Título: Depois de disputa, Lula tenta recompor base
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2009, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer recompor a base de governo depois da disputa entre aliados para as presidências da Câmara e do Senado. Lula ligou para os candidatos derrotados - Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Ciro Nogueira (PP-PI) e Tião Viana (PT-AC), pedindo que deixem a disputa para trás. O mesmo recado foi dado aos presidentes eleitos das duas Casas - Michel Temer (PMDB-SP) e José Sarney (PMDB-AP) durante audiências individuais, no Palácio do Planalto. "O ano será difícil e o Congresso Nacional terá um papel fundamental para que o Brasil possa enfrentar essa crise".

No mesmo dia das eleições, depois da reunião ministerial na Granja do Torto, José Múcio, ministro da coordenação política, e Lula, conversaram e acertaram que era momento de deixar para trás as eleições no Legislativo. "O resultado foi ótimo para as duas Casas? Foi. Mas agora precisamos apagar o incêndio", afirmou Múcio. O temor do Executivo é que as disputas entre partidos aliados abalem a coalizão de governo, paralisando os assuntos de interesse do Planalto, como as reformas política e tributária e os debates sobre o pré-sal, na reta final do mandato de Lula.

Um aliado governista lembra que a disputa envolveu até os governadores dos partidos aliados - Aldo, por exemplo, teve sua candidatura apoiada pelo governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB).

A recomposição na Câmara é mais simples, mas Lula fez questão de entrar em contato com os dois deputados. O Senado preocupa mais o Planalto. Apesar de o governo ter trabalhado por Tião Viana (PT-AC) até Sarney entrar na disputa, os dois candidatos e os respectivos aliados criticaram a atuação de Múcio. O petista não gostou quando a bancada do ministro, o PTB, fechou em peso com a candidatura Sarney. Já os pemedebistas ficaram furiosos ao ver Múcio, mesmo sem ser filiado ao PT, pedindo apoio Viana.

Lula sabe que a base que tem em mãos no Senado é mais frágil e pouco confiável. Por isso, coube a ele a tarefa de conversar com Tião Viana - por não ser do PT, essa missão ficaria mais difícil para Múcio. Lula também fez questão de prestigiar o seu coordenador político, ao aparecer - acompanhado pelo ministro da Comunicação, Franklin Martins e pelo assessor especial da Presidência, César Alvarez-, em almoço de pacificação de Múcio com a bancada do PTB, na quarta-feira. No mesmo dia, Lula conversava, ao lado de Múcio, com Sarney e Temer.

O presidente também pediu uma reunião do Conselho Político para daqui a duas semanas. Nela, vai conversar pessoalmente com os novos líderes nomeados pelas bancadas da Câmara e do Senado e fará o mesmo pedido: é preciso coesão para enfrentar os dois anos que restam e para fazer o sucessor em 2010.