposta para corte ainda mais audacioso, de 1 ponto. Este maciço consenso de tesoureiros e gestores que fecham negócios no pregão de juros futuros não contagia plenamente os economistas de instituições. Entre estes, há defensores renomados e qualificados para três possibilidades, cortes de 0,50, 0,75 ou 1 ponto.

Não há entre eles uniformidade na expectativa sobre a magnitude total do relaxamento monetário. Argumenta-se em favor de um acumulado entre 2,5 e 3,5 pontos. E não há convicção sobre a maneira como o Copom deveria proceder, se da costumeira forma gradualista ou se inovando por meio de uma estratégia de choque das expectativas. Na verdade, diante da gravidade do contágio da crise externa sobre a economia real brasileira, o mercado está preparado para tudo e aceitará a decisão do BC. Mesmo se o Copom resolver cortar a taxa em 1 ponto - a opção menos votada pelos analistas - não haverá rebelião.

Saiu de cena a variável que convenceu o Copom no início de dezembro a adiar para agora em janeiro qualquer providência de flexibilização monetária: temor de repasse para os preços da alta de quase 50% sofrida pelo dólar no segundo semestre do ano passado. As pesadas deflações constatadas recentemente pelo grupo de indicadores do IGP, calculados pela FGV, trataram de dissipar esse receio. Não há repasse importante, nem haverá. Mesmo a corrente ultraconservadora e ultraminonitária segundo a qual todo o repasse começa a acontecer a partir de março emudeceu subitamente. Finda essa preocupação, não há nenhuma outra relevante no front inflacionário. O hiato do produto industrial está muito largo, os preços administrados estão sob controle, não há demanda para sancionar alta nos serviços e a pesada baixa das commodities neutraliza qualquer movimento de alta sazonal, como mensalidade escolar. A grande incógnita é favorável: se o governo resolver enquadrar os preços da gasolina à realidade do mercado, a projeção de IPCA, que já se encontra abaixo do centro da meta de 4,5%, irá facilmente deslizar para aquém dos 4% no acumulado do ano.

Alguns analistas conseguem encontrar um impedimento a uma ação imediata mais enérgica do Copom: como a economia atravessa nesse início de ano um "ciclo de estoques", a desaceleração econômica pode estar superdimensionada; só se saberá o tamanho efetivo da contração no momento em que as empresas começarem a repor os estoques; antes disso, não se pode exagerar na dose da descompressão monetária.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, vê espaço para um corte de 0,75 ponto na quarta-feira, com a Selic baixando de 13,75% para 13%, mas acredita que se houver algum risco é para baixo e não para cima, ou seja, se não for 0,75 ponto, será mais para 0,50 do que para 1 ponto. "Acho que o BC vai deixar mais espaço para poder ser mais ousado na reunião de março. A ata desta reunião de janeiro deverá ser mais amena em relação aos riscos e abrir espaço para cortes maiores e mais rápidos nas próximas reuniões. Por enquanto, mantenho 10,75% para o final do ano", diz Vale.

O ex-presidente do BC, Affonso Celso Pastore, embora tenha sido um dos primeiros economistas a advertir para as incertezas relacionados ao "ciclo de estoques", aponta alguns argumentos em favor de um corte mais vigoroso: as perspectivas de quedas adicionais da demanda, quer pelo encolhimento das exportações, derivado da queda dos preços de commodities e do encolhimento no quantum das exportações mundiais, quer pela queda da própria demanda doméstica; a redução das horas trabalhadas e a inevitável elevação do desemprego provocam o encolhimento da renda real das famílias; a percepção de riscos empurra o sistema bancário brasileiro a uma atitude extremamente conservadora na concessão de crédito, reduzindo prazos e elevando spreads; e o canal do crédito contribui para a contração da demanda, que será "tanto mais acentuada quanto menor for a queda da taxa real de juros".

O economista Paulo Gurgel Valente, diretor da Profit Consultoria, defende o retorno da periodicidade mensal das reuniões do Copom. Encontros a cada 30 dias, ao invés do prazo médio de 45 dias atual, permitem a imposição de um ritmo menor porém mais constante de queda. Se, ao invés de oito, o calendário anual passar a impor a realização de 12 reuniões, pode-se chegar mais rápido à magnitude total do ajuste requerido tanto para trazer a inflação à meta quanto evitar sacrifício inútil de PIB. Em seis meses, mesmo cortando a taxa ao ritmo modesto de 0,50 ponto por reunião, o BC atingiria os 3 pontos defendidos para o total do ano por parte do mercado.