Título: IIF busca recursos para emergentes
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2009, Finanças, p. C1

Bancos de 16 países fazem uma reunião sem precedentes hoje em Zurique, para examinar "soluções políticas e práticas" para que as economias emergentes como o Brasil possam ter fundos externos suficientes para atravessar a pior crise econômica das ultimas décadas. O International Institute of Finance (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, criou o "Conselho Consultivo dos Mercados Emergentes" no rastro da crise global, e promove a reunião inaugural na Suíça sob a presidência de Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú Unibanco, e de Ibrahim Dabdoub, presidente do National Bank of Kuwait.

Mas a mensagem parece clara. Com as grandes instituições financeiras na tormenta e tentando evitar o colapso, o IIF avisa que o grosso dos fundos deve vir em 2009 de fontes oficiais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Alerta ser "prioridade imediata" o FMI dobrar ou mesmo triplicar seus recursos para algo entre US$ 500 bilhões e US$ 750 bilhões. Tanto mais que prevê queda importante nos empréstimos bancários para as economias emergentes em 2009, numa dramática reversão no fluxo de capitais, que já fez vários países recorrerem ao FMI.

O total de crédito dos bancos estrangeiros aos emergentes alcança atualmente US$ 4,5 trilhões, e o IIF estima que somente uma pequena fração tem risco. Apesar disso, sua previsão é de que os empréstimos bancários para essas economias declinarão para US$ 135 bilhões este ano, comparado a US$ 400 bilhões em 2007 e US$ 245 bilhões em 2008.

No meio do enfraquecimento dos grandes bancos internacional, enfrentando crescentes perdas, ativos ilíquidos e deterioração das carteiras de empréstimos, restam as organizações multilaterais para socorrer os emergentes. Para a banca privada, a demanda por créditos do FMI poderá "exceder facilmente" os US$ 200 bilhões de que o fundo dispõe para desembolso imediato. Somente uma nova linha de crédito do Fundo, o "short-term liquidity facility" (SLF), dispõe de US$ 52 bilhões adicionais, mas a demanda poderá ser três vezes maior e alcançar US$ 150 bilhões. O dinheiro para essa linha de crédito precisa ser obtido junto a 11 países, para o Fundo fazer o desembolso a nações com boas políticas econômicas sofrendo de problemas temporários de liquidez. O montante pode representar 500% das quotas de cada país no Fundo. Pelos "stand-by agreements", o FMI já emprestou US$ 40 bilhões para a Hungria, Islândia, Paquistão e Ucrânia. A expectativa é de que a procura pode chegar a US$ 200 bilhões, diante do aumento de candidatos potenciais com fortes dificuldades financeiras.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan, alertou sobre o risco de revoltas sociais em vários países mais afetados pela recessão, e conta como certo que mais nações vão buscar ajuda do Fundo, na Europa do Leste e também na América Latina, onde ele vê alguns à beira do abismo. Para o FMI, a situação fica mais dramática porque as perspectivas econômicas parecem bem piores do que se previa, tanto nos EUA e Europa, como também nos principais emergentes como China, Índia e Brasil. Até agora, o Fundo se comprometeu com empréstimos de US$ 50 bilhões para economias duramente afetadas pela crise, como Islândia, Belarus, Hungria, Letônia, Paquistão, Servia e Ucrânia. Atualmente, negocia com El Salvador e com a Turquia. No caso dos turcos, o pacote pode variar entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões. É a quarta vez que o país recorre ao Fundo numa década, depois que a crise global cortou seu acesso ao capital externo.

Para Strauss-Khan, se houver vontade política, pelo menos US$ 150 bilhões poderão ser obtidos sem muitos problemas pelo Fundo. O Japão está "considerando" contribuir com US$ 100 bilhões. Mas a banca privada acha que uma solução mais sólida deve ser desvinculada do debate sobre reforma das quotas dos membros do FMI, porque isso exigiria muito tempo com aprovação pelos órgãos nacionais, começando pelo Congresso americano.

Para o IIF, uma alta geral das quotas não é viável para aumentar a capacidade de recursos do Fundo e dar apoio aos emergentes, e outras soluções menos ortodoxas devem ser examinadas hoje em Zurique. A reunião terá a participação do Itaú Unibanco, Bradesco e BNDES do lado brasileiro, e de bancos da China, Índia, Coréia do Sul, Turquia, África do Sul, Egito, Hungria, Kuwait, Líbano, Mongólia, Polônia, Catar, Reino Unido, Estados Unidos e Venezuela. Dos EUA, um dos participantes é William Rhodes, vice-presidente sênior do Citigroup, que hoje tem valor de mercado inferior ao dos principais bancos brasileiros, em posição mais delicada do que de seus devedores.

Países ricos também podem ter de recorrer ao FMI. Na Grã-Bretanha, o líder da oposição, David Cameron, levantou a possibilidade de o país repetir o "humilhante"" pedido de socorro pelo FMI de 1976, diante da deterioração econômica e possibilidade de "default" por Londres. O primeiro-ministro Gordon Brown qualificou de "sem sentido" o temor do oposicionista. Estudos mostram que as monarquias britânicas deixaram regularmente de pagar seus débitos ao longo da história.

Também o Banco Mundial, outras instituições multilaterais e os principais bancos centrais vêm sendo pressionados a expandir seus programas aos emergentes. A International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial, dobrou os financiamento para comércio exterior, para US$ 18 bilhões. O Banco Europeu de Desenvolvimento prevê aumento de 20% nos empréstimos.