Título: Aldo e Ciro jogam na divisão e Temer aposta nas cúpulas
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2008, Política, p. A6

A sucessão do presidente da Câmara Federal, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para o próximo biênio (2009-2010), criou embaraços na base de sustentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT. Ao lançar Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o chamado "bloquinho" sinalizou ao governo federal que não aceita o acordo entre PT e PMDB para eleger Michel Temer (PMDB-SP), feito em 2007, para a eleição de Chinaglia. O PT desconfia da candidatura de Temer, lançada com o aval dos governadores tucanos Aécio Neves e José Serra, e dirigentes petistas temem um presidente da Câmara ligado aos tucanos comandando a Câmara nos dois últimos anos do governo Lula e cogitam o rompimento dos pemedebistas na composição da chapa para concorrer em 2010. Por fora, concorre o candidato do baixo clero, Ciro Nogueira (PP-PI).

A eleição do sucessor Arlindo Chinaglia (PT-SP) será em 1º de fevereiro, mas os três candidatos devem manter a campanha durante o recesso, lutando pela maioria dos votos dos 513 deputados. A candidatura de Temer, constitucionalista que já presidiu a Câmara duas vezes seguidas (1996 a 2000), no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ganhou dois reforços na semana passada: a formalização do apoio dos partidos de oposição (PSDB, DEM e PPS, além de PV e PTB) e a renúncia do Milton Monti (PR-SP), porque seu partido aderiu à campanha do pemedebista. Com isso, Temer terminou a semana com o apoio formal de 10 partidos.

O "bloquinho" de esquerda (PSB-PDT-PCdoB-PRB-PMN) lançou Aldo, ex-ministro das Relações Institucionais do presidente Luiz Inácio Lula e também ex-presidente da Câmara (2005 a 2007), no governo Lula, na tentativa de evitar a eleição de Temer no primeiro turno. A entrada de Aldo na disputa teve apoio de Nogueira, que aposta no segundo turno - e nas traições - para ganhar. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), não acredita nessa possibilidade. "Temer será eleito no primeiro turno", diz. Juntos, os 12 partidos que apóiam Temer têm 398 votos. "Pode até tirar todos os 80 do PT que não prejudicará", comentou um líder do PMDB. Uma vitória em primeiro turno exige o apoio de 257 deputados. "Ciro e Aldo não vão somar votos. Vão dividir", completa Alves. Por isso lançou a candidatura de Aldo, ex-ministro das Relações Institucionais e ex-líder do governo Lula e ex-presidente da Câmara. Aldo foi pessoalmente prejudicado pela aliança de 2007, porque estava no cargo, era candidato à reeleição e foi derrotado. Daquela vez, ele teve apoio do DEM, que agora está com Temer.

Apontado como o candidato do "baixo clero" - deputados com desempenho inexpressivo e alijados das principais decisões da Casa -, Ciro Nogueira diz que sua eleição daria ao governo "a melhor relação com a Câmara", já que não fará qualquer indicação para cargo no governo e não estabelecerá uma relação de "troca", que, na sua opinião, deve marcar uma eventual gestão de Temer. Para fazer a afirmação, baseia-se na histórica relação fisiológica do PMDB com o governo.

Presidente nacional do PMDB, Temer é o único entre os três candidatos que fala em "auxiliar" o governo nesses dois últimos anos de Lula. O presidente declarou apoio a ele e pediu ao PMDB que apoiasse a candidatura do petista Tião Viana (AC) para Presidência do Senado. Queria equilíbrio entre os dois principais partidos da base: o PMDB comandaria a Câmara e o PT, no Senado. Mas os senadores pemedebistas decidiram lançar candidato próprio - o atual presidente, Garibaldi Alves (PMDB-RN), foi o nome colocado na semana passada -, atrapalhando os planos de Lula.

Aliados do Planalto temem que, com a disputa entre PT e PMDB no Senado e a divisão na base aliada da Câmara, o governo fique sem um aliado fiel no comando das duas Casas. Aldo e Ciro defendem maior independência da Câmara - sem oposição, mas com limites às medidas provisórias e às propostas do Executivo e soberania dos deputados para votar mais matérias originadas do Legislativo, sem deixá-las engavetadas.

Para Aldo, mais que mudar a tramitação de medida provisória, a Câmara tem que assumir a decisão política de não aceitar MPs que não cumprirem os requisitos de urgência e relevância. Temer, por sua vez, acha que as MPs são "indispensáveis", mas podem ficar restritas a três ou quatro temas.

"Gaveta zero" é o que propõe Ciro, defendendo prioridade para projetos de deputados. No quarto ano de mandato, Ciro é o segundo secretário e está há oito ocupando cargos na Mesa Diretora. Disputa a presidência pela terceira vez e é ligado ao ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou em 2005.

Os três candidatos à Presidência da Câmara têm posições diferentes em relação à fidelidade partidária. Michel Temer concorda com a "janela" para permitir a troca na época do registro de candidaturas, mas por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Aldo Rebelo acha que a questão deve ser tratada no estatuto de cada partido. E Ciro Nogueira defende liberdade para o político mudar de legenda no fim de cada mandato. A seguir, trechos de entrevistas com os candidatos.