Título: Trabalhadores pró-Chávez tomam plataforma
Autor: Moura , Marcos
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2009, Internacional, p. A9

Trabalhadores venezuelanos ligados a um sindicato pró-presidente Hugo Chávez disseram ter assumido o controle de duas plataformas de petróleo da empresa americana Helmerich & Payne para impedir que esta retire os equipamentos do país.

A Helmerich & Payne vinha se queixando de não receber da estatal venezuelana de petróleo, a PDVSA, o valor devido pelo uso das plataformas e anunciou dias atrás que retirará seus equipamentos da Venezuela se a dívida não for paga.

O anúncio irritou os trabalhadores e a Federação Unitária dos Trabalhadores de Petróleo e Gás da Venezuela, que no início da semana passada tomou duas das 11 plataformas da empresa americana. "Não vamos permitir que as plataformas sejam levadas do país", disse por telefone ao Valor, Oswaldo Caibett, um dos integrantes da junta administrativa da federação. "Defenderemos até a morte a permanência das plataformas e o direito dos trabalhadores de manterem seus empregos." Segundo ele, cada plataforma gera cerca de mil empregos diretos e indiretos.

Por meio de uma nota, a Helmerich & Payne minimizou o incidente. Disse que nenhuma de suas plataformas tinha sido tomada, mas que duas delas foram afetadas por uma paralisação dos trabalhadores organizada pelo sindicato. Há pouco mais de dez dias, a empresa anunciou que a PDVSA lhe devia cerca de US$ 100 milhões e que seus planos eram retirar as plataformas do país à medida que os contratos forem expirando até meados do ano.

A resposta dos sindicalistas surge num momento difícil não só para a Helmerich & Payne, mas também para diversas empresas que como ela prestam serviço petroleiros na Venezuela. A PDVSA está se recusando a pagar o que deve a elas alegando que é preciso renegociar alguns dos contratos. A estatal admite que os pagamentos em atraso subiram 39% nos primeiros nove meses de 2008 - atingindo US$ 7,86 bilhões em setembro. A estatal diz que as prestadoras elevaram seus preços em até 40% quando o barril estava nas alturas - em julho atingiu o recorde de US$ 147 - e que agora, com o petróleo por volta dos US$ 40, os valores devem ser revistos.

"A PDVSA quer buscar a melhor maneira de conduzir a negociação", disse o chavista Caibett para quem a Helmerich & Payne "quer sabotar o projeto do presidente". "Os trabalhadores das outras plataformas estão nos apoiando" disse o sindicalista, indicando que, não se pode descartar ações de trabalhadores de outras empresas para evitar eventuais tentativas de retirada dos equipamentos.

O esforço, no entanto, pode ser em vão. "É possível que eles não ganhem nada evitando as empresas levem embora as plataformas porque não há nada que garanta que a PDVSA vá manter a produção", disse à reportagem o consultor na área de petróleo, Heliodoro Quintero. Segundo ele, o governo já tirou de funcionamento 18 plataformas para reduzir a produção do país em cumprimento a um corte recente decidido pela Opep.

Mas as prestadoras que seguem operando estão recebendo com cinco a seis meses de atraso, disse Quintero. A Ensco International, outra empresa americana, interrompeu o funcionamento de uma plataforma alegando que não consegue receber da PDVSA uma dívida de US$ 35 milhões. A Belgazstroy, da Belarus, também parou um projeto de gás no leste da Venezuela, por falta de pagamento.

O risco para a Venezuela, dizem analistas, é que se mais prestadoras de serviço decidirem parar a produção venezuelana tende a cair. Estimativas já apontam para uma queda de 100 a mil a 150 mil barris por dia se o ritmo de exploração diminuir - o que significaria um corte diário na receita venezuelana de cerca de US$ 5 milhões. O petróleo representa 94% das exportações venezuelanas e financia quase a metade do Orçamento. (Com agências internacionais)