Título: GDF Suez mantém meta de crescer no país, apesar da crise
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2009, Empresas, p. B7
Maior gerador privado de energia do Brasil, o grupo GDF Suez inaugura esta semana a hidrelétrica São Salvador. Construída perto de Paranã (TO), no rio Tocantins, é a primeira grande obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no setor elétrico. São Salvador vai gerar 243 megawatts (MW) de energia e teve investimentos de R$ 848 milhões, dos quais R$ 380 milhões financiados pelo BNDES, através de empréstimo direto e repasses para um grupo de bancos nacionais. Silvia Costanti / Valor
Bähr, presidente do conselho da Suez Energy: "Não vamos diminuir o ritmo dos investimentos; recursos estão garantidos"
Para construir a usina, que ficou pronta em 32 meses, foi necessário reassentar 122 famílias, que receberam casas novas construídas em duas áreas (Ilha Verde e Fazenda Gávea, essa última provisória) ou concedidas cartas de crédito no valor de R$ 70 mil, além de um bônus de R$ 4 mil. Outras 130 famílias, que somam cerca de 500 pessoas, negociaram a venda de suas propriedades. Mas 17 famílias recorreram à Justiça. "Conseguimos fazer uma obra sem invasões, sempre dialogando com o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e o Ministério Público e o reassentamento que fizemos é um modelo", afirma Victor Frank Paranhos, presidente da Companhia Energética São Salvador e da Energia Sustentável, que vai construir a gigantesca Jirau, no rio Madeira.
Desde a compra da concessão dessa hidrelétrica, ainda sob o modelo elétrico anterior, a empresa enfrentou vários percalços. Mauricio Bähr, presidente do conselho de administração da Suez Energy Latin America - holding que controla os ativos do grupo franco-belga GDF Suez na região - e Manoel Zaroni Torres, presidente da Tractebel Energia (braço operador do grupo, com ações em Bolsa), lembram que a usina foi adquirida em novembro de 2001. Naquela época vigorava o modelo que saia vencedor quem oferecesse a maior tarifa pelo Uso do Bem Público (UBP). No caso de São Salvador, a tarifa foi de R$ 18,5 milhões ao ano, o que representou ágio elevado em relação ao preço mínimo fixado em leilão pelo então governo.
Os estudos de impacto ambiental que acompanhavam o projeto tiveram que ser refeitos e quando tiveram aprovação dos órgãos de licenciamento ambiental veio o novo modelo elétrico desenhado por Dilma Rousseff, hoje ministra chefe da Casa Civil. Ela mudou as regras do setor, introduzindo o atual sistema de leilões que concede a licença para quem oferecer o menor preço da energia.
O problema com São Salvador e outras concessões adquiridas antes de 2002 era a perda de competitividade do preço da energia quando se somava ao projeto o custo do ágio. Somente à medida que o crescimento econômico passou a demandar mais energia elétrica o projeto se tornou viável. As licenças de instalação da usina e da linha de transmissão foram obtidas em julho de 2005 e a obra começou em outubro de 2006.
A hidrelétrica São Salvador aumenta a capacidade de geração do grupo Suez no Brasil para 6.431 MW. Quando passarem a operar Estreito (1.087 MW) e Jirau (3.300 MW), a capacidade instalada das usinas do grupo chegará a 10.871 MW. Mesmo se contabilizada apenas a energia correspondente à participação acionária do grupo em cada uma dessas usinas, o total de energia sob controle da Suez no país não é desprezível. Serão 8.522 MW até o início de 2012.
A crise econômica, que fez desabar o consumo de energia pelo setor industrial, não vai afetar os projetos. É o que garantem Torres e Bähr. A meta do grupo é continuar a crescer, inclusive com geração nuclear no futuro, caso haja uma mudança constitucional. "Hoje não existe possibilidade de investirmos como grupo privado em energia nuclear no Brasil. Mas temos interesse. Tudo vai depender de como o governo vai formatar o modelo", explica o presidente do conselho da Suez Energy.
As próximas usinas com participação da GDF Suez a iniciarem operação são Estreito, na qual a companhia tem 40% em sociedade com a Vale (30%), Alcoa Alumínio (25,49%) e Camargo Corrêa Energia (4,44%). Estreito começará a operar em 2010, e Jirau (50,1%) está prevista para iniciar geração em fevereiro de 2012.
Maurício Bähr explica que mesmo que o país não cresça, a energia dessas hidrelétricas é necessária, podendo ocorrer no máximo um "deslocamento" da geração das usinas térmicas, as quais passariam a funcionar como energia de reserva. "As hidrelétricas são mais baratas que as usinas a óleo e com a redução da demanda futura, irão se tornar ainda mais necessárias", ressalta Zaroni.
Arrematadas em leilões de energia destinadas a suprir o mercado cativo das distribuidoras, toda a energia está praticamente vendida em contratos de 30 anos. No caso de Jirau, a decisão dos sócios - além da Suez, participam do consórcio a Eletrosul (20%), Chesf (20%) e Camargo Corrêa (9,9%) - foi deixar para mais adiante a venda dos 30% de energia que podem ser oferecidos ao mercado livre.
O problema neste momento é a diminuição do mercado, que já se ressente da queda da atividade econômica que paralisou siderúrgicas, metalúrgicas, montadoras de automóveis e mineradoras. Zaroni lembra que a queda do consumo de energia em dezembro de 2008 foi tão forte que recuou para os níveis de 2006. "Mas não vamos diminuir o ritmo dos investimentos em nenhuma obra. Os recursos estão garantidos", afirma Bähr.
Juntas, as duas usinas de grande porte com participação da Suez vão custar R$ 12,3 bilhões, sendo R$ 9 bilhões em Jirau e R$ 3,3 bilhões em Estreito.
Os sócios de Jirau reunidos na empresa Energia Sustentável esperam para as próximas semanas a liberação de empréstimo no valor de R$ 7 bilhões do BNDES para construção da usina. O valor equivale a 70% do custo do projeto. Os 30% restantes serão desembolsados pelos sócios e a parte de recursos próprios que cabe à Suez é de R$ 1,5 bilhão. Jirau, que já tem um canteiro de obras fervilhando de pessoas, terá 46 turbinas do tipo "bulbo", cada uma com 7,5 metros de diâmetro. Dessas, 28 serão construídas no Brasil pela Voith-Siemens, Alstom e Andritz VATech Hydro com custo orçado em R$ 2 bilhões. Outras 18 serão montadas na China pela Dongfang a um custo de US$ 410 milhões. Os contratos de aquisição preveem correção pela variação do preço de algumas commodities utilizadas na fabricação dos equipamentos e por isso Bähr espera menores preços devido à queda da cotação internacional de alguns insumos como o cobre, níquel e o aço.