Título: Ações de bancos disparam nos EUA e Europa com esperança de ajuda
Autor: Shellock , Dave
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2009, Finanças, p. C2

As ações do setor financeiro ganharam força no mundo todo, ontem, proporcionando grandes altas aos mercados de ações, por causa do aumento das expectativas de que o governo dos Estados Unidos está prestes a criar um "banco ruim" ("bad bank") para cuidar dos ativos tóxicos.

Steve Barrow, estrategista do Standard Bank, observou que essa medida já vinha sendo comentada há algum tempo. "Mesmo assim, com um plano de estímulo de US$ 825 bilhões já a caminho do Congresso, pode haver claramente uma esperança de que a administração Obama começou botando para quebrar - o que poderá se mostrar positivo para o sentimento do mercado de ações, positivo para a tomada de riscos e, ironicamente, negativo para o dólar se a tomada de riscos aumentar."

Mas Neil Mellor, do Bank of New York Mellon, alertou que no momento o cenário no mercado não leva a um aumento sustentado da tolerância ao risco. "Desempenhos desiguais e mudanças no sentimento a cada semana vêm se tornando a norma desde que a crise de crédito explodiu sobre os mercados no quarto trimestre de 2008", disse ele. "A volatilidade é um subproduto inevitável das tentativas de descontar o fundo do poço do ciclo econômico, mas isso está sendo exacerbado pela natureza extraordinária e as dimensões da atual recessão."

O dólar e o iene estiveram sob pressão ontem, com a demanda das duas moedas diminuindo na medida em que as ações avançavam. Analistas disseram que o dólar poderá ser ainda mais pressionado se o Federal Reserve (Fed) anunciasse ontem um programa de compra de títulos do Tesouro dos EUA de longo prazo, após sua reunião para discutir a política monetária.

Ashraf Laidi, da CMC Markets, admitiu que o dólar poderá sofrer uma grande queda se o Fed não explicitar tal medida. Mas ele acrescentou que a promessa do banco central americano de manter as taxas de juros excepcionalmente baixas por algum tempo, continua sendo "um lembrete fundamental para o mercado vender a moeda americana a cada onda de melhoria do apetite pelo risco, uma vez que o juro zero serve de base confiável para carry trades".

Nos mercados de câmbio, o dólar caiu 0,7% contra o euro mas subiu em relação o iene, uma vez que a moeda japonesa sofreu uma queda generalizada.

A libra esterlina ampliou os ganhos recentes, beneficiada pelo desempenho particularmente forte das ações bancárias britânicas. A ação do Lloyds Banking Group subiram 50% e as do Royal Bank of Scotland saltaram 35%, em meio a esperanças de uma maior estabilidade no setor.

As ações financeiras tiveram ganhos praticamente generalizados e forneceram o principal ímpeto aos mercados de ações.

O setor bancário pan-europeu subiu mais de 11%, com o índice FTSE Eurofirst 300 ganhando 3,2% - a maior alta em um único dia no ano até agora. Em Londres, o FTSE 100 subiu 2,4%. Em Wall Street, as ações do setor financeiro também registraram grandes ganhos.

A Bolsa de Valores de Seul liderou a alta dos mercados asiáticos, com o índice Kospi avançando 5,9%. As ações australianas subiram 1,5%; em Tóquio, o índice Nikkei 225 avançou 0,6%.

O melhor sentimento em relação as ações refletiu em uma redução dos spreads de crédito. O índice investment grade Marki iTraxx Europe caiu 4 pontos-base para 152 pontos-base, enquanto o índice Market CDX North America registrou o ponto mais baixo em 11 semanas, 190,5 pontos-base, com queda de 8,5 pontos-base sobre o fechamento de terça-feira.

Os bônus do governo dos Estados Unidos receberam suporte dos comentários sobre o programa do Fed de aquisição de Treasuries de longo prazo. O rendimento da nota de 10 anos caiu 3 pontos-base, para 2,55%, enquanto o rendimento do títulos de 30 anos caiu 4 pontos-base para 3,26%.

Os bônus da zona do euro também avançaram ontem, com o rendimento do Bund de 10 anos caindo 1 ponto-base para 3,26%. A ponta mais baixa da curva foi ajudada por dados preliminares que mostraram que a inflação alemã caiu à taxa anual mais baixa em cinco anos - facilitando o caminho para novos cortes de juros pelo Banco Central Europeu (BCE).

Nas commodities, os negócios com petróleo foram agitados depois que dados sobre os estoques nos EUA mostraram um aumento maior que o previsto nos estoques de óleo bruto na semana passada. Na ICE, o petróleo do tipo Brent subiu US$ 0,47 para US$ 44,20 o barril. O ouro caiu abaixo dos US$ 900 a onça, com uma queda na procura do metal como segurança para a queda de outros ativos.

O índice Baltic Dry, uma medida de grande parte dos custos de embarque de commodities, subiu pela sétima sessão seguida.