Título: Governo argentino pede 1.500 MW ao Brasil
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2009, Brasil, p. A4
O governo argentino fez um novo pedido para importar energia elétrica do Brasil durante este ano e o Ministério de Minas e Energia (MME) está analisando a possibilidade. A decisão deverá ser tomada em fevereiro, segundo informou a assessoria de imprensa do ministério. A dúvida é se o Brasil fará um empréstimo como no ano passado, ou se venderá os 1.500 megawatts que estão sendo solicitados.
Os agentes do setor reclamam que é o consumidor brasileiro que terá de pagar a conta do empréstimo de energia feito em 2008. Isso porque alegam que um dos motivos que levaram o governo a manter as usinas termelétricas ligadas ao longo do primeiro semestre foi justamente o compromisso assumido de enviar energia à Argentina. Até agosto do ano passado, os encargos gerados pela manutenção das térmicas funcionando chegou a R$ 1,5 bilhão. Cálculos da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia Elétrica (Abiape) mostram que as térmicas ficaram ligadas durante os 12 meses do ano e geraram encargos de R$ 2,2 bilhões, um impacto de R$ 5,2 no preço do MWh.
Mas a exportação de energia não foi o único motivo para o despacho das térmicas. O fato é que as chuvas, principalmente no primeiro trimestre, estavam muito aquém de qualquer expectativa. Os reservatórios das usinas hidrelétricas estavam baixos e a economia brasileira vinha num crescimento extraordinário. Soma-se a isso as inúmeras frustrações de entrega de usinas, de falta de gás que teria de vir da Argentina para a térmica de Uruguaiana e da revisão das cotas de Itaipu. Havia um desequilíbrio entre oferta e demanda, fazendo com que o consumo estivesse além da capacidade de geração assegurada. A crítica reside justamente no fato de o Brasil ter decidido emprestar 1.500 MW para a Argentina naquele período.
O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, diz que o acordo de intercâmbio foi feito para quando houvesse energia sobrando, o que não era o caso do ano passado. "Para poder entregar a energia, tinha que deixar as térmicas acionadas", diz Sales. Mas como se tratava de um empréstimo, os argentinos não pagaram o preço de acionar essas usinas. Quando a energia foi devolvida, no segundo semestre, o Brasil já tinha uma situação mais confortável, com os reservatórios abastecidos.
Uma das propostas da Abiape é justamente de que o Brasil venda a energia termelétrica para a Argentina. A energia proveniente de hidrelétricas só deveria ser transmitida, sob forma de empréstimo, caso as usinas do Sul estejam com os reservatórios cheios, como neste momento. Como a capacidade de transmissão do Sul para o Sudeste é limitada, segundo o vice-presidente da Abiape, Cristiano Amaral, sobra água nos reservatórios que pode ir fora se não passar pelas turbinas.
O Ministério de Minas e Energia está pedindo sugestões dos agentes do setor elétrico sobre a forma de exportação ao vizinho. O temor principal dos agentes é de que em algum momento a Argentina não tenha capacidade de devolver a energia, caso seja feito sob forma de empréstimo. Se calhar de ao mesmo tempo o Brasil estiver passando por uma estiagem, o fornecimento fica comprometido e os preços sobem.
A necessidade de importar energia é um problema crônico da Argentina, que vem desde a histórica crise de 2002. De lá para cá o país cresceu cinco anos consecutivos e o consumo de energia explodiu sem ter uma contrapartida em investimentos em geração e distribuição. O sistema entrou em colapso em 2007.
No ano passado, a geração de energia elétrica na Argentina subiu para 21 mil MW disponíveis, ante os 18,5 mil de 2007. No entanto, o calor excessivo dessa época do ano faz com que todos acionem os equipamentos de ar-condicionado e leva a demanda a esgotar rapidamente a oferta. Em fins de novembro, início de dezembro, uma onda de calor de 40 graus elevou ao pico a demanda por energia elétrica para 18.600 MW. (Colaborou Janes Rocha, de Buenos Aires)