Título: Guerra avisa que, sem consenso, PSDB decide candidato em prévias
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2009, Brasil, p. A6

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que a realização de prévias para a escolha do candidato do partido à sucessão de do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "é consenso" entre os tucanos, se os pré-candidatos José Serra, governador de São Paulo, e Aécio Neves, governador de Minas Gerais, não chegarem a um entendimento. Uma comissão tripartite está encarregada de preparar um documento com o modelo da prévia. Silvia Costanti/Valor

Guerra: "Uma proposta de entendimento não anula a outra, de prévias"

Segundo Sérgio Guerra, o PSDB reservou o primeiro semestre de 2009 para "estruturar a base das alianças nos Estados". A questão das candidaturas presidenciais ocupará o segundo semestre. A cúpula tucana prefere que Serra e Aécio cheguem a um acordo, mas uma coisa não exclui a outra, na opinião de Sérgio Guerra. "Uma proposta de entendimento não anula a outra, de prévias", disse.

"A decisão, havendo mais de uma candidatura, está tomada: o processo será aberto", disse Guerra. "A escolha não será como foi das outras vezes", acrescentou, referindo-se ao "cupulismo" que caracterizou as escolhas anteriores dos candidatos tucanos. "É impossível imaginar como estarão Aécio e Serra ou Serra e Aécio daqui a um certo tempo, dentro e fora do partido", disse. "Vai depender da ação, do discurso e das alianças de cada um".

Para o presidente nacional do PSDB "é inegável a capacidade eleitoral do governador José Serra, mas é claro que Aécio Neves é um candidato com grandes chances de crescer", afirmou Guerra ao Valor, medindo cada palavra: o senador coordena a escola do candidato e teme que uma palavra mal empregada provoque uma crise.

A tradução do que ele diz é a seguinte: Serra atravessa um momento eleitoral melhor que Aécio Neves, fez apostas acertadas na eleição municipal (Gilberto Kassab, em São Paulo, e Fernando Gabeira, no Rio, por exemplo), enquanto o governador mineiro teve dificuldades e só elegeu no segundo turno o candidato Márcio Lacerda, que apresentou em composição com o PT e o PSB. Guerra, no entanto, nega que em algum momento tenha dito a Aécio que a cúpula tucana prefere a candidatura de Serra. "Na falta de um entendimento entre eles, é consenso a realização de prévias", afirmou.

Preocupa os tucanos a reação do eleitorado de São Paulo e Minas Gerais à disputa entre Aécio e Serra. Ele esteve em Belo Horizonte e ficou surpreso com a reação de jornalistas mineiros ao entendimento entre Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin, que chegou a ser chamado de traidor por um deles - Aécio contava com Alckmin para estabelecer uma cabeça de ponte em São Paulo: o ex-governador mantém altos índices de popularidade no interior do Estado.

De passagem ontem por Brasília, Alckmin disse que vê como boas as condições para o PSDB na disputa de 2010. "Para isso nós vamos nos unir aos partidos de oposição para apresentar um excelente projeto para o Brasil".

"É indispensável que os dois se entendam", disse Guerra, "pois o eleitorado dos dois Estados são a grande maioria do candidato do partido". Portanto, adverte Guerra, "não pode haver antagonismo entre os dois, o fato deles quererem a Presidência não pode gerar um antagonismo que divida o eleitorado. Competição, sim; confrontação, não".

Segundo Guerra, "há um grande empenho em descobrir divergências entre Aécio e José Serra. Aos leitores, um aviso: deem 70% de desconto no que lerem". O problema que Guerra não admite é que grande parte das divergências vem dos próprios aliados de um e de outro. Com a bancada do PSDB da Câmara em pé de guerra por causa da função de líder, serristas e aecistas ontem tentavam chamar os dois para a briga.

Serra, que já sugerira um acordo com Paulo Renato (SP) para que José Anibal se mantenha como líder, manteve-se a distância, assim como Aécio Neves, embora seja conhecida a preferência do governador por Anibal. São casos como esses que acabam ganhando grande dimensão com as suspeitas, dos dois lados, de que um conspira contra o outro.