Título: Arranque até abril
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2010, Política, p. 2

Dilma permanecerá colada em Lula enquanto estiver na Esplanada. É o que petistas chamam de ¿fase da transferência¿ dos votos do presidente para a ministra

Colaborou Leonardo Augusto

Num primeiro encontro de cúpula para tratar da pré-campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República, os petistas decidiram que ela permanecerá ¿colada¿ ao presidente Lula em inaugurações de obras, lançamentos de projetos e programas e só sai do governo no último dia do prazo previsto na legislação eleitoral, 3 de abril. É a chamada ¿fase da transferência¿, onde o PT tentará arrebanhar o que puder da popularidade presidencial para a sua candidata.

Depois, no período que os comandantes petistas chamam de ¿lusco-fusco¿ ¿ de abril até as convenções que lançam oficialmente os candidatos e funcionam como uma largada do tempo regulamentar de campanha ¿, Dilma percorrerá o país atendendo a convites que lhe chegam diariamente para palestras em escolas, centros de estudos, empresários e partidos aliados. E tudo será feito com um foco em São Paulo, estado que hoje mais preocupa os petistas por ser a terra do candidato do PSDB José Serra, e onde estão concentrados 25% dos eleitores.

A reunião foi na casa da ministra, na noite de terça-feira, onde estiveram Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula; Franklin Martins, ministro da Comunicação; o publicitário João Santana, marqueteiro já escolhido para a campanha; Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte; José Eduardo Dutra, presidente eleito do PT; e o deputado Antonio Palocci.

A avaliação geral do grupo é que Dilma se saiu muito bem desde que teve seu nome sob os holofotes. No início de 2009, ela apresentava 4% nas pesquisas de opinião e, agora, chega ao ano eleitoral no patamar de 20%. Mas, apesar da popularidade de Lula e dos bons ventos da economia, não dá para apostar que tudo serão flores. Por isso, é chegada a hora de chamar alguns personagens para conversas mais definitivas no que se refere a palanques, especialmente em São Paulo. E lá o PT, embora conte com nomes conhecidos, não tem ninguém forte o suficiente para tirar o favoritismo do PSDB no estado.

No que se refere a São Paulo, o grupo reunido na casa da ministra ¿jogou a toalha¿ quando alguém mencionou a candidatura de Ciro Gomes ao governo paulista. A impressão dos presentes foi a de que Ciro até agora não moveu uma palha por esse projeto e nem moverá. Por isso, assim que Ciro voltar a Brasília, vão chamar o deputado e a cúpula do PSB para uma conversa olho no olho. O PT quer saber, por exemplo, como Ciro manterá uma candidatura presidencial, já que foi ultrapassado por Dilma nas pesquisas. E, de uma forma muito educada, para não melindrar o aliado, dirão que o PSB precisará escolher um caminho: ou elege um grupo de governadores com o apoio do PT ou busca um projeto presidencial.

Outro estado que Dilma passará a visitar com frequência é Minas Gerais. Lá, os petistas estão organizando homenagens à ministra e um encontro com jovens. A idéia é aproveitar a decepção mineira com a saída de Aécio Neves da disputa presidencial e mostrar as raízes de Dilma no estado onde nasceu.

A ministra intensificará essas viagens depois do congresso do PT, 18 de fevereiro, em Brasília, quando fará o discurso com as linhas gerais da campanha. Ela ficou de rascunhar o texto para levar à próxima reunião. Há dois dias, na solenidade de lançamento do Minha Casa Minha Vida para cidades com 50 mil habitantes, Dilma falou diversas vezes na necessidade de continuar o governo Lula (1)e a expressão ¿sabemos como fazer¿.

1 - Descaso Na frente do presidente do Senado, José Sarney, Lula disse que o desabamento de casas provocado pelas chuvas foi fruto do descaso com que se tratou da habitação nos últimos 25 anos. ¿Se tivessem tratado da habitação de forma sistemática, essas tragédias poderiam ser evitadas¿, afirmou ela.

O número 18 de fevereiro é o dia do congresso nacional do PT, em Brasília

Análise da notícia Como videogame

O PT já montou as etapas da campanha de Dilma Rousseff como um experiente jogador de videogame. A primeira fase geralmente é aquela mais fácil, com poucos desafios. Basta seguir Lula e deixar que o eleitor faça a associação. Esse período, avaliam, será tranquilo, desde que o partido não tropece na confecção das alianças e não deixe o PMDB escorrer pelos dedos. Hoje, a impressão geral é a de que não há justificativa plausível para afastar Michel Temer da condição de vice na chapa presidencial e a ordem é evitar que alguns, mais afoitos, cobrem essa mudança.

A segunda fase, quando Dilma estiver fora do governo, os obstáculos serão maiores, uma vez que ela já não será a grande gestora das obras governamentais e a campanha só começa na TV em agosto. E não é assim uma especialista em futebol para reunir os amigos para ver os jogos da Copa do Mundo. Pode soar falso. Depois vem o último obstáculo: o mais difícil, que é assegurar ao eleitor que ela tem jogo de cintura para tocar o dia a dia do governo. Aí, será com ela, a TV e o eleitor. (DR)