Título: S.O.S.
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2010, Mundo, p. 34

Michelle Bachelet envia pedido oficial de ajuda à ONU. Lula chega ao país e promete hospital de campanha e equipes de salvamento

Lula, com Bachelet: ¿O Brasil será solidário com o povo chileno¿

Dois dias depois do terremoto que abalou o Chile e matou pelo menos 723 pessoas, a presidenta Michelle Bachelet anunciou que aceitará ajuda internacional para a reconstrução do país. O pedido oficial de assistência foi feito ao Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha). No sábado, a imprensa chilena entendeu que Bachelet havia descartado a necessidade de ajuda. Ontem, o chanceler chileno, Mariano Fernández, ressaltou que houve uma ¿apreciação jornalística equivocada¿. ¿Não é que o Chile se negou a receber ajuda, dissemos que não solicitaríamos enquanto não tivéssemos uma lista adequada dos objetivos para combater a catástrofe em que estamos.¿ Segundo ele, com a experiência de sismos anteriores, ¿é preciso ter mais precisão para que a ajuda tenha um sentido¿.

Com a lista pronta, a ajuda não se fez esperar. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voou de Montevidéu, onde assistiu ontem à posse do presidente uruguaio José Mujica, e viajou diretamente para Santiago. No aeroporto da capital chilena, foi o primeiro presidente a prestar solidariedade a Bachelet pessoalmente e prometeu que o Brasil enviará ajuda.

¿Nós vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para ser solidário ao Chile, como estamos sendo solidários ao Haiti¿, destacou Lula em seu programa de rádio semanal Café com Presidente. ¿O Chile tem uma vantagem: é um país mais estruturado, que historicamente vem vivendo com terremotos. Tem uma Defesa Civil mais preparada. É um pais mais rico. Mas, naquilo que for necessário, nós vamos ser solidários. O Brasil será solidário com o povo chileno e com qualquer outro povo que sofra qualquer catástrofe¿, completou. Pela manhã, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) definiu que a Marinha enviará um hospital de campanha e que equipes brasileiras de busca e salvamento serão enviadas num avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

A União Europeia (UE), por sua vez, anunciou que enviará ao Chile um módulo de assistência médica e outro de ajuda técnica. No domingo, a Comissão Europeia (CE), braço executivo do bloco de países, já tinha confirmado em Bruxelas que colocaria à disposição do governo chileno cerca de US$ 4 milhões para ajudar nos trabalhos de resgate e apoio aos afetados pelo desastre.

Em conversa telefônica com o chanceler chileno, a alta representante da UE para as Relações Exteriores, Catherine Ashton, destacou o profissionalismo do governo do Chile e disse que a ajuda econômica já está disponível. Bachelet também pediu o apoio da UE com pessoal de resgate, assistência médica, construção de pontes, potabilização de água, telecomunicações e reconstrução de infraestrutura. A solicitação foi enviada ao Centro de Controle e Informação (MIC) da CE, que o transmitiu aos 27 países que a integram. A empresa Air World Wide, especializada em calcular os custos de desastres naturais, estimou em R$ 26 bilhões o prejuízo com o terremoto.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, se encontrará com Bachelet hoje, depois de se reunir com a presidenta argentina, Cristina Kirchner. Hillary pernoitou em Buenos Aires, depois de também comparecer à posse de Mujica, e levará equipes de comunicações a Santiago. ¿Queremos mostrar o respaldo dos Estados Unidos ao povo chileno, conhecendo a realidade no terreno¿, disse Philippe Reines, um alto funcionário do Departamento de Estado que viaja com a secretária. Amanhã, ela segue para Brasília, onde se reúne com o chanceler Celso Amorim.

Vandalismo

Bachelet anunciou à tarde o envio de 7 mil soldados às regiões de Maule e Concepción(1). Ao saber dos problemas de segurança nas duas localidades, Bachelet apelou à consciência cidadã dos chilenos. ¿Sete mil efetivos (militares) são importantes e relevantes para as duas regiões¿, afirmou a chefe de Estado. ¿Não é aceitável a pilhagem e a delinquência¿, destacou. A presidenta informou que 5 mil homens se somariam ao grupo de mais de mil soldados que já se encontra em Concepción. A cidade também foi cenário de dois graves incêndios. O primeiro aconteceu no supermercado Alvi, e o segundo, na loja La Polar, ambos provocados por jovens que tentavam saquear os estabelecimentos. ¿Essa é uma situação realmente caótica e, aqui, há um grande exemplo do que acontece. Saquearam a loja por dois dias seguidos e já não temos como nos defender¿, disse o gerente da La Polar, Marco Riquelme, aos jornais locais.

Já a capital, Santiago, teria voltado à ¿normalidade¿, segundo o jornal chileno La Tercera, apesar de vários bairros ainda estarem sem eletricidade e as réplicas continuarem fazendo o chão tremer. Durante a manhã, um desses reflexos alcançou magnitude 5,3.

O embaixador do Chile no Brasil, Álvaro Díaz Pérez, explicou ao Correio que o país tem necessidades específicas em termos de ajuda. ¿Não precisamos de dinheiro, água ou comida. Precisamos de hospitais de campanha com equipamentos cirúrgicos, purificadores de água salgada, avaliadores de danos em prédios públicos e geradores de energia elétrica¿, enumerou. ¿Nós não estamos com problemas de geração de energia, mas de transmissão e distribuição, pois o terremoto destruiu parte do sistema de abastecimento¿, disse Díaz.

1 - Queda de avião Um pequeno avião modelo Piper que viajava com um grupo de seis pessoas a Concepción para prestar ajuda à população da cidade caiu na altura da localidade de Tomé, a 450km ao sul de Santiago. Toda a tripulação morreu: Marcelo Ruiz (piloto), Pablo Desbordes, Ignacio Fernández, Luis Ernesto Videla (ex-ministro de Interior), Juan Guillermo Moya e Rodolfo Becker. O grupo havia partido de Santiago às 12h28 de ontem e iria inspecionar o estado dos albergues destinados às vítimas do terremoto e dos tsunamis. Até o fechamento desta edição, a Direção Geral de Aviação Civil do país ainda não sabia informar as razões da queda.