Título: Crise eleva o pessimismo entre CEOs
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2009, Internacional, p. A7

A confiança de CEOs (executivos-chefes) internacionais despencou quanto às perspectivas de negócios e eles agora só esperam uma solução para a crise financeira e econômica global ao longo dos próximos três anos.

É com uma crise global de confiança, retratada em pesquisa da consultoria PricewaterhouseCoopers, que boa parte da elite econômica e política mundial começa hoje o Fórum Econômico Mundial, de Davos (Suíça), para discutir o que pode ser o mundo pós-crise.

No pior nível de confiança desde 2003, quando a consultoria iniciou sua pesquisa anual, só 21% dos executivos de 50 países disseram crer em expansão de lucros nos próximos 12 meses, contra 50% na pesquisa do ano passado.

Samuel DiPiazza, presidente da PricewaterhouseCoopers, disse que a rapidez e a intensidade da recessão atingiram o lado psicológico dos executivos, deflagrando um pessimismo generalizado.

No curto prazo, os executivos estão concentrados em crédito, liquidez e custos, forçando o adiamento de investimentos e de expansão. E a estratégia para preservar negócios é maximizar retornos de mercados existentes, e não expandir em novos mercados.

Quase 70% dos executivos responderam que suas empresas serão afetadas pela crise de crédito. Companhias nos setores bancário, construção, entretenimento e automotivo são as mais afetadas.

"Os CEOs estão mais preocupados com a sobrevivência imediata de suas empresas. Até em países emergentes que cresciam rapidamente, as empresas estão enfrentando problemas de falta de crédito, mercados de capitais lento, colapso da demanda", diz DiPiazza.

Esse sentimento deve ser confirmado a partir de hoje em Davos, quando 2.500 participantes discutem a crise. Cerca de 40 chefes de Estado e de governo estarão presentes, juntamente com mais de mil altos executivos, todos ainda surpresos pela dimensão da crise.

"A severidade e a duração da recessão são difíceis de prever e os executivos estão equilibrando os desafios de gestão bem sucedida no meio da queda de atividade e ao mesmo tempo continuar se preparando para a retomada", disse.

A PricewaterhouseCoopers constata que governos e líderes empresariais foram pegos "despreparados" para enfrentar a crise global. Somente agora os executivos começaram a reconhecer o impacto completo da crise de crédito sobre a economia global. E a mudança de sentimento traz como primeira reação a decisão de congelar investimentos e fazer demissões nos próximos 12 meses.

Não é só a escalada da "carnificina" que pegou os CEOs de surpresa, mas também a extensão do contágio, o que mostra a que ponto os mercados estão conectados.

No ano passado, os CEOs nos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) ainda pareciam bem menos pessimistas quanto ao impacto da desaceleração econômica global, mas agora reconhecem que seus países foram contagiados pela crise.

No Brasil, 33% dos CEOs se mostraram mais confiantes, acima da média de seus colegas no exterior, e 57% crêem nas perspectivas de seus setores, contra 20% globalmente. Os brasileiros dizem estar prontos a usar mais trabalhadores temporários e estão mais preocupados com infra-estrutura do que com custo de energia, escassez de recursos naturais e protecionismo.

Globalmente, entre os CEOs que ainda acreditam em ampliação dos negócios, o plano é usar o fluxo de caixa interno e só depois buscar financiamento externo.

No meio da falta de capital e incertezas sobre o valor dos ativos, as empresas vão preferir colaboração na forma de joint-ventures e alianças estratégicas, em vez de fusões e aquisições como no passado. "Reexaminar planos" está na ordem do dia, para saber o que negócio de sucesso significa a partir de agora.

Executivos de todo o mundo disseram que procuram reduzir custos de energia com operações mais eficientes. Manifestaram ainda preocupação com a falta de talentos. Os brasileiros acham que o governo tem sido pouco eficiente em qualificar a força de trabalho.

Tambem reconhecerem um "enorme fosso" na informação necessária para gerir risco e o sucesso de longo prazo. Ou seja, melhor informação é necessária, ainda mais no meio da crise.