Título: FAB pretende fechar encomenda de novos caças no segundo semestre
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2009, Brasil, p. A2

Os fabricantes dos caças selecionados para a fase final do projeto F-X2 prometeram à Força Aérea Brasileira (FAB) transferência de tecnologia e abertura de códigos-fonte para a indústria nacional. Algumas propostas têm mais de 4 mil páginas e já começaram a ser avaliadas pelo Comando da Aeronáutica, que confirmou ontem a intenção de fechar uma encomenda - provavelmente de 36 aviões - no segundo semestre, apesar da crise.

O comandante Juniti Saito admitiu a possibilidade de atrasos em projetos da FAB, por causa de cortes orçamentários. Mas garantiu que isso não afetará o cronograma do F-X2, bem como os programas de modernização da frota de F-5 e AMX. A Aeronáutica perdeu, na tramitação parlamentar, R$ 188 milhões dos recursos para investimentos propostos pelo governo ao Congresso. O orçamento ficou em cerca de R$ 1 bilhão - por enquanto, Saito afirmou só ter autorização da área econômica para gastar até 50% disso.

A compra dos caças de múltiplo emprego deve custar pelo menos US$ 2 bilhões, mas equipamentos militares são financiados em vários anos. Segundo o comandante, "qualquer empresa" exige um pagamento inicial de 15%, no mínimo. Se o contingenciamento for muito forte, uma solução estudada pela FAB é negociar o desembolso da entrada só no ano que vem. "Pretendemos assinar o contrato no segundo semestre deste ano, mas nada impede que façamos o primeiro pagamento em 2010", afirmou.

A proximidade de uma decisão trouxe ao Brasil altos executivos das três fornecedoras pré-escolhidas pela FAB: a americana Boeing (fabricante do F-18 E/F Super Hornet), a francesa Dassault (Rafale) e a sueca Saab (Gripen NG). O presidente mundial da Saab, Ake Svensson, disse ao Valor que está preparado para "uma abrangente cooperação de longo prazo" com a indústria brasileira. "Estamos completamente dispostos a compartilhar tecnologia e códigos-fonte com os nossos parceiros", antecipou.

Svensson procurou lembrar o histórico de parceria com a Embraer no desenvolvimento do Sivam e ressaltou "a melhor relação custo-benefício" da nova geração de caças Gripen. Ele destacou os custos mais baixos, em função de ser o único monomotor entre os jatos pré-selecionados, e o aumento da autonomia de voo em até 50%, graças à incorporação de uma nova turbina.

Os americanos também prometem deixar de lado, no F-X2, a tradição de evitar transferência de tecnologia nas vendas de armamentos. A Boeing ofereceu, com o aval do governo dos Estados Unidos, como parte da proposta apresentada na segunda-feira, a liberação do radar APG-79 da Raytheon, com varredura eletrônica ativa. "A Boeing está buscando a oportunidade de estabelecer parcerias de longo prazo com a FAB, a indústria brasileira e com o governo do Brasil", afirmou Bob Gower, um dos vice-presidentes da Boeing Integrated Defense Systems, em nota oficial.

O fato de já ter sido empregado em combate e contar com boa quantidade de unidades em operação, o que facilita futuras modernizações e reposição de peças, é um ponto a favor do F-18 Super Hornet. Os possíveis embargos dos Estados Unidos à transferência de tecnologia sempre jogaram contra, mas essa política foi "relaxada" agora, segundo oficiais da FAB.

A extensão desse relaxamento é o que a Aeronáutica vai avaliar. Fontes familiarizadas com o projeto de aquisição dos caças dizem que a mudança de postura reflete, em parte, o aprofundamento das relações bilaterais e a visão em Washington de que o Brasil é um parceiro confiável na região. Mas observam também que a aproximação da Venezuela com a Rússia estimula a Casa Branca a ser mais flexível nas negociações com os brasileiros.

Os franceses da Dassault são apontados como favoritos, após a "associação estratégica" acertada com o presidente da França, Nicolas Sarkozy. Os franceses já fecharam com o Brasil a venda de helicópteros e a construção da parte não-nuclear de submarinos. Mas, diferentemente do F-X original, a Dassault não entrou na disputa em associação com a Embraer, de quem é sócia. A empresa brasileira, desta vez, será a principal beneficiária da transferência de tecnologia com a compra, não importa o vencedor.