Título: Geddel promete trabalhar por aliança entre PMDB e PT em 2010
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2009, Política, p. A7

No momento em que o PMDB pode conquistar a hegemonia do Congresso, o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), um dos principais líderes do partido, reconhece que as eleições para a Câmara e o Senado, que se realizam hoje, e as disputas regionais podem ser obstáculos à aliança PT-PMDB em 2010, como deseja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas assegura: ele, pessoalmente, vai trabalhar "ardorosa e freneticamente" pela manutenção da aliança em torno do candidato a ser indicado por Lula, provavelmente a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Reconhecido como um aliado do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), a quem apoiou nas eleições de 2002 para presidente, Geddel insiste: "Minha posição vai ser defender a aliança com o presidente Lula, independente das qualidades que o Serra tem, que são muitas". Geddel, 50 anos a serem completados em março, é apontado no PMDB como eventual candidato a vice tanto numa chapa do PT como do PSDB. Ruy Baron / Valor

Geddel: "O Serra não foi presidente da República (...) não teve que enfrentar administrações de conflitos de partidos"

A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:

Valor: O que pode impedir o senhor de continuar com o presidente Lula na eleição de 2010?

Geddel Vieira Lima: Só se o meu partido, o que eu não acredito, tomar uma decisão, em convenção, de não marchar com a candidatura que o presidente Lula vai apresentar. Só isso. Mas eu trabalharei ardorosa e freneticamente para que o PMDB mantenha a aliança.

Valor: O que é preciso fazer para manter a aliança PMDB-PT?

Geddel: Isso vai depender de programas, projetos; do que é que vai se colocar para manter a continuidade do que está aí posto; de como vão ser as composições estaduais. Este país é uma federação muito claramente definida, muito forte. Os partidos, todos eles, não é o PMDB, têm correntes internas, interesses regionais, muito legitimamente estabelecidos. O que cabe a nós é ter capacidade e competência - e vamos procurar ter - de tentar resolver questões legítimas, disputas legítimas, ambições legítimas nos Estados.

Valor: Nas eleições de 2006 e mesmo nas de 2008 o presidente Lula teve mais de um palanque nos Estados.

Geddel: Não vamos comparar 2008, uma eleição de prefeito, com a eleição de presidente da República. Aí é mais complexo. Afinal, todos os agentes estarão envolvidos em seus projetos políticos. Você vai ter disputa para o governo, para o Senado, para deputado federal, para deputado estadual, o que requer uma engenharia mais complexa e mais criatividade dos homens públicos. Esse é o desafio a ser tratado no momento oportuno, que evidentemente não é agora. O "timing" político é a partir de 2010, quando começa a ter desincompatibilização, a ter definição clara de quem vai querer disputar o quê. Então, agora, é muita especulação, o que é natural na vida política.

Valor: O senhor já afirmou que a aliança do PMDB é com Lula e não com o PT. Qual a diferença?

Geddel: É evidente que PT e PMDB, nas últimas eleições, se unificaram em torno de um projeto corporificado pelo presidente Lula, que tem dado demonstrações de absoluta maturidade, de ser um homem de Estado capaz de administrar os legítimos interesses desses partidos. Aliança não é fusão. Nem um partido nem outro renunciam a seus projetos, a suas posições, a ideias, o que evidentemente faz com que, por dentro, se entrechoquem, apesar da aliança. Aí entra uma figura como a do presidente Lula que, com equilíbrio, sabe olhar a floresta e sabe administrar interesses individuais. Foi assim na eleição dos municípios. Mas por vezes ele contrariou interesses do seu próprio partido para atender aliados. Por vezes, contrariou aliados para atender seu partido.

Valor: A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), provável candidata do PT, é boa observadora da floresta?

Geddel: Eu acho que a ministra Dilma tem tido, ao lado do presidente Lula, uma grande experiência. Ela é um quadro absolutamente qualificado. Mas evidentemente que a ministra Dilma terá um trabalho maior que o que teve o presidente Lula, pela sua origem. Ela é uma técnica altamente qualificada que vai mostrando aos poucos que sabe fazer política. E esse é o desafio que a ministra Dilma vai ter pela frente e tenho certeza que ela vai administrar com competência.

Valor: O governador José Serra, por sua maior experiência, não pode ser um observador melhor da floresta que a ministra Dilma?

Geddel: Estou falando de quem já esteve no poder. O presidente Lula se credencia como avalista porque, no exercício do poder, mostrou que é capaz de fazer esse tipo de avaliação. O Serra não foi presidente da República. O Serra não teve que enfrentar administrações de conflitos de partidos multifacetados nos seus legítimos interesses. Portanto, não dá para saber. O Fernando Henrique, que foi presidente da República, fez isso. Também com competência, com habilidade. Estamos tratando aqui do que é o presidente Lula. E se você coloca o Serra de novo, eu volto a repetir: a minha posição vai ser defender a aliança com o presidente Lula, independente das qualidades que o Serra tem, que são muitas. Tenho uma relação pessoal fraterna com o governador Serra, de quem fui colega no parlamento e a quem apoiei. Isso não significa dizer que necessariamente você tenha que estar comprometido com qualquer projeto do Serra.

Valor: O Serra está fora?

Geddel: Essas coisas serão discutidas. Estou dizendo que minha posição dentro do PMDB será defender a aliança (atual). Existem lideranças do PMDB, importantes - eu lhe cito Orestes Quércia -, que defendem uma postura diferente. Vai chegar um momento - e a essa postura eu me curvo - em que a convenção do partido definirá qual é o caminho que o PMDB vai tomar. Quando apoiei Serra, fiz o que as urnas do meu Estado mandaram. Às vezes, me rebelo um pouco com o termo adesão. Não aderi a ninguém. Na minha história de vida não tem esse termo adesão. Eu fui para as urnas, defendi o nome de Serra contra a candidatura do presidente Lula, perdi a eleição, meu partido não se definiu em convenção, e eu achei que o lógico era eu permanecer na oposição. E fiz como tudo na minha vida: com firmeza e com paixão. Veio um outro momento político na Bahia, circunstâncias políticas da minha pátria natal, que é meu Estado, a Bahia, me fizeram propor à sociedade, com clareza, com transparência, através da televisão e de comícios, um outro pacto: "Eu vou apoiar essa candidatura (Lula)". O povo renovou essa confiança em mim, me apoiou e me deu quase 300 mil votos para deputado federal, sabendo que eu estava com o Lula. Estou fazendo o que as urnas do meu Estado mandaram.

Valor: Sua posição está condicionada às alianças regionais?

Geddel: Vou defender essa posição, claramente.

Valor: A eleição para as Mesas do do Senado e da Câmara podem influir na decisão do PMDB?

Geddel: Tudo pode influir. Em política tudo é interligado, não há fato isolado em política. Política você vai construindo, pedrinha com pedrinha até o quadro ficar pronto. Então é evidente que pode influir.

Valor: O senhor é o nome citado na bancada da Câmara tanto para ser vice da ministra Dilma como de José Serra. Como é isso?

Geddel: Vocês estão mais avançados do que eu porque vocês estão ouvindo, eu só fiz ler o que vocês escreveram. Ninguém nunca me abordou esse tema, nem sequer me sondou. Acreditem no que digo: eu tenho tido a oportunidade, o privilégio de contribuir de forma efetiva para tirar obras do papel e fazer as coisas acontecerem no Brasil e no meu Estado. Isto tem me gratificado sobremodo. Eu não cometeria a hipocrisia de dizer que não penso no meu futuro político, mas as minhas forças estão todas voltadas para mostrar aos baianos, e uma parte do Brasil que de alguma forma acompanha o que nós estamos fazendo, que há uma geração de brasileiros preparados para tocar a administração pública. O plano A é continuar na política. Eu só tenho uma decisão tomada: não sou candidato a deputado federal. Não encontro mais motivação para servir ao meu Estado, servir ao Brasil, como deputado federal. Já dei a contribuição que tinha que dar. As outras funções que vejo às vezes especularem sobre o meu nome são todas elas honrosas, dignificam uma biografia. Mas está muito cedo para definir o que vou fazer.