Título: Plano dos EUA para ajudar bancos pode chegar a US$ 2 tri
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Fonte: Valor Econômico, 29/01/2009, Finanças, p. C10
Os funcionários do governo americano envolvidos com a proposta de ajuda ao setor financeiro dos EUA discutiram gastar entre US$ 1 trilhão e US$ 2 trilhões para ajudar na recuperação dos bancos, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
O governo do presidente Barack Obama está se debatendo sobre como estancar a atual perda de confiança no sistema financeiro, enquanto estuda como gastar os restantes US$ 350 bilhões do programa de alívio a ativos problemáticos, ou Tarp na sigla em inglês, cujo total é de US$ 700 bilhões, ou se o governo precisará gastar mais.
A Casa Branca ainda não decidiu o formato final de sua nova proposta e, por isso, os detalhes exatos podem mudar. A equipe do governo continua a lutar com um elenco de questões complexas. Entre as mais prementes: como consertar as instituições financeiras sem acabar sendo dono delas.
A equipe do governo pode anunciar o plano em poucos dias e deve adotar uma série de medidas para fortalecer os bancos, inclusive injetar mais dinheiro neles e aliviá-los da carga de créditos de recebimento duvidoso e dos títulos desvalorizados. O chamado "banco ruim" que compraria esses ativos receberia entre US$ 100 bilhões e US$ 200 bilhões do Tarp, com o restante do dinheiro sendo obtido tanto pela venda de dívida garantida pelo governo quando por empréstimos do Federal Reserve, o banco central dos EUA.
O objetivo geral do governo é deixar os bancos saudáveis o bastante para que comecem a emprestar de novo e encorajar os investidores a voltar a aplicar nas instituições financeiras. O pacote de socorro deve ser combinado com um plano de US$ 50 bilhões a US$ 100 bilhões para ajudar os mutuários em risco de perder a casa.
O novo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, disse ontem que quer evitar a estatização dos bancos se possível. "Gostaríamos de fazer o máximo para preservar esse sistema", afirmou. Mas com a situação enfraquecida dos bancos, com as ações debilitadas e as necessidades de capital altas, economistas e autoridades do governo dizem que é improvável que os EUA consigam evitar algum tipo de nacionalização e é provável que o Estado acabe dono de alguns bancos temporariamente.
Para evitar nacionalizações em larga escala, o governo pode ter de adotar estratégias diferentes com base na saúde e na capitalização de um banco. O Estado poderia ser dono de uma participação grande, até majoritária, em bancos que estejam severamente descapitalizados, ao mesmo tempo em que permitisse que os razoavelmente saudáveis continuassem em mãos privadas.
O governo pode mudar a maneira pela qual injeta dinheiro nos bancos, optando por ações ordinárias em vez de preferenciais, como fez no Tarp, criado pelo ex-secretário do Tesouro Henry Paulson. Reforçar o capital social dos bancos é importante porque reforça o patrimônio. Os investidores acreditam que os bancos precisam encontrar maneiras de aumentar essa primeira linha de defesa em seus balanços patrimoniais.
Mas a compra de ações ordinárias aumenta as chances de que os bancos mais fracos acabem se tornando estatais. As ações de bancos estão tão baixas que qualquer investimento considerável do governo pode efetivamente dar-lhe o controle.
Como parece difícil evitar o controle pelo governo, a melhor estratégia é fazer com que os bancos "fiquem sob controle governamental bem forte o mais brevemente possível - basicamente tempo bastante para retirar os ativos podres e recapitalizar - e sejam vendidos de volta ao pleno controle privado o mais rápido possível", diz Adam Posen, vice-diretor do Instituto Peterson para Economia Internacional.
Outro meio que está sendo considerado para que o governo injete dinheiro nos bancos é a compra de obrigações conversíveis - com as quais receberia juros agora e ações ordinárias depois, assim que os bancos tiverem tido a chance de limpar seus balanços e acumular mais lucros. Alguns críticos dessa abordagem dizem que ela faria pouco para solucionar a atual escassez de capital social dos bancos.
O governo também está propenso a criar um "banco ruim", que compraria os ativos desvalorizados dos bancos, ajudando-os a evitar o risco de mais baixas contábeis. A determinação dos preços desses ativos ainda está em discussão e é uma questão complicada, que ajudou a afundar o plano do governo de George W. Bush de comprar ativos. Se os EUA pagarem um preço muito alto por eles, isso pode causar prejuízo aos contribuintes. Se pagar muito pouco, os bancos podem ter mais perdas.
Outra opção em discussão é fazer seguro contra perdas de alguns desses ativos. Foi essa a rota que os EUA seguiram nos resgates do Citigroup e do Bank of America. Fazer seguro desses ativos limitaria o montante de recursos que os bancos perderiam mas não removeria os títulos e empréstimos de seus balanços.
Charles Calomiris, professor da Universidade de Columbia, disse que essa abordagem é mais favorável porque deixa os ativos em poder de empresas privadas enquanto dá aos investidores confiança para colocar dinheiro nessas instituições. "É preciso eliminar a preocupação dos acionistas em potencial de que os bancos ainda não chegaram ao fundo do poço", disse Calomiris. "Tirar os ativos duvidosos dos balanços ajuda a resolver esse problema mas fazer seguro contra perdas poderia ter um efeito positivo enorme e acabar custando quase nada."