Título: BC garante 89% do dinheiro para ACC
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2009, Finanças, p. C1

Três meses depois de iniciar um programa para fornecer dólares para financiar o comércio exterior, o Banco Central (BC) responde por 89% dos recursos aplicados pelos bancos em operações de Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs). A expectativa, porém, é que esse percentual se reduza daqui por diante, já que os bancos tem relatado à autoridade monetária uma taxa de renovação de cerca de 50% das linhas de financiamento externo.

O BC começou a fornecer dólares para os bancos financiarem o comércio exterior em 20 de outubro, em um leilão que que colocou US$ 1,620 bilhão no mercado e tomou como garantia títulos da dívida externa. Os recursos dessa operação podiam ser usados tanto para financiar exportações quanto importações.

Em 5 de novembro, o BC mudou a estratégia e passou a financiar apenas as exportações. A autoridade monetária concede empréstimos em dólares aos bancos, com recursos das reservas internacionais, que são garantidos por operações de ACC. Desde então, o BC realizou cinco leilões, fornecendo US$ 7,130 bilhões aos bancos.

O volume de dólares injetado pelo BC nos bancos desde 5 de novembro equivale a 89% das operações de ACC efetivamente contratadas no período. Os dados do câmbio contratado, divulgados pelo BC, mostram que, entre 5 de novembro e 16 de janeiro, foram fechados US$ 7,979 bilhões em operações de ACC.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, tem afirmado que a instituição irá atender a 100% da demanda do mercado por dólares para a exportação. Os números comprovam que, sem o BC, o mercado teria virtualmente paralisado nos últimos meses.

Uma fonte diz, porém, que os bancos têm relatado um índice de renovação de 50% das linhas externas voltadas ao financiamento de exportações. Se essa taxa de renovação se mantiver, a tendência é que, daqui por diante, a participação do BC no total de financiamento de ACCs se torne menor.

Um dos problemas é que as linhas que foram retomadas são de prazos mais curtos e com custos mais elevados. Há disponibilidade razoável de recursos para prazos de até 90 dias, e as linhas com prazo de 180 dias se tornaram mais freqüentes. O prazo muito curto provoca o descasamento nas operações de financiamento ao comércio exterior, que normalmente têm prazos maiores do que 180 dias. Para compensar esse risco de descasamento, os bancos tendem a cobrar "spreads" um pouco maiores. É por isso que, desde novembro, o BC decidiu oferecer preferencialmente empréstimos aos bancos com prazo de um ano.

O diagnóstico do BC é que falta muito ainda para o mercado de câmbio se normalizar. Um dos problemas é que os custos aos tomadores finais de crédito seguem altos. Em parte, isso ocorre porque os bancos estão pagando mais caros suas captações internacionais. Mas também está sendo identificado um aumento do "spread", mesmo para clientes de primeira linha, em virtude da baixa oferta de recursos e da forte aversão a risco.

Um especialista pondera que, ao fornecer a maior parte dos dólares que os bancos precisam para lastrear os ACC, o BC dá uma folga para as instituições financeiras oferecerem outras linhas às empresas. É o caso, por exemplo, das operações de pagamento antecipado, que somaram US$ 5,097 bilhões desde 5 de novembro.

Mesmo com a atuação decisiva da autoridade monetária, as operações de ACC permanecem muito abaixo dos valores anteriores da crise financeira. Na segunda semana de janeiro, entre os dias 12 e 16, a média diária de operações de ACC foi de US$ 133,7 milhões. Na semana imediatamente anterior à quebra do banco Lehman Brothers, um marco na crise financeira, a média diária de operações tinha sido de US$ 393 milhões. A queda das exportações financiadas por ACC foi mais severa do que a queda das importações sem financiamento, cuja média passou de US$ 399 milhões para US$ 380 milhões entre um período e outro.