Título: Cemig quer crescer no negócio de gás e petróleo
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2009, Empresas, p. B9
Em dezembro, a Cemig deu seu primeiro passo rumo ao negócio de petróleo e gás ao arrematar seis blocos de exploração na 10ª Rodada de Licitações promovida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Neste mês, a direção da Cemig deu sinais de que essa é uma área que será fortalecida dentro da companhia, que quer ser mais do que uma empresa de distribuição, geração e transmissão de energia elétrica. Na última terça-feira, os acionistas foram convocados para uma assembléia geral a ser realizada no dia 9 de fevereiro para aprovarem a criação do cargo de diretor de gás.
Sob esta diretoria ficariam todos os negócios que envolvem exploração, distribuição, aquisição, armazenamento, transporte, transmissão, e comercialização de petróleo e gás ou de sub-produtos e derivados. A Gasmig, empresa de distribuição de gás que há anos pertence à Cemig, também ficará sob o guarda chuva desse nova diretoria.
São várias as justificativas apresentadas pela Cemig para a criação da nova diretoria, inclusive o fato de a Gasmig já não ser um novo negócio para a empresa e mesmo assim continuar a cargo do diretor de novos negócios, José Carlos de Mattos. Além disso, na exposição de motivos a empresa diz que como é uma companhia energética deve fortalecer o negócio gás e incorporar o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, especialmente o petróleo. "Os negócios gás e petróleo, quando tratados de forma conjunta, promovem e desenvolvem sinergias nos processos de pesquisa, prospecção, exploração e comercialização", diz a companhia na proposta apresentada aos acionistas.
Os investimentos previstos para levar adiante a prospecção de gás e óleo das áreas licitadas pela ANP são da ordem de R$ 37 milhões. Desse total, a Cemig é responsável por 24,5% ou R$ 9 milhões. Esse percentual é o correspondente à sua participação no consórcio que arrematou seis blocos localizados nas bacias Potiguar, no Rio Grande do Norte, Recôncavo, na Bahia, e São Francisco, em Minas Gerais. Entre os sócios da Cemig nesta empreitada estão a Orteng, Comp e Sipet.
O leilão foi realizado no dia 18 de dezembro e, segundo comunicado da Cemig, na época um dos motivos de ter participado do leilão era a importância de buscar alternativas para assegurar o suprimento de gás tanto para a distribuição por meio da Gasmig como também para futuros projetos de geração térmica. A empresa possui somente duas usinas termelétricas em seu portfólio, o que é muito pouco comparado às cerca de 40 hidrelétricas das quais possui participação, entre elas a usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, que quando entrar em operação será uma das maiores do país.
Na mesma assembléia convocada para fevereiro, a Cemig propõe ainda elevar consideravelmente o valor mínimo permitido de investimentos e contratos sem que haja necessidade de deliberação por parte do Conselho de Administração. O valor mínimo estabelecido em estatuto hoje é de R$ 5 milhões e a idéia é de que esse valor chegue a R$ 14 milhões - valor superior ao que se comprometeu investir nos blocos arrematados no leilão da ANP.
Para se ter uma base de comparação, a diretoria da CPFL, segundo seu estatuto, tem liberdade para fazer negócios até o limite de R$ 20 milhões. A Neoenergia é bem mais conservadora e o limite é de apenas R$ 1,5 milhão. Já a diretoria AES Eletropaulo tem liberdade de aplicar sem consultar seu conselho até R$ 30 milhões. O presidente da AES Eletropaulo, Britaldo Soares, inclusive, detém hoje assento no Conselho de Administração da Cemig, representando a Southern Electric Brasil Participações (SEB), de propriedade da americana AES, e que possui 32,96% do capital votante da companhia mineira.
A Cemig é controlada pelo governo do estado de Minas Gerais e é hoje uma das maiores companhias de energia do país. Em faturamento, até setembro (conforme o último balanço divulgado) só perde para a Eletrobrás. Até o terceiro trimestre do ano passado, tinha faturado mais de R$ 12 bilhões. Seu lucro líquido nos nove primeiros meses ultrapassou R$ 1,6 bilhão. Tinha disponível em caixa, em setembro, mais de R$ 3 bilhões e é dona de uma dívida bruta de R$ 7 bilhões.