Título: PMDB busca mediação de Lula para a renovação de comando
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2009, Política, p. A6

O PMDB do Senado está disposto a lutar pelo comando do partido e pela antecipação da eleição da nova Executiva Nacional para 2009, mas decidiu fazê-lo pela via do entendimento. Sem votos suficientes para derrotar o grupo do deputado Michel Temer (SP), presidente da legenda desde 2001, a ala liderada pelos senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL) afasta a possibilidade de confronto e almeja um acordo para formação de chapa única, compondo as duas alas partidárias. Sérgio Lima/Folha Imagem - 2/2/2009

Sarney e Temer: decisão do presidente da Câmara de se licenciar da presidência do partido desagradou senadores, que almejam mais espaço no comando

O grupo pemedebista ligado a Temer controla a máquina partidária e preside a maioria dos diretórios estaduais. Sem acordo, havendo eleição em convenção nacional para escolha de um novo presidente, a ala da Câmara sairia vencedora: na conta do comando partidário, pelo menos 18 dos 26 diretórios regionais seguem a atual direção.

Para chegar a um possível entendimento, há aliado de Sarney sonhando até com uma ajuda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, interessado na unidade do partido para apoiar seu candidato na sucessão presidencial, poderia influenciar o PMDB da Câmara.

Os gestos de aproximação emitidos por Sarney após a eleição para a presidência do Senado, em 2 de fevereiro, têm sido bem recebidos por Temer, no mesmo dia conduzido à presidência da Câmara. Essa cordialidade, no entanto, reflete a disposição dos dois políticos com perfil conciliador de manter boa convivência, mas não significa avanços para uma unidade partidária.

De sua parte, Temer por enquanto não cogita renunciar ao mandato, que foi prorrogado para até março de 2010, nem antecipar para 2009 a convenção nacional que elegerá a nova Executiva Nacional.

Sem disposição de abrir mão do controle partidário, Temer deve se licenciar da presidência do PMDB até 8 de março, quando o cargo deve ser assumido interinamente pela primeira vice-presidente, deputada federal Íris de Araújo (GO), até 2010. Com isso, Temer poderia voltar sempre que considerar necessário. O Estatuto do partido permite que Temer continue no cargo mesmo na presidência da Câmara. Esse arranjo manteria nas mãos de Temer e aliados o comando partidário até a sucessão de Lula. Continuaria protagonista no diálogo com o Planalto.

"Vai ser uma licença mais simbólica do que prática. Esse grupo não vai entregar o direito de comandar a sucessão presidencial", disse um integrante da Executiva. Também não está em seus planos, por enquanto, a partilha do comando partidário com a turma de Sarney. "Estamos falando de uma paquera, e não de uma divisão patrimonial", definiu um parlamentar ligado a Temer, ao analisar a atual aproximação entre ambos.

A licença desagrada o grupo do Senado, que gostaria de ter espaço na direção partidária para ter mais influência no processo sucessório de 2010. Até aliados de Temer estão de olho em sua vaga. O deputado Eunício Oliveira (CE) faz campanha aberta. Há também quem aponte o líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN), como solução para a presidência.

O líder defendia a entrega do comando do PMDB a um senador, desde que a bancada do Senado apoiasse o candidato do PT à presidência daquela Casa, Tião Viana (AC). Sua preocupação era de evitar retaliação do PT contra Temer na Câmara. Como não houve acordo dentro do partido, Alves mudou o discurso. "Se não tivesse a candidatura de Sarney, teria sido a consagração da unidade", comentou o deputado Eunício Oliveira.

É de Sarney a tarefa de buscar a reaproximação com a bancada da Câmara, já que o senador Renan Calheiros (AL) se expôs mais na articulação de uma candidatura própria do PMDB à presidência do Senado e está queimado entre os deputados. Os senadores do partido apóiam a tentativa de entendimento, porque dependem de respaldo partidário para se reelegerem. Dos 20 senadores, 17 disputarão um novo mandato em 2010.

Desde a eleição, Sarney fez vários afagos em Temer. Entre outras coisas, elogiou-o publicamente e foi buscá-lo em seu gabinete da Câmara para irem juntos na visita protocolar ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.

Do grupo do senadores, o líder do governo na Casa, Romero Jucá (RR), é o postulante à vaga de presidente do PMDB. Com um discurso buscando a pacificação entre as diferentes alas do partido, Jucá defende publicamente que Temer comande sua sucessão na presidência do partido.

"A discussão sobre a nova Executiva não é de bancada, Senado contra Câmara. Devemos aproveitar o momento para unir, e não dividir. O novo presidente deve representar as duas bancadas, deve ter o poder de aglutinar todo mundo", afirmou. Segundo ele, a data para a realização da convenção (2009 ou 2010) deve ser "uma das premissas do entendimento".

O discurso de Jucá, por enquanto, não sensibiliza a turma da Câmara. "Ele (Jucá) não conseguirá presidir o partido sem a anuência da Câmara", avisou um dirigente do grupo de Temer.

Nos próximos dias, Sarney pretende reunir as duas bancadas em jantar de pacificação. Um dos problemas a serem contornados é o mal-estar entre Renan e o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), acirrado durante a campanha pela presidência do Senado, quando Geddel trabalhou por Tião.

Geddel é um dos nomes do PMDB cogitados para compor uma chapa presidencial com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Sarney e o líder da bancada do Senado, Renan Calheiros, defendem aliança com o candidato governista.

"Vamos trabalhar pela unidade. Juntando os dois grupos, da Câmara e do Senado, teremos o dobro da força", comentou o ex-ministro e deputado Eliseu Padilha (RS), aliado do presidente partidário e também cotado para presidir o PMDB. Ele não descarta, inclusive, o lançamento de uma candidatura própria do partido à Presidência da República.

Embora improvável pela falta de nomes naturais, a hipótese não é definitivamente descartada dentro do partido. Dizem que até poderia ser estratégico para o governo, a fim de levar a disputa ao segundo turno, se o candidato do PT estiver em desvantagem.

Dentro do PMDB, há um entendimento sobre o candidato que receberá o apoio do partido: será aquele que tiver maior viabilidade eleitoral, seja Dilma Rousseff ou outro do PT ou o governador José Serra (PSDB).