Título: Sarney e Viana dizem ter votos para vencer
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2009, Especial, p. A14
Uma virada de última hora da bancada do PSDB deu uma sobrevida à candidatura do senador Tião Viana (PT-AC) a presidente do Senado, mas não foi suficiente para retirar o favoritismo do senador José Sarney (PMDB-AP), ex-presidente da República (1985-1990) e duas vezes presidente do Senado. No entanto, precavido, Sarney cercou-se de garantias, como a volta da senadora Maria do Carmo (DEM-SE), que estava licenciada e é considerada voto certo no pemedebista. Ricardo Marques / Folha Imagem
Sarney: cálculos do pemedebista dão conta de que será eleito com folga
Nos cálculos de Sarney a eleição será um massacre: ele teria entre 55 e 57 votos, segundo a contabilidade fechada ontem. Mas o senador Tião Viana, de ânimo novo depois do apoio formal recebido dos tucanos, estimava ontem a noite que teria 43 votos, dois a mais que o necessário para se eleger (são 81 senadores). Se forem os de Sarney os cálculos certos, o PSDB corre o risco de passar por um vexame, pois não só terá passado a bandeira da "mudança e da ética" para o PT, como ficará claro que o partido não é o fiel da balança que julgou ser desde que ajudou a derrubar a CPMF.
Ricardo Marques / Folha Imagem
Viana: senador petista acredita que ganhará eleição por margem apertada O apoio do PSDB ao PT nasceu de um racha da bancada tucana - a função de líder, ocupada por Artur Virgílio (AM), é reivindicada pelos senadores Marconi Perillo (GO) e Tasso Jereissati (CE) -, mas também acabou avalizada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo governador de São Paulo, José Serra. FHC avalia, segundo tucanos, que uma eventual derrota de Sarney poderia levar à retirada do PMDB da base do governo. Com o apoio a Viana, os tucanos - que voltariam a se reunir ontem à noite - esperavam ainda ajudar a candidatura do deputado Michel Temer (PMDB-SP) na Câmara - setores do PT ameaçavam não votar em Temer para os pemedebistas não ficarem com o comando das duas Casas.
O governo atuou em todas as frentes. Candidato à presidência do PT, Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, articulou em favor de Tião Viana. Sarney soube e pediu ao presidente, por intermédio da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que "recolhesse suas tropas". Carvalho passou a articular fora das dependências do Palácio do Planalto. Os dois líderes de Lula entre os senadores, Romero Jucá (PMDB-RR) e Roseana Sarney (PMDB-MA), atuaram em favor de Sarney, enquanto o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) trabalhou em favor de Michel Temer, na Câmara, contra Sarney no Senado.
A vitória de José Sarney apoiado pelo novo líder da bancada, Renan Calheiros (PMDB-AL), fortalece no PMDB a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff - o PMDB da Câmara é mais ligado a Serra. "O PMDB tucano adorou o nosso movimento aqui no Senado", afirmou, em tom irônico, um senador do PSDB.
Um dos cotados para vice de José Serra nas eleições presidenciais de 2002, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), também apoiará Tião Viana. Nega que seja uma escolha recente. "Desde sempre eu disse que apoiaria Tião Viana. Ao lado de Sarney estão pessoas que fizeram muito mal à imagem do Senado", disse, numa referência a Renan Calheiros. Independentemente do resultado, governo e aliados de Viana avaliam que Sarney sairá menor da disputa. Sonhava em ser candidato do consenso, bateu chapa e até o último momento, não tinha certeza se seria ou não eleito.
"E agora fica ligando para a Dilma para reclamar do Gilberto Carvalho", provocou um aliado. Na sexta-feira, Carvalho recebeu o senador petebista Gim Argello (DF), vice-líder do governo. Indagado como estava a campanha, Gim disse que José Sarney estava sólido, apesar do apoio do PSDB a Tião Viana.
A disputa tirou o sono de muitos inquilinos do Planalto nas últimas três semanas, como foi o caso do ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro. Ontem, depois de reunião da bancada do PTB na Câmara, ele confirmou que teme os efeitos do resultado da eleição na coesão da base aliada. Durante reunião com pessoas próximas, há duas semanas, chegou ao ponto de afirmar que "estar de férias em Gaza talvez fosse menos estressante do que administrar conflitos dos aliados".
Ao longo de todo domingo, os comandos das duas campanhas e os respectivos candidatos fizeram e refizeram reuniões, mantiveram reuniões a portas fechadas e ligaram para senadores espalhados pelo Brasil todo. A campanha de Sarney calcula que terá êxito com uma margem folgada, contando com algo em torno de 55 a 57 votos. No lado de Viana, a matemática é bem mais modesta, mas também vitoriosa: 43 a 38 para o petista.
Com o voto secreto, qualquer estimativa é apenas uma estimativa, mas senadores experientes na Casa tentam contar apenas com os votos mais assegurados. O PSDB, que passou as duas últimas semanas alardeando que votaria fechado, admite que dois senadores devem trair a orientação partidária: Papaléo Paes (AP) e Álvaro Dias (PR). Existe uma dúvida quanto a João Tenório (AL), pois Renan Calheiros - um dos principais nomes do staff de campanha de Sarney - trabalhou na vitória de Teotônio Vilela Filho para o governo de Alagoas.
Pelo lado de Sarney, apesar do clima de prontidão a expectativa é de uma vitória mais folgada. Mesmo com o recuo dos tucanos, que surpreendeu Sarney, nas palavras do próprio candidato -os pemedebistas não acham que perderam uma considerável quantidade de votos. "Nunca trabalhamos com o PSDB inteiro ao nosso lado. Mas posso dizer com certeza que metade da bancada deles estará conosco hoje", alegou uma liderança pemedebista. "O voto é secreto e o Sarney é a melhor opção para esta Casa", disse outra liderança partidária.
Um experiente senador pemedebista lembra que o impulso minoritário de lideranças como o senador Arthur Virgílio surtiu efeito na votação da CPMF quando o PSDB percebeu que tinha forças para derrotar o governo. "Como eles vão convencer agora os senadores a votarem em alguém que será derrotado? Não faz sentido", brincou o líder partidário.