Título: Crise afetou o país, mas pacote oficial pode garantir PIB de 8%
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Fonte: Valor Econômico, 03/02/2009, Especial, p. A10
Com o desenrolar da crise global complicando as previsões, circulam dois números "mágicos" para o crescimento da China em 2009. Os mais otimistas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer 8% este ano. Os pessimistas - categoria que inclui muitos bancos internacionais - apostam em "apenas" 5%, um percentual significativo para o restante do mundo, mas modesto para os padrões chineses.
As duas estimativas estão abaixo dos 9% que a China cresceu em 2008 e bem abaixo dos 13% de 2007, mas a magnitude da desaceleração este ano é vital para o Brasil, a América Latina e o mundo. O ritmo do crescimento da economia chinesa será fundamental para determinar a evolução dos preços das commodities e, consequentemente, da balança comercial brasileira.
No centro das discussões sobre o rumo do gigante asiático, está a eficácia do pacote de estímulo fiscal de US$ 586 bilhões do governo e o grau de dependência da economia em relação às exportações. Para seguir crescendo, a China deverá tornar o mercado interno o motor da expansão da sua economia. A dúvida é o quão rapidamente isso pode ser feito.
A crise global já atingiu a China de frente. No quarto trimestre anualizado, o PIB do país cresceu 6,8%. A produção industrial avançou 6,4% entre outubro e dezembro, abaixo dos 16,2% de janeiro a março. É um resultado direto do enfraquecimento das exportações, que caíram 2,2% em novembro e 2,8% em dezembro. No primeiro trimestre de 2008, as exportações da China cresciam 21,2%.
O oito é considerado um número da sorte pelos chineses e se tornou uma espécie de meta informal de crescimento. O assunto é bastante sensível, pois existe uma crença entre os funcionários de Pequim de que um avanço inferior a 7% pode gerar insatisfação e protestos contra o regime comunista.
Arthur Kroeber, diretor-executivo da Dragonomics, estima que o avanço da economia chinesa em 2009 está mais próximo de 8% do que de 5%. "Principalmente porque acredito que existe dinheiro suficiente que pode ser mobilizado para gerar esse crescimento", disse. Ele citou alguns canais pelos quais os recursos podem fluir: gastos governamentais, sistema bancário local, e empresas estatais.
"A China será severamente atingida pela crise porque se tornou mais dependente da economia global", disse Li Gang Liu, economista-chefe do BBVA em Hong Kong. Ele reforça, no entanto, que o crescimento de 8% pode ser alcançado com ajuda do pacote de estímulo fiscal, de redução de juros e de um sistema bancário relativamente sólido. Ele calcula que apenas o pacote fiscal pode estimular uma alta de 3% a 5% do PIB.
Os pessimistas - que preveem um avanço próximo de 5% para o PIB da China em 2009 - também dispõem de bons argumentos. Primeiro, que o pacote de estímulo do governo será ineficaz. Segundo, mesmo que o pacote seja bem implementado, a participação do governo na economia da China é muito menor hoje, o que reduz o efeito para o setor privado. E terceiro, o impacto da crise global para a China será muito expressivo.
Para Trevor Houser, pesquisador visitante do Peterson Institutute, o aumento nos gastos do governo chinês deve ajudar o PIB do país a crescer 7%, mas, se isso não ocorrer, alta de 5% é um número realista. Ele acredita que o consumo doméstico e os gastos do governo serão "a esperança da economia" pelos próximos dois a cinco anos, já que a crise global reduzirá significativamente as exportações da China. "O quão rápido Pequim vai conseguir reequilibrar a economia em direção ao mercado interno ainda está para ser visto", disse.
Maurício Moreira Mesquita, economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tem dúvidas sobre o impacto de mais gastos em infraestrutura em um país que já investe 40% do PIB. Ele disse que as oportunidades de investimento são reduzidas no leste do país, a região onde estão Pequim, Xangai e a província de Guangdong. Os investimentos são necessários no Oeste, mas as externalidades geradas para o restante da economia serão menores. "Existe uma crença de que a China é imune à crise e aos ciclos da economia. Não é", disse. (RL)