Título: Banco Central projeta um ajuste de US$ 8 bi na conta corrente em 2009
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2008, Finanças, p. C2

Projeções divulgadas na sexta-feira pelo Banco Central prevêem um ajuste de US$ 8 bilhões nas contas correntes em 2009, em virtude principalmente dos efeitos da crise financeira internacional sobre o Brasil. O déficit previsto no ano que vem foi revisto de US$ 33,1 bilhões para US$ 25 bilhões.

De um lado, o BC conta com um saldo comercial menor, de US$ 14 bilhões, ante US$ 17 bilhões da projeção anterior, de setembro passado. De outro, a autoridade monetária projeta um déficit menor em serviços e rendas - US$ 41,5 bilhões, em vez dos US$ 54,1 bilhões anteriormente previstos pelo BC.

A revisão do saldo comercial é, em grande medida, resultado da queda de preços de produtos exportados pelo Brasil, sobretudo "commodities" e menor demanda estrangeira por produtos brasileiros. As receitas de exportações foram reestimadas em US$ 193 bilhões, cifra 18% menor do que os US$ 217 bilhões antes projetados.

Outra revisão importante foi nas importações, que agora são estimadas em US$ 179 bilhões, cifra 10,5% menor que os US$ 200 bilhões antes projetados. As receitas com importações devem cair porque a absorção doméstica deverá recuar, o que em contrapartida significa que serão demandados menos produtos estrangeiros com o dólar mais caro.

O déficit em serviços e rendas previsto para 2009 caiu devido principalmente à perspectiva de menor volume de remessas de lucros e dividendos e de uma menor despesa liquida com turismo internacional.

O déficit em turismo cai de US$ 6 bilhões para US$ 1,5 bilhão. As remessas de lucros e dividendos, que antes eram estimadas em US$ 30 bilhões, agora são previstas em US$ 20 bilhões. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explicou que a revisão se deve principalmente à queda no estoque de capitais estrangeiros investidos no do país. Com estoque menor de investimentos no país, explicou, a tendência é que as remessas fique menores.

O volume de investimentos em ações por estrangeiros representava, em junho, US$ 194,2 bilhões. No fim de outubro, o volume de investimentos era estimado em US$ 77,06 bilhões. Três fatores explicam a redução dos estoques de investimentos em ações no país: a repatriação de capitais pelos investidores desde o início da crise (somaram US$ 13,4 bilhões), a perda de valor dos investimentos em virtude da queda das Bolsas (efeito calculado em US$ 66,1 bilhões) e a desvalorização do câmbio (impacto de US$ 30,6 bilhões).

Houve também queda no estoque de investimentos estrangeiros diretos, que passou de US$ 381,18 bilhões em junho para US$ 317 bilhões em outubro. O estoque de investimentos em renda fixa encolheu de US$ 63,55 bilhões para US$ 44,62 bilhões no período. Nesses dois casos, o estoque foi afetado pela desvalorização da taxa de câmbio.

O ajuste nas contas correntes é a contrapartida da menor disponibilidade de capitais esperada para 2009. Os investimentos diretos foram reestimados de US$ 33 bilhões para S$ 30 bilhões. As captações de médio e longo prazos foram revistas de US$ 30,3 bilhões para US$ 26,5 bilhões.