Título: Déficit externo é o maior desde 1998
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2009, Finanças, p. C1

O déficit em conta corrente somou US$ 28,3 bilhões em 2008, cifra que equivale a 1,78% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. Em termos absolutos, o resultado negativo é o maior desde 1998 e encerra um período de cinco anos de superávits, ocorrido entre 2003 e 2007. Na comparação com o PIB, porém, o déficit não é tão alto. Na média histórica, o déficit em conta corrente foi de 1,75% do PIB entre 1947 e 2008. O último resultado negativo havia sido em 2002, com 1,51% do PIB; em 2001, foi de 4,19% do PIB.

As contas correntes sofreram virada relativamente rápida. Em 2007, havia sido registrado superávit, com US$ 1,551 bilhão, ou 0,12% do PIB. De 2007 para 2008, portanto, houve variação de US$ 29,851 bilhões. Pouco mais da metade (51,2%) se deve à queda do superávit comercial, que passou de US$ 40,032 bilhões para US$ 24,746 bilhões entre um ano e outro. O segundo fator mais importante (responde por 38,3% da virada) foi o aumento das remessas de lucros e dividendos, que passou de US$ 22,435 bilhões em 2007 para US$ 33,875 bilhões em 2008.

A queda do saldo comercial se explica pelo incremento de 43% nas importações, que foram puxadas pelo aumento da demanda doméstica, e pela valorização da taxa de câmbio. As exportações cresceram 23% entre um ano e outro. O aumento das remessas de lucros e dividendos se deve a três fatores principais. Primeiro, a valorização da taxa de câmbio verificada até setembro de 2008, que fez os lucros se tornarem maiores, quando convertidos em moeda estrangeira. Segundo, os bons resultados colhidos pelas empresas, até a crise afetar o país. Terceiro, as filiais instaladas do Brasil remeteram mais recursos para cobrir prejuízos das matrizes no exterior, sobretudo nos segmentos automobilístico e financeiro.

Para 2009, a expectativa do BC é que o déficit em conta corrente sofra redução de 11,6%, fechando o ano em US$ 25 bilhões. Mas, na proporção com o PIB, deverá fechar em 1,75%, não muito diferente do 1,78% em 2008. O déficit deverá se estabilizar porque, em virtude da desvalorização do câmbio, o PIB em dólares tende a se retrair no período - passando de US$ 1,590 trilhão para US$ 1,404 trilhão, prevê o BC. "O passivo externo do país sofreu uma mudança importante nos últimos anos, o que faz com que os ajustes nas contas externas ocorram mais rápido", afirma Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC.

Hoje, a maior parte do passivo é formada por investimentos, que tendem a remeter menos lucros e dividendos quando a economia se desacelera. O BC prevê US$ 25 bilhões em remessas em 2009. Antes, a maior parte do passivo era formada por dívidas, que exigem o pagamento de juros independentemente do desempenho da atividade. Os pagamentos de juros da dívida devem sofrer ligeira expansão entre 2008 e 2009, de US$ 7,232 bilhões para US$ 9 bilhões. O déficit em turismo, de US$ 5,177 bilhões em 2008, deve cair para US$ 1,5 bilhão neste ano.

Em dezembro, o déficit em conta corrente foi de US$ 2,922 bilhões, abaixo dos US$ 3,8 bilhões previstos pelo BC. "A balança comercial foi melhor que esperávamos", disse Lopes, referindo-se ao superávit de US$ 2,301 bilhões no mês. As remessas de lucros e dividendos, porém, continuaram altas, com US$ 3,146 bilhões.