Título: Pesquisas divergem sobre estoques
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2009, Brasil, p. A4

Dois levantamentos sobre o nível de estoques da indústria em janeiro mostram um quadro contraditório: enquanto a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou um número maior de empresas reclamando de inventários excessivos, o Índice Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Banco Real apontou queda, tanto de bens finais como de insumos. Quanto mais demorar o ajuste de estoques, mais tempo levará para as empresas retomarem um ritmo normal de produção. Vale notar que o PMI exibiu um retrato desanimador do desempenho da indústria no mês passado, com queda expressiva da produção, das encomendas e do emprego.

Das 1.104 companhias ouvidas pela FGV entre 5 e 26 de janeiro, 21,8% informaram que têm estoques excessivos, acima dos 21% de dezembro e o maior percentual desde julho de 2003, na série com ajuste sazonal. O número de companhias com inventários insuficientes caiu a zero. "O resultado indica que muitas empresas ainda não conseguiram desovar os estoques", resume o coordenador-técnico da sondagem, Jorge Braga. O quadro é preocupante porque a indústria vem reduzindo drasticamente a produção desde outubro, e ainda assim não se livrou do excesso de produtos estocados - pelo menos segundo a pesquisa da FGV. Braga diz que a reversão desse quadro depende da recuperação da demanda, algo bastante incerto no atual cenário.

No setor de minerais não metálicos, o percentual de empresas que consideram excessivos os estoques passou de 32,8% em dezembro para 46,3% em dezembro, segundo Braga. No segmento têxtil, houve alta de 6,4% em dezembro para 32,4% em janeiro.

O grupo material de transporte, que inclui a produção de veículos, teve uma redução no número de empresas que reclamam de excesso de estoques. O percentual caiu de 39,3% em dezembro para 32,5% no mês passado, ainda assim um percentual alto.

O PMI do Real, que ouviu 450 empresas na primeira quinzena de janeiro, mostrou uma situação diferente. O índice de estoques de bens finais caiu de 52,8 em dezembro para 47,5 em janeiro, na série com ajuste sazonal. Um número abaixo de 50 aponta para a redução de estoques. No caso dos inventários de insumos, houve recuo foi de 50,5 para 46,6 no período. "A leitura mais recente indicou uma queda sólida nos estoques de pré-produção", diz o relatório do PMI. Para o economista Cristiano Souza, do Real, a tombo nos estoques de insumos deixa clara a relutância das empresas em produzir, num quadro de incerteza quanto à demanda.

Além dos estoques, o PMI trata da situação na indústria de fatores como o nível da produção, encomendas, emprego e preços. O índice geral (uma combinação de 11 indicadores) caiu de 40,0 em dezembro para 38,1 em janeiro, na série com ajuste sazonal. Foi o quarto recorde consecutivo de baixa do indicador, que começou a ser calculado em fevereiro de 2006. Quando o indicador fica abaixo de 50, a interpretação é de queda na atividade da indústria; quando fica acima de 50, há expansão.

Souza diz que os piores resultados foram os de produção, encomendas e emprego. O indicador da produção, que em agosto de 2008 estava em 51,0, caiu para 33,9 em janeiro, também o menor da série. Os pesquisados atribuíram a contração principalmente ao número menor de encomendas - o indicador de novos pedidos tombou de 34,5 em dezembro para 33,6 no mês passado, outro recorde de baixa. Esse é um resultado bastante preocupante, por indicar uma trajetória fraca para a atividade nos próximos meses.

O indicador do emprego caiu com força, com as empresas demitindo funcionários para reduzir custos num quadro de desaceleração da atividade. Além da queda de estoques, a outra única boa notícia do PMI veio dos indicadores de preços, segundo Souza. As cotações de bens finais mostraram baixa, com as empresas declarando que a demanda fraca as levou a reduzir os preços, para manter a competitividade. No caso dos insumos, a pesquisa apontou uma alta de preços, em parte por causa da desvalorização do câmbio, mas o ritmo de aumento arrefeceu.