Título: Renan recupera espaço político
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Fonte: Valor Econômico, 02/02/2009, Especial, p. A14
A posse dos novos líderes partidários reconduzirá a postos de destaque no Senado dois políticos que haviam perdido espaço e poder em Brasília no passado recente: Renan Calheiros (PMDB) e Aloizio Mercadante (PT).
Ao assumir a liderança do PMDB, Renan Calheiros tentará retomar parte do poder e prestígio que tinha na Casa, onde foi eleito e reeleito para a presidência do Senado. O pemedebista deixou o cargo depois de sofrer denúncias que resultaram em processos no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar, acusado de emitir notas frias para compra de gado e terras em Alagoas e de pagar despesas pessoais com recursos de lobista da construtora Mendes Jr.
Renan é um dos principais fiadores da candidatura de José Sarney (PMDB-AP) à presidência da Casa. Quando o ex-presidente insistia que não seria candidato, o alagoano lançou o nome de Garibaldi Alves (PMDB-RN). Garibaldi saiu do páreo quando Sarney decidiu que disputaria a vaga.
No PT, Mercadante voltará à liderança partidária para tentar melhorar a relação com o partido e ganhar apoio para disputar mais um mandato. Ele desgastou-se no PT e no Palácio do Planalto por causa do episódio dos "aloprados", em 2006, na disputa pelo governo de São Paulo, quando integrantes de sua campanha foram acusados de comprar um falso dossiê contra o então candidato do PSDB, José Serra, que, mesmo assim, acabou sendo eleito governador.
O episódio dos "aloprados" foi visto dentro do partido como uma das causas que levaram ao segundo turno a disputa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela reeleição. Mercadante já havia derrotado a ex-prefeita Marta Suplicy nas prévias, em um episódio que não foi bem digerido por setores da legenda. Acabou derrotado por Serra no primeiro turno. Em 2008, quando Marta concorreu à prefeitura paulistana, Mercadante não teve papel de destaque em sua campanha.
O senador foi líder do governo no Senado entre fevereiro de 2003 até junho de 2006, mas não foi solidário com o PT nem com o presidente Lula no momento mais difícil vivido pelo partido, quando o PT foi acusado de organizar o suposto esquema de mensalão. Um episódio emblemático foi quando o publicitário Duda Mendonça prestou depoimento à CPMI dos Correios, falando da existência de caixa dois e que o PT saldou as dívidas da campanha de Mercadante com recursos não-contabilizados, e o senador tentou se isentar de qualquer responsabilidade. Mercadante entrou em conflito com José Dirceu e defendeu expulsões no partido.
A indicação de Mercadante para a liderança do PT será estratégica do ponto de vista eleitoral para o senador no período em que o partido se prepara para disputar as eleições de 2010. Se disputar outro mandato como senador, Mercadante poderá ter mais dificuldade do que nas eleições anteriores, já que, em 2006, o PT de São Paulo por pouco não ficou de fora do Senado. Eduardo Suplicy conseguiu reeleger-se com dificuldades e quase perdeu para Guilherme Afif Domingos, do Democratas.
Na Câmara, a escolha dos líderes das bancadas do PT e do PSDB é marcada por disputas internas. Dois nomes concorrem pela liderança petista: Cândido Vaccarezza (SP) e Paulo Teixeira (SP), dois deputados que estão no primeiro mandato e são do grupo da ex-ministra e ex-prefeita Marta Suplicy, de São Paulo. Favorito na disputa, Vaccarezza foi um dos principais coordenadores da campanha de Arlindo Chinaglia (PT-SP) à presidência da Câmara, em 2007, quando ainda nem era deputado. Começou a ganhar mais destaque ao presidir a comissão que alterou o rito de tramitação das medidas provisórias.
Vaccarezza tem bom diálogo com o ex-ministro José Dirceu e comenta-se que tem o apoio do antigo homem forte do governo Lula. Já Teixeira foi secretário de Habitação do governo Marta e é ligado aos movimentos sociais de habitação. Dentro do PT, ele participa do grupo "Mensagem ao Partido", o mesmo do ministro Tarso Genro - e desafeto de Dirceu - e do deputado José Eduardo Cardozo (SP). Ontem, estava previsto um jantar com a bancada petista para acertar o apoio a Vaccarezza.
A disputa pela liderança da bancada do PSDB também está entre dois nomes de São Paulo e dividiu o partido: Paulo Renato Souza e José Aníbal, que tenta continuar como líder do partido, algo que não era previsto nos acordos internos anteriores. O novo líder ajudará nas articulações para a construção do candidato do partido que disputará a presidência, em 2010.
Os apoiadores de Aníbal dizem que ele tem o aval do governador José Serra, apesar da proximidade do atual líder com o secretário de Desenvolvimento de São Paulo, Geraldo Alckmin. Paulo Renato defende a alternância dos líderes. No DEM, o novo líder será Ronaldo Caiado (GO). (CA e PTL)