Título: Dados pioram previsões para o PIB de 2009
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2009, Brasil, p. A5
A forte queda da produção industrial em dezembro, comparável apenas ao ocorrido na época do Plano Collor, levou economistas de consultoria e bancos a reverem para baixo as projeções trimestrais e anuais para Produto Interno Bruto (PIB) de 2008 e de 2009. Todas as previsões para o 4 trimestre pioraram e muitas indicam uma queda superior a 2% em relação ao terceiro trimestre. Essa perspectiva não altera muito o desempenho esperado para 2008, que se manteve acima de 5%. O problema é que o péssimo final de 2008 vai deixar uma herança perversa para 2009. Já começaram a aparecer previsões de recessão não apenas para a virada de 2008 e início de 2009, mas para todo este ano. As estimativas para o PIB em 2009 agora variam de queda de 0,4% até alta de 2,5%. Se for negativo, será o primeiro resultado desse tipo desde 1992.
As projeções de recessão no ano estão sendo feitas pelo BNP Paribas (menos 0,4%) e pela Gradual Investimentos (queda de 0,2%). As taxas tímidas de crescimento entre 1,2% e 1% são estimadas pela MB Associados e Concórdia Corretora, enquanto a LCA Consultores é mais otimista, com algo na casa de 2,5%.
Por causa da forte retração da indústria no quarto trimestre, a herança estatística - o "carry over", em economês - de 2008 para 2009 será negativa. As projeções variam de um "carry over" de -0,1% a -1%, dependendo do PIB do quarto trimestre, a ser divulgado em março pelo IBGE. Uma herança estatística negativa de 1% significa que, se o PIB não crescer nada em relação ao nível de dezembro de 2008, a economia fechará 2009 com retração de 1%. Para comparar, o "carry over" de 2007 para 2008 foi positivo em 2,2%. O número é bem mais baixo em 2009 porque a variação do PIB é obtida pela comparação da média do crescimento de um ano com a média do anterior. Em 2007, a economia ganhou força ao longo do tempo, terminando num nível mais alto que o do começo do ano. Em 2008, ocorreu o inverso.
Com o tombo da indústria em dezembro, o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, revisou para baixo a sua previsão para o PIB no quarto trimestre de uma queda de 1,7% para um recuo de 2,3% em relação ao terceiro, na série com ajuste sazonal. "Isso significa um carry over negativo de 1%, o que me fez reduzir a projeção do PIB em 2009 de zero para uma retração de 0,4%", explica ele, que acredita numa queda de 1% no primeiro trimestre. Mesmo esperando taxas razoáveis de crescimento a partir de abril - 0,8% no segundo trimestre, e 1% no terceiro e no quarto - isso não vai impedir uma queda do PIB, diz ele. No caso da produção industrial, o "carry over" para 2009 ficou ainda pior: uma taxa negativa de 16,2%.
A Gradual e a MB também apostam em queda do PIB no primeiro trimestre. Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual, prevê que janeiro será "derrubado" pelas exportações e pela atividade ruim da indústria. "Vamos continuar capturando os efeitos da crise global", prevê, lembrando que a particularidade da crise atual é a sincronia com que se espalha pelo mundo, como nos anos 30. Ele só projeta para março o início do fim do ciclo de queima de estoques.
Elson Teles, economista-chefe da Concórdia, revisou de 2% para 1% a taxa de expansão do PIB neste ano. Ele atribui o resultado da indústria em dezembro ao fato de o país passar por "um ciclo de estoques violento", com destaque para automóveis, aço e minério de ferro. "A indústria extrativa mineral teve uma queda acima de 40% em dezembro. Houve uma parada na produção para ajustar estoques."
Teles acha muito cedo para se fazer uma projeção de crescimento negativo para o país em 2009. "Mas um crescimento muito baixo, entre zero e 1% não é absurdo." Ele não crê que o PIB deste ano seja sustentado pelo investimento. "A formação bruta de capital fixo vai ficar próxima de zero, por conta da deterioração das expectativas e do freio no crédito. Se tiver algum crescimento, não passará de 2%." A parte do consumo é a que lhe parece menos volátil, diz, lembrando os reajustes do salário mínimo e do Bolsa Família. "Isso favorece a indústria de bens não-duráveis."
Sérgio Vale, da MB, aposta em um PIB de 1,2% e acha que, do ponto de vista da oferta, a indústria é a que vai sentir mais os efeitos da recessão mundial, com o setor de transformação beirando o terreno negativo. Pelo lado da demanda, ele avalia que tanto o setor externo quanto o investimento terão queda em 2009. Ele espera um recuo de 0,5% na formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos) neste ano, desempenho muito abaixo da alta de 13% esperada para 2008. Para Vale, uma eventual retomada da atividade mundial está distante e talvez ocorra apenas em 2010.
O economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, pinta um quadro mais otimista para 2009. Parte da explicação se deve à queda menos acentuada que ele projeta para o PIB no quarto trimestre do ano passado, de 1,8%, mesmo com o tombo da indústria em dezembro - antes, ele estimava recuo de 1,6%. "Eu mudei pouco a projeção porque o setor de serviços, que equivale a dois terços do PIB, foi menos afetado pela crise." Para 2009, ele deve rebaixar a projeção para o PIB de 2,8% para a casa de 2,5%, apostando em alguma recuperação já primeiro trimestre. Ele acredita em alta de 0,5% em relação ao quarto. A partir de abril, com o fim do ciclo de estoques, haverá uma aceleração maior, com o estímulo da queda dos juros e da política fiscal, especialmente do investimento público, acredita ele.
Para o PIB de 2008, as previsões foram pouco alteradas. Borges manteve a estimativa de 5,4%. Já Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, rebaixou a sua de 5,5% para 5,2%. "Serviços e agropecuária sofreram menos com a crise no quarto trimestre", afirma ela, que vai mudar a projeção para 2009. Hoje, a previsão de 1,5% lhe parece muito otimista.