Título: Empresas pagam caro para captar
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 03/02/2009, Finanças, p. C1
Os primeiros negócios do ano no mercado de capitais indicam que as taxas não cederam e que o dinheiro continua salgado até mesmo para as grandes empresas. As taxas superam os 125% do CDI, com lançamentos restritos aos investidores internos e exigências de garantia firme por parte dos compradores.
O primeiro sinal de alerta veio da emissão da Bradespar, de R$ 610 milhões em debêntures aprovada recentemente. A taxa saiu a 125% do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) para papéis de apenas três anos. Outro caso foi a emissão de notas promissórias feita por cinco concessionárias da OHL Brasil, que captaram R$ 200 milhões a CDI mais cinco pontos (cerca de 139% do CDI) por notas de 180 dias.
O papel da Bradespar tem prazo de apenas três anos. Antes da crise, empresas de primeira linha emitiam papéis de até sete anos oferecendo menos 108% do CDI. Com a rentabilidade elevada, a demanda chegou a dez vezes o total de papéis ofertados, batendo em R$ 6 bilhões.
A Bradespar também lançou nos últimos dias R$ 690 milhões em notas promissórias, pagando 110% do CDI para notas com prazo de 180 dias. Nesse caso, segundo gestores que acompanharam a operação, a forte procura acabou reduzindo um pouco a taxa, que antes estava em 113% do CDI. No caso das debêntures, a rentabilidade não caiu porque boa parte dos investidores se dispôs a ficar com os papéis desde que saíssem com a taxa no teto previsto no início da oferta.
"Compramos as notas da Bradespar porque o prazo era menor e a rentabilidade boa. A debênture era mais longa e não tem mercado secundário para sair do papel", afirma o gestor André Schibuola, da Precision Asset Management, gestora especializada em papéis privado.
Cinco concessionárias do grupo OHL Brasil, que ganhou concessões de várias rodovias como a Fernão Dias, captaram juntas R$ 200 milhões nos últimos dias, também via notas promissórias de 180 dias. As taxas também foram salgadas, batendo em 139% do CDI.
Nas debêntures, a crise afastou os investidores. Em cinco meses, foram apenas três emissões. O último lançamento do ano passado foi a emissão de R$ 220 milhões da Sabesp, feita no auge da crise, em outubro, que contou com garantia firme dos bancos HSBC, BB Investimentos, Caixa Econômica e Citibank.
A operação teve duas séries, de cinco e sete anos, a primeira pagando 120% do CDI e a outra de IPCA mais 12,87% ao ano.
A própria Sabesp, em junho de 2005, havia colocado R$ 600 milhões no mercado, com "rating" "A", pagando prêmio de 0,7 ponto acima do CDI (abaixo do preço de bookbuilding, 1,5 ponto). (Foram duas séries, uma com taxa de 110% do CDI e outra com IGP-M mais 10,75% ao ano). Detalhe: a emissão de outubro tinha rating "A+", melhor que o da emissão de 2005, com nota "A", segundo a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P).
Além das debêntures e das notas, uma alternativa ao crédito bancário escasso pode ser a securitização, mas o piso estipulado pela emissão da Bradespar pode dificultar as operações, segundo os especialistas. Neste ano, apenas duas operações de FIDC foram a mercado, com taxas de 120% e 125% do CDI. Antes da crise, as taxas giravam em torno de 108% do CDI.
Com o mercado de capitais mais caro e restrito, as grandes empresas voltaram a demandar empréstimos bancários. As concessões de linhas com taxas flutuantes, usadas pelas maiores companhias, apresentaram evolução de 12,6% no último trimestre do ano, bem acima dos 2% de expansão média do crédito para pessoas jurídicas no período.