Título: A estratégia é não ter pressa
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2010, Cidades, p. 44

Aliados de Arruda pedem a distritais da antiga base aliada o cumprimento dos prazos regimentais no processo de impeachment, para que o governador afastado possa se defender pessoalmente, caso seja solto

Paulo Roriz, um dos cinco integrantes da Comissão Especial, foi procurado por interlocutores de Arruda: ¿Não me submeto a nenhum tipo de pressão¿

A estratégia de aliados de José Roberto Arruda é tentar adiar ao máximo a votação do parecer favorável ao impeachment no plenário da Câmara Legislativa, na esperança de que o governador afastado seja libertado nesta semana e possa reconstruir a sua base de sustentação. A aposta é de que muitos deputados não resistiriam a uma reunião com Arruda, mesmo que ele permaneça afastado do comando do Executivo. Entre os distritais com posição favorável ao parecer do deputado Chico Leite (PT), aprovado por unanimidade na Comissão Especial na última sexta-feira, há deputados que nunca votaram contra interesses do Executivo, como Paulo Roriz (DEM), Batista das Cooperativas (PRP) e Cristiano Araújo (PTB).

Desde a semana passada, segundo versão de deputados, o chefe da Casa Civil, Eduardo Zaratz, e o secretário de Relações Institucionais, Edmilton Viana, procuraram distritais para pedir o cumprimento dos prazos regimentais e evitar a pressa na votação do processo de impeachment contra Arruda. A orientação partiu da equipe de advogados do governador afastado que defende a possibilidade de Arruda ter a chance de se defender pessoalmente. Desde a decretação da prisão, em 11 de fevereiro, pelo Conselho Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Arruda só tem conversado com a mulher, Flávia, os advogados e o secretário de Transportes, Alberto Fraga.

O chefe da Casa Civil disse que não houve qualquer tipo de pressão aos distritais. ¿Pedi apenas que os deputados cumpram o regimento da Câmara Legislativa e não atropelem os prazos, e que seja garantida a ampla defesa do governador. Nada além do previsto em lei¿, disse Zaratz, ex-subchefe da Casa Civil que assumiu a chefia da pasta com o afastamento de José Geraldo Maciel, um dos investigados pela Operação Caixa de Pandora. Zaratz disse ontem ao Correio que vai deixar o governo para assumir cargo na executiva regional do PV.

Pedido de vistas

Deputados não revelam de quem partiu o pedido, mas na sexta-feira, dia em que a Comissão Especial votou o relatório do deputado distrital Chico Leite pela admissibilidade do impeachment, Paulo Roriz, Batista e Cristiano foram procurados por interlocutores de Arruda. A intenção era de que um deles pedisse vista do caso, adiando a votação. ¿Não me submeto a nenhum tipo de pressão¿, limitou-se a dizer Paulo Roriz ontem, quando consultado pelo Correio. Cristiano também não quis comentar o assunto, mas disse a deputados que se sente muito pressionado a mudar posição contra Arruda. Presidente da Comissão Especial que trata do impeachment, ele tem adotado a postura contrária à estratégia de aliados de Arruda.

Cristiano queria colocar em votação dois dias antes o parecer do petista pelo impeachment, ocorrida na sexta-feira, e defendeu prazos mais curtos para a abertura de processo por crime de responsabilidade, o que condenaria Arruda a tomar uma decisão ainda nesta semana sobre eventual renúncia para escapar da pena de inelegibilidade por oito anos. Ontem, no entanto, a Procuradoria-Geral da Câmara Legislativa defendeu, em parecer, que o processo só é iniciado quando o caso retornar ao plenário, depois da apresentação da defesa de Arruda. O governador afastado ganha, com isso, 43 dias para tomar uma decisão.

Entre aliados de Arruda, há uma expectativa de que Batista das Cooperativas peça vista do projeto na sessão de quinta-feira, quando o caso será apreciado em plenário. Ontem houve um adiamento da sessão, marcada até as 13h de ontem para hoje. Houve um entendimento entre os distritais de que havia necessidade de publicação no Diário Oficial da Câmara do edital com a convocação dos suplentes ¿ que vão votar no lugar dos deputados investigados, conforme decisão judicial ¿ e do relatório aprovado na Comissão Especial, num prazo de 48 horas antes da realização da votação sobre o impeachment. Dessa forma, a sessão foi transferida para quinta-feira, data em que será julgado no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) o mérito do habeas corpus em que será discutida a liberação de Arruda da prisão.

Líder do governo Arruda até a prisão do governador afastado, Batista admite que o pedido de vista é previsto no regimento da Câmara Legislativa, mas nega que pretende atrapalhar a sessão no plenário da Casa. ¿Nunca tive contato com ninguém do governo e não sofri qualquer tipo de pressão. Falei com o governador pela última vez cinco dias antes da prisão sobre projetos de interesse do Executivo na Câmara¿, afirmou Batista. ¿Nunca, em nenhum momento, pensei em pedir vista¿, sustentou.

Um dos deputados governistas que vinham marcando posição pró-impeachment, Bispo Renato (PR) perdeu ontem o cargo antecipadamente. Ele é suplente do deputado Aguinaldo de Jesus (PRB), que estava licenciado para exercer a função de secretário de Esportes. Aguinaldo deveria retornar ao mandato apenas em abril, quando teria de se desincompatibilizar para concorrer nas próximas eleições. Ele, no entanto, decidiu retomar o mandato ontem.

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Defesa crê em manipulação Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 12/2/10 Machado, advogado de Arruda: ¿Há gravações que nos deram a impressão de que as imagens estão entrecortadas¿

O advogado Nélio Machado, responsável pela defesa do governador licenciado do Distrito Federal, José Roberto Arruda, disse que existem indícios de que os vídeos sobre um suposto esquema de pagamento de propinas gravados por Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais, foram manipulados. Ele afirmou que caberá aos peritos da Polícia Federal atestar de forma convincente a não manipulação do material.

¿Há gravações que nos deram a impressão de que as imagens estão entrecortadas e outras em que não se percebe claramente a fala (dos envolvidos). Por isso, o Instituto Nacional de Criminalística precisa atestar de forma convincente a não manipulação desses vídeos¿, disse o advogado à Agência Brasil.

Machado argumenta que em alguns trechos do inquérito ¿existem solicitações de desligamento de escutas ambientais feitas por Durval Barbosa¿, o que geraria, segundo o advogado, suspeitas sobre a forma como o ex-secretário do governo estaria conduzindo as gravações. ¿Essas imagens sequer refletem o contexto em que foram gravadas¿, argumenta.

Três semanas

De acordo com a Polícia Federal, cerca de 30 vídeos estão sendo analisados pelo Serviço de Perícias em Audiovisual e Eletrônicos do INC, mas ainda não há resultados conclusivos sobre eles, o que só deve ocorrer daqui a três semanas. ¿Os peritos criminais federais dominam técnicas que os permitem afirmar de forma categórica e convincente se houve ou não manipulação desses vídeos¿, garante o presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Octavio Brandão.

O advogado disse estar confiante nas argumentações que serão usadas na defesa do habeas corpus de Arruda na próxima quinta-feira, durante o julgamento do pedido pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). ¿Usaremos argumentos que mostrarão que a prisão é desnecessária e severíssima¿, acrescentou.

Segundo ele, não faz parte da estratégia de defesa alegar problemas de saúde do governador afastado. ¿Apresentaremos apenas razões jurídicas e não emocionais, sem apelar para a questão da saúde¿, disse. Machado informou que os problemas de pressão alta de Arruda ¿estão controlados¿. No entanto, afirmou que ¿houve um dia em que ele apresentou pressão baixa, chegando a marcar cinco por oito¿.

O advogado também voltou a afirmar que a PF tem dificultado o acesso do médico particular de Arruda ao paciente. ¿Médico é uma questão de confiança¿, frisou. Segundo a PF, no entanto, o governador afastado tem se submetido a exames médicos regulares.

O número 30 Quantidade de vídeos que serão analisados pelo Serviço de Perícias em Audiovisual e Eletrônicos do Instituto Nacional de Criminalística.

Bilhete com oração

Noelle Oliveira

Segunda-feira de pouco movimento na Superitendência Regional da Polícia Federal, onde o governador afastado José Roberto Arruda está preso. Com cerca de 15 minutos de atraso do horário habitual, a primeira-dama Flávia Arruda chegou às 12h48 com três sacolas, trazendo o almoço. Ela foi levada em um Fox vermelho com vidros escuros, no banco de trás do carro, acompanhada por duas mulheres.

Ao descer do veículo, Flávia se encontrou com um homem de bermuda escura e um oficial do Corpo de Bombeiros. Na saída, às 13h50, o carro de Flávia foi abordado por um missionário, que colocou uma Bíblia no chão para que o veículo parasse e ele pudesse entregar um bilhete à primeira-dama. O papel foi recebido pela motorista do carro, que arrancou rapidamente. Mais cedo, o padre José Mariano, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Taguatinga Sul, já havia tentado visitar o governador afastado, mas sem sucesso. ¿Vim trazer minha bênção para ele, já que se trata de uma pessoa como outra qualquer¿, explicou.

Opinião do internauta

Leitores comentaram no site do Correio Braziliense os desdobramentos da Operação da Caixa de Pandora. Confira algumas opiniões:

William Aragão ¿Vamos renovar o governo do Distrito Federal e do Brasil. Chega de vermos essas cenas de corrupção, vamos abrir os olhos. Fez besteira, está fora do governo e da política para sempre¿

Wesley Oliveira ¿Aquele bolo de dinheiro que o Arruda recebeu nas imagens era um panetone, também acho que foi manipulado. Tem quem quer achar chifre em cabeça de cavalo¿

Willekens Brasil ¿Roriz é o melhor estadista para estar junto de Arruda na PF, ainda não entendo o motivo dele estar solto¿

Laécio Alencar ¿A Justiça Federal, o MPF, a Polícia Federal, ou seja, todo mundo tem atestado de burro. Inteligentes são os advogados de defesa de Arruda. Fala sério, cara pálida¿

Felippe Gomes ¿Está todo mundo morrendo de medo de o governador sair da detenção. Tem gente demais devendo e a Justiça só quer saber do único que botou essa cidade na legalidade. Vão ao centro da Ceilândia, sumiu de novo por causa dos ambulantes. Estamos voltando no tempo¿

Iracema Moreira ¿Realmente, o papel do advogado é defender seu cliente. Mas usar de certas alegações é ser muito cara de pau. A PF não divulgou nem um terço dos vídeos, será que há montagem em todos?¿