Título: Cautela no primeiro dia de Obama na Casa Branca
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 22/01/2009, Internacional, p. A8

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reforçou os sinais de que pretende governar com a mesma cautela que adotou na montagem da sua equipe e nos preparativos para o início do seu governo, evitando gestos grandiloqüentes que poderiam criar embaraço depois e resistindo às pressões que tem recebido para agir rapidamente em várias frentes. AP

Barack Obama conversa no Salão Oval da Casa Branca com seu chefe de gabinete, Rahm Emanuel, na sua primeira manhã de trabalho como presidente dos EUA

Em vez de fechar com uma canetada o campo de prisioneiros de Guantánamo logo no primeiro dia de trabalho, ele mandou na noite de terça-feira suspender por 120 dias o julgamento de 20 acusados de terrorismo que estão sendo processados pelos militares americanos. O fechamento do presídio pode demorar até um ano, porque ele quer definir antes o destino dos 245 presos que ainda estão ali.

O presídio de Guantánamo, que funciona numa base militar americana na ilha de Cuba, virou símbolo dos abusos cometidos pelo ex-presidente George W. Bush no combate ao terrorismo e uma mancha na reputação internacional dos EUA. Obama prometeu na campanha eleitoral que fechar a prisão seria uma das suas primeiras iniciativas após a posse.

Depois de semanas evitando interferir no conflito entre Israel e os palestinos em Gaza, Obama telefonou ontem para o primeiro-ministro de Israel, o presidente da Autoridade Palestina e os líderes do Egito e da Jordânia. Segundo a Casa Branca, ele prometeu trabalhar para promover a paz na região e ajudar a reconstruir as áreas de Gaza destruídas pelos ataques de Israel.

Sob pressão dos mercados financeiros e do Congresso para adotar novas medidas em favor do combalido sistema bancário americano, Obama reuniu-se com sua equipe econômica para discutir o assunto. Mas assessores do presidente indicaram que provavelmente será preciso esperar algumas semanas para saber quais medidas serão implementadas.

O futuro secretário do Tesouro, Timothy Geithner, que foi sabatinado ontem pelo Senado, disse que há várias opções em estudo para capitalizar os bancos e reativar a oferta de crédito na economia, mas evitou dar detalhes. Ele disse que não gostaria de repetir os erros cometidos no ano passado, quando medidas anunciadas pelo governo foram abandonadas logo depois, alimentando incertezas.

Obama tem autorização para gastar a segunda metade dos US$ 700 bilhões liberados pelo Congresso em outubro para ajudar bancos e outras instituições financeiras em apuros. A primeira metade foi gasta no governo Bush. Obama estuda medidas para forçar os bancos a renegociar dívidas de mutuários em dificuldade e para ajudá-los a se livrar dos ativos que apodrecem nos seus balanços.

O Congresso americano deve colocar em votação na semana que vem o pacote de estímulo econômico proposto por Obama e seus aliados no Partido Democrata, que prevê US$ 825 bilhões em cortes de impostos e investimentos do governo para evitar o aprofundamento da recessão que o país atravessa. Líderes da oposição republicana, que se dizem preocupados com os custos do plano e duvidam da eficácia de algumas medidas, devem se reunir hoje com Obama para oferecer alternativas.

Ontem, o presidente anunciou como suas primeiras iniciativas após a posse várias medidas de natureza administrativa. Ele mandou congelar os salários de assessores que ganham mais do que US$ 100 mil por ano e baixou normas para dar mais transparência aos atos do governo e administrar casos de conflito de interesse que surgirem durante sua administração.

Segundo o decreto assinado por Obama, funcionários que trabalhavam como lobistas antes de entrar no governo não poderão atuar nas áreas onde defendiam os interesses de seus antigos empregadores, e quem sair para voltar à iniciativa privada será impedido de usar a influência sobre os antigos colegas de governo para pedir favores.

Obama também assinou ontem um decreto que restringe a capacidade que ele e os membros do seu gabinete terão de limitar o acesso a documentos e outras informações que o governo é obrigado por lei a preservar e tornar públicos depois de alguns anos. Bush tentou impedir a divulgação de vários documentos produzidos durante os oito anos da sua administração.