Título: Pesquisadora acredita em transição gradual dos EUA em relação a Cuba
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2009, Internacional, p. A8

Uma das maiores críticas da política americana para a América Latina, a acadêmica Julia Sweig, membro do Conselho de Relações Exteriores (centro de pesquisa americano), acha que o presidente Barack Obama deve encarar a região com outra perspectiva e não como um tema menos importante dentro do amplo aspecto da política externa americana. E muito menos como um quintal. Leo Pinheiro/Valor

Especialista em América Latina, Julia Sweig assessorou a equipe de Obama na campanha e pode ter cargo no governo

Zweig, que auxiliou os democratas na campanha eleitoral de 2008, esteve no Rio esta semana. Em palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse que os EUA terão que buscar uma nova maneira de lidar com a América Latina, para preencher o vácuo deixado pelos oito anos do governo Bush.

"Temos que digerir temas mais complexos", avalia Sweig. Ela alertou que os países da região não devem esperar um pacote de políticas prontas vindo do governo Obama e citou como exemplo o Brasil, que vem articulando seus interesses e agenda de forma efetiva.

O nome de Zweig tem sido cotado para um cargo no governo Obama ligado à América Latina, seja no Departamento de Estado de Hillary Clinton, no Pentágono ou no Conselho de Segurança Nacional, órgão ligado diretamente ao presidente. Ela disse ao Valor que não teve nenhuma proposta.

"Está sendo preparada a Cúpula das Américas em abril [em Trinidad e Tobago] e o time que está trabalhando nisso tem servido bem. Depois disso, eu não sei", afirmou.

Na palestra sobre os desafios do governo Obama nas relações com a América Latina, Sweig disse ser a favor da retomada gradual das relações dos EUA com Cuba e da continuidade do plano de ajuda para a Colômbia. Sobre imigração, ela não sabe se será prioridade agora, considerando as dificuldades internas devido à crise econômica.

Sweig se desculpou por não ter conhecimento detalhado sobre questões comerciais relativas a Alca e Mercosul nem sobre a política de energia de Obama, que gerou a expectativa de alguma abertura do mercado americano para o etanol brasileiro. "Faz sentido que o etanol produzido no Brasil seja exportado para os EUA, e a eliminação de tarifas é um objetivo importante. Existe um mercado nos EUA potencialmente aberto, mas quando isso vai acontecer, não sei. Precisa ficar claro que a energia do etanol é produzida de forma limpa."

Ainda com relação ao Brasil, ela acredita que o país pode ser um parceiro na repressão ao tráfico de drogas e nas discussões sobre mudanças climáticas. Sweig se sente mais confortável quando entra em temas que conhece profundamente, como a Cuba de Fidel Castro, sobre quem escreveu o livro "Por Dentro da Revolução Cubana".

Sweig foi a única estudante americana a ter acesso aos arquivos de Fidel Castro e tem sido uma das mais vozes respeitadas nos EUA sobre aquele país. Sua avaliação é que o atual governo deve se sentar e conversar com Cuba. Mas ela foi cautelosa na receita para a aproximação, dizendo acreditar que o caminho é a Casa Branca sinalizar ao Congresso a disposição de eliminar gradualmente as sanções impostas à ilha. "Ninguém pensa em acabar com o embargo do dia para a noite, e não sei se Havana está pronta para lidar com mudanças drásticas nessa velocidade. Todos temos questões domésticas para resolver", disse.

(Colaborou Ana Paula Grabois)