Título: Lula descarta proposta de recriar câmaras setoriais
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2009, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não encampou a proposta do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT), Sérgio Nobre, de recriar as câmaras setoriais para discutir as demissões no setor automotivo. Durante reunião de aproximadamente uma hora, Nobre tentou mostrar ao presidente que as câmaras seriam um mecanismo eficaz para negociação entre trabalhadores, empresários e governo. Lula comprometeu-se, no máximo, a apoiar um seminário envolvendo os prefeitos da região do ABC, sindicatos e empresários, o que deve acontecer ainda em fevereiro.

Os sindicalistas têm claro a diferença central entre a proposta sonhada e a conquistada: a câmara setorial é um espaço para negociação e tomada de decisões concretas. O seminário terá a possibilidade de propor idéias. Mesmo assim, os sindicalistas acham que não saíram perdendo após o encontro com Lula. "A câmara pode surgir independentemente do governo federal. É claro que a participação da União dá um peso maior", disse o presidente do sindicato.

Para Nobre, a crise vem gerando informações imprecisas e desencontradas, o que só serve para aumentar o pânico. "Alguns falam em crescimento de 4%, outros em crescimento zero. Há quem fale em demissões generalizadas", disse ele, lembrando que seu sindicato continua com o mesmo volume tradicional de homologações de demissões - 450 por mês. "Mas algumas empresas que ainda não mandaram trabalhadores embora vêm nos procurar, o que é um sinal de que cortes poderão vir."

Na visão do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a flexibilização das relações trabalhistas, com redução da jornada de trabalho e diminuição de salário, se efetivada, diminuiria o poder de compra dos trabalhadores. Sem dinheiro, assinalou, não há consumo. Sem consumo, a recessão se instala e o desemprego aumenta.

"É muito barato demitir no Brasil. A multa de 40% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi incorporada aos custos da produção das empresas", afirmou o sindicalista.

Para embasar o argumento, Nobre lembra que nos países desenvolvidos as demissões começaram após um ano e meio de crise financeira. "Aqui estamos sofrendo há três meses e os empresários já estão cortando postos de trabalho." O sindicalista afirmou que os empresários não estão se dando ao trabalho sequer de esperar a conclusão do primeiro trimestre, apontado pelo governo e especialistas como o ponto crítico da crise no Brasil. "Por que eles não esperam? Porque sabem que depois vão recontratar o mesmo trabalhador pela metade do salário."

Por causa disso, o sindicalista defende a adoção das câmaras setoriais. Lançadas em 1992, elas foram importantes para impedir uma crise no setor automotivo, que enfrentava, naquela época, a abertura do mercado nacional às marcas importadas. O então presidente Fernando Collor chegou a dizer que no Brasil só havia a produção de carroças. "Todo o debate até o momento foi emergencial e pontual. Na câmara setorial, poderemos pensar em medidas para agora e para o futuro", disse Nobre.