Título: Em ano de crise, diferencial no balanço foi candidatura Dilma
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2008, Política, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva revisitou, na última sexta-feira, uma tradição que iniciou em 2006: um café da manhã de final de ano para confraternizar-se com os repórteres que fazem a cobertura da Presidência da República. No encontro deste ano, o presidente manteve o tom ameno e informal dos anos anteriores, brincou muito, fez piadas e desejou um bom Natal para todos. Sérgio Lima / Folhaimagem

Lula: presidente diz que decisão sobre candidatura da ministra não é definitiva

Um tema não abordado no encontro de 2007, teve presença forte este ano: a candidatura da ministra Dilma Rousseff a presidente da República. O presidente disse que ainda não conversou com ela sobre o assunto, "porque quando conversar vai ser uma conversa definitiva". Mas admitiu que a está testando, que ela não enfrenta resistências dentro do PT e sugeriu, diretamente ao partido, que ela tenha mais espaço para dar entrevistas, até como forma de se tornar mais conhecida.

No restante do discurso, houve outras coincidências nos debates que levantou, sobretudo na área da economia. Ano passado a crise não estava aguda como agora, mas os temas hoje atuais já eram mencionados: crise financeira, falta de crédito e necessidade de anúncio de novas medidas.

Em 2007, o governo amargava a derrota da votação CPMF no Senado. Em 2008, a falta de crédito no Brasil é sintoma da crise internacional, que enxugou os recursos disponíveis especialmente para as empresas.

Tanto no ano passado quanto neste, o governo precisou anunciar medidas para suprir as carências orçamentárias. Lula disse, sexta-feira, que algumas medidas serão anunciadas ainda este ano para garantir a continuidade dos investimentos no primeiro trimestre do ano que vem.

Em 2007, Lula culpou a oposição, que derrotou a CPMF para "prejudicar eleitoralmente o presidente". Em 2008, foram os países ricos que entraram em crise, começando pelo subprime (ainda no ano anterior) e atingindo, a partir de setembro, os grandes bancos americanos, comerciais e de investimentos.

Em nenhum dos dois encontros com jornalistas, Lula adiantou que medidas poderiam ser tomadas para enfrentar os problemas. Este ano, para manter as expectativas do comércio, Lula disse que não anteciparia as medidas. No ano passado, as medidas para suprir a queda da CPMF foram anunciadas no dia 1º de janeiro. Lula e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, têm encontro marcado para 29 de dezembro - novidades podem sair desta reunião.

Coincidentemente, Lula também se viu obrigado a defender dois de seus principais auxiliares. Com a derrota da CPMF e a necessidade de medidas para cobrir o rombo no orçamento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, antecipou reduções de impostos mas foi desautorizado publicamente pelo presidente. Nada que o ameaçasse no cargo. No encontro de sexta-feira, o presidente reconheceu que a taxa de juros Selic deve cair, mas elogiou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Até o momento, a política monetária foi correta. Ele é inteligente, vai perceber o que precisa ser feito".

Lula também voltou à crise americana. No ano passado, ela ainda não atravessara ainda o Atlântico, "mas ninguém sabe onde ela vai chegar", dizia. Esse ano, todos sabem. Mesmo assim, o discurso foi otimista. Lula praticamente acertou o crescimento do PIB brasileiro em 2008, ao dizer que ele chegaria a 6,5% - até o terceiro trimestre, as projeções eram de fato alvissareiras. Foi obrigado a rever para 2009. Mas mantém o discurso dos 4%.