Título: Analistas esperam queda de até 10% na produção industrial em dezembro
Autor: Ribeiro , Bianca
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2009, Brasil, p. A5

O acúmulo de estoques na indústria deve levar a produção industrial de dezembro medida pelo IBGE a uma nova baixa, após a queda de 5,2% registrada em novembro. Economistas estimam que o índice, a ser divulgado amanhã, deve apontar queda de 5% a 10% perante novembro. A explicação para esse comportamento está na paralisação da atividade pela necessidade de queimar os estoques gerados com a diminuição da demanda desde outubro.

Os agentes continuam olhando com incerteza para a duração desse ajuste dos estoques, mas não há muitas apostas em uma retomada de fôlego para a produção industrial quando o mercado absorver a produção acumulada. A avaliação é de que a demanda interna e as exportações declinantes tendem a sustentar uma atividade mais modesta. Desde a última reunião do Copom, o indicador oficial de atividade industrial passou a ter extrema importância, já que o colegiado mostrou um aumento da preocupação com a atividade combinada com relativa tranquilidade em relação à inflação.

Os economistas acreditam que dentre os números a serem analisados pelo colegiado nos dias 10 e 11 de março também terão destaque os dados da Sondagem Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados na semana passada e que apontaram entre outubro e dezembro os piores dados trimestrais em dez anos, além dos números de produção industrial de janeiro, a produção automobilística de fevereiro e o PIB do quarto trimestre. A opinião majoritária é de que esse conjunto de dados deve legitimar um novo corte de 1 ponto percentual da taxa Selic ou, no mínimo, 0,75 ponto percentual de redução.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, estima queda de 5,1% da produção em relação a novembro e baixa de 9,8% na comparação com dezembro de 2007. Roberto Padovani, economista-chefe do WestLB, estima baixa de 9,8% no confronto com novembro e baixa de 11,7% em relação a dezembro de 2007. "Essa retração se deve ao esforço de queima de estoques", diz, lembrando que esse efeito exacerbou uma desaceleração natural da atividade por conta da crise. Para ele, embora o próximo passo do BC dependa dos dados a serem divulgados, uma variável importante virá do novo pacote de ajuda a bancos do governo americano. Na avaliação de Padovani, a decisão do Copom ficará entre um novo corte de um ponto e 0,75 ponto percentual, a depender da recuperação da atividade entre janeiro e fevereiro e do comportamento da inflação.

Elson Teles, economista-chefe da Concórdia também projeta tombo na produção de dezembro, de 9,5% no mês ante novembro, e de 11,5% sobre o mesmo mês de 2007. Com isso, a produção industrial terá baixa de "incríveis" 16,5% no acumulado dos últimos três meses de 2008. Contrações na produção de veículos, metalurgia, máquinas e equipamentos, produtos químicos e extrativa mineral devem comandar esse tombo, avalia Teles. Embora concorde que a sinalização do BC aponte para um novo corte de 1 ponto percentual, Teles ressalva que a autoridade monetária também vai monitorar as expectativas inflacionárias.