Título: Oi já prepara integração da Brasil Telecom
Autor: Magalhães , Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2008, Empresas, p. B3

A primeira coisa que o presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, pretende fazer quando assumir a Brasil Telecom (BrT) é analisar em detalhe as receitas, os custos e a estrutura financeira da companhia adquirida para, em seguida, colocar em prática a estratégia de integração das duas operadoras. "Vamos começar sentando no caixa", afirma. O executivo concedeu entrevista ao Valor na sexta-feira.

A expectativa de Falco é de que isso aconteça a partir de 6 de janeiro - data em que deve ser concluída a aquisição da BrT, com o pagamento dos R$ 5,9 bilhões oferecidos pelas ações dos fundos de pensão, do Citigroup e do Opportunity no bloco de controle da operadora.

Na quinta-feira, a Oi obteve autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para adquirir a BrT. O movimento dá origem a uma operadora com atuação nacional, controlada pelos grupos Andrade Gutierrez e La Fonte (Jereissati) e com grande participação do BNDES e de fundos de pensão.

A formatação da nova companhia já vinha sendo desenhada desde agosto, quando a consultoria Accenture foi chamada para trabalhar com o comitê executivo da Oi - integrado pelo presidente e quatro diretores. "Não dá para chegar lá e perguntar onde é o banheiro. Estamos fazendo estudos que vão nos proporcionar grande economia de tempo", ressalta Falco.

Segundo ele, o trabalho só será concluído depois que a aquisição estiver feita. "Até agora, fizemos simulações sem a participação da BrT, com base nas informações públicas da companhia. Quando assumirmos de fato, vamos ter acesso aos dados reais e só então saberemos se usamos as premissas corretas."

De qualquer forma, já algumas decisões já foram tomadas. A sede continuará no Rio de Janeiro, onde fica o quartel-general da Oi. O alto comando da operadora será formado por um quadro de até 12 diretores que responderão ao presidente. A distribuição de funções será horizontal e terá foco em processos. "Uma empresa de serviços tem de trabalhar na gestão de processos e não de infra-estrutura", avalia Falco.

Para lidar com o porte da nova empresa, a diretoria financeira terá duas áreas, como antecipou o Valor no mês passado: uma voltada para a gestão do dia-a-dia e outra mais ligada a controladoria e questões estratégicas. "A companhia se alavancou para fazer a aquisição e vai precisar ter alguém cuidado disso", afirma. No caso, esse alguém é Alex Zornig, que chegou à Oi no início de dezembro, egresso do setor bancário e com grande experiência em fusões e aquisições. Ele foi chamado para cuidar da parte mais estratégica.

A entrada de Zornig exemplifica de que maneira a gestão da companhia está sendo repensada. O executivo foi chamado para o lugar de José Luís Salazar, que trabalhou na Oi durante nove anos e participou ativamente da formatação da compra da BrT. Mesmo com esse histórico, os acionistas da Oi concluíram que precisavam de alguém com mais experiência para cuidar da área estratégica da diretoria financeira. A Salazar, foi oferecida a área mais voltada para a gestão do dia-a-dia, cargo que ele não aceitou.

Outra decisão já tomada é que não haverá comandos regionais. Com isso, também está de saída Roderlei Generali, executivo que liderou a entrada da Oi na telefonia móvel em São Paulo e se tornou o responsável pelas operações no mercado paulista. "Ele fez um trabalho excelente, mas o lançamento já aconteceu. Dentro da estrutura com a qual estamos trabalhando, propusemos a ele outra função e ele não aceitou", diz Falco.

Essa movimentação de executivos deve se intensificar nas próximas semanas e se estender ainda por alguns meses. Uma das exigências fixadas pela Anatel para aprovar a compra da Brasil Telecom é que não haja demissões até 2011. Mas o presidente da Oi afirma que haverá remanejamentos e redistribuição de funções, especialmente nos cargos administrativos.

No novo desenho, já entrou em cena Pedro Ripper, que deixou a presidência da Cisco no Brasil - quase um ano após investigação da Polícia Federal por suposto esquema de fraude em importações na empresa. O processo corre sob segredo judicial e não envolve o executivo.

Na Oi, Ripper será responsável pelos novos negócios da companhia - como o serviço de TV por assinatura que a operadora deve lançar na primeira metade de 2009. Ele também vai prospectar novidades tecnológicas que possam ter interesse para a empresa.

O atual diretor de mercado, João Silveira, permanece na Oi, com foco nos serviços integrados da companhia - telefonia fixa, celular e banda larga. Alguns executivos da Brasil Telecom também deverão ser aproveitados, mas os nomes ainda não estão todos fechados.

Segundo Falco, estratégias e serviços bem-sucedidos da BrT também poderão ser importados. "Tem coisas boas de um lado e de outro. Vamos aproveitar o melhor de cada uma", diz Falco.

No entanto, já está definido que a estratégia da Oi para a telefonia móvel - baseada na venda de chips avulsos - será estendida à Brasil Telecom. "Convenhamos que, nesse segmento, tivemos um avanço mais expressivo do que eles", observa Falco. Enquanto a Oi tem mais de 24 milhões de linhas de celular, na companhia adquirida elas não chegam a 6 milhões.

Outro segmento onde as duas têm estratégias divergentes é o de call center. A BrT tem uma equipe própria de teleatendimento. Na Oi, o serviço é prestado pela Contax, empresa controlada pelos mesmos acionistas da operadora. Segundo Falco, não há decisão tomada, mas é "pouco provável", que a unidade da BrT permaneça dentro da empresa.

A união entre Brasil Telecom e Oi encerra um dos capítulos mais longos - e controversos - do setor de telecomunicações desde a privatização. Daniel Dantas, então gestor da BrT, foi o primeiro a vislumbrar a união das duas operadoras, numa entrevista ao Valor em 2002. Envolvido em uma série de disputas societárias, o empresário acabou perdendo o poder necessário para conduzir um negócio desse porte. O espaço foi ocupado por Sergio Andrade e Carlos Jereissati, que conseguiram superar as divergências internas entre os acionistas da Oi e conquistaram o apoio do governo ao negócio.

O projeto Oi-BrT só saiu do papel porque o Planalto concordou em fazer uma alteração no Plano Geral de Outorgas (PGO) feita de maneira a permitir a consolidação entre concessionárias de telefonia.