Título: GM ajusta produção e prevê juro menor
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 04/02/2009, Empresas, p. B6
O presidente da General Motors do Brasil, Jaime Ardila, não conta com a prorrogação do IPI menor. O fim do benefício está marcado para 31 de março. Mas ele leva muito em consideração a "boa disposição do governo" em reduzir a taxa básica de juros. Com a volta de um crédito farto, a companhia e o mercado poderão continuar no ritmo atual, ajustado depois da crise. Para isso, a montadora deverá ainda dispensar 1,6 mil empregados temporários que estão em casa, em licença remunerada. Leonardo Rodrigues / Valor
Ardila, presidente da GM: "O Brasil não pode continuar com juros de 12%"
Terceira no mercado brasileiro de veículos, a GM acaba de ajustar a sua produção a dois turnos em todas as fábricas, do Brasil e da Argentina. Para isso, teve de dispensar os 477 temporários que formavam o terceiro turno em São José dos Campos (SP). Ainda falta a turma contratada da mesma forma em São Caetano do Sul (SP).
Com esse ajuste, a empresa está apta a acompanhar um ritmo que deverá levar o Brasil, segundo cálculos de Ardila, a um mercado interno de 2,4 milhões de veículos este ano. Isso representa uma queda de 14% em relação ao total do ano passado. Ou seja, um turno a menos nas fábricas.
Como imagina que as coisas vão melhorar a partir de 2010, Ardila providenciou para todos os temporários que tinham contrato de um ano cartas nas quais a companhia se compromete a chamá-los quando as coisas melhorarem. Os contratos dos 1,6 mil temporários de São Caetano terminam no fim de março. "É muito frustrante ter de dispensar trabalhadores bons, que foram treinados, preparados", diz.
Ardila completa estes dias um ano de presidência na GM do Brasil. "Em um ano tivemos o melhor e o pior mercado", destaca. O executivo assumiu o posto no auge do crescimento de vendas, mas enfrentou o oposto no final do ano. Depois do baque dos dois últimos meses de 2008, janeiro, por fim, não foi tão ruim como poderia ter sido, na opinião do executivo.
Como pano de fundo da ligeira recuperação do mercado nesse começo de ano, ele aponta "um conjunto de fatores", que vão da redução do IPI a um quadro de crédito melhor. Tanto que a empresa acaba de desistir de dar férias coletivas na fábrica de Gravataí (RS).
O IPI pode até subir de novo desde que o governo providencie outras formas de estímulo nas vendas de automóveis no restante do ano, segundo estimativas de Ardila. "Estou assumindo que vamos ter outros estímulos, outras medidas, como linhas de crédito até o fim do ano", destaca.
Para o executivo, "a disposição do governo é muito boa". Por isso ele acredita em mais redução de juros. "Se os países ricos já estão com juro próximo de zero, o Brasil não pode continuar com taxas de 12%, destaca Ardila.
Mas se o mercado interno começa a reagir, o mesmo não acontece com as exportações. A GM chegou a enviar os carros que produz no Brasil para mais de 40 países. Hoje conta com não mais do que meia dúzia de destinos e a previsão é que a receita com vendas externas, que somou US$ 1,6 bilhão em 2008, caia para menor de US$ 1 bilhão este ano.
Para Ardila, se de um lado o controle da crise mundial não cabe ao Brasil, por outro o país tem condições de "mitigar o impacto" da recessão no planeta por meio do aumento das condições de financiamento, redução de juros e investimentos públicos, principalmente em infraestrutura. "O país não vai crescer 5% ou 6%, mas pode chegar a taxas razoáveis", destaca Ardila.
Não cabe só ao Brasil ajustar a produção de veículos. O presidente da GM diz que a indústria automobilística de todo o planeta passará por um período de consolidação. Isso significa novas alianças entre as montadoras. O setor trabalha com capacidade de produção anual de 90 milhões de veículos. Mas o planeta consumia 60 milhões antes da crise. "Se as empresas se juntarem a capacidade excedente tende a diminuir", diz.
Nos EUA, chegou-se a cogitar uma parceria entre GM e Chrysler. Mas , diante das dificuldades financeiras de ambas, o acordo não aconteceu. A Chrysler acabou indo para o controle da Fiat. Para Ardila, o pior da crise da GM nos Estados Unidos já passou. A montadora já dispõe da ajuda de US$ 13,4 bilhões liberada pelo governo . "Agora virá efetivamente a fase da recuperação", afirma.
Para Ardila, o maior problema da GM nos EUA foi ter sido pega pela crise nos preços do petróleo em um momento em que não poderia mudar a produção de carros grandes para pequenos. "Com custos trabalhistas muito altos, não era possível tentar ganhar dinheiro com a produção de carros pequenos", afirma. Agora, a companhia tem de obrigatoriamente começar a fabricar modelos mais econômicos imediatamente.
O presidente da filial brasileira faz questão de salientar que os investimentos no país são feitos com o dinheiro ganho internamente. Há pelo menos três lançamentos de produtos previstos para o ano, além do Captiva, o utilitário esportivo fabricado no México, que acaba de ser lançado. A subsidiária aguarda sinal verde da matriz para poder investir ainda mais para renovar os carros nos próximos três anos.