Título: Eles não falam a mesma língua
Autor: Seixas, Luiza
Fonte: Correio Braziliense, 14/01/2010, Brasil, p. 7

Lei estabelece que escolas públicas e particulares têm até agosto para começar a oferecer o espanhol como disciplina obrigatória. Diretores, no entanto, destacam a falta de professores

Escolas públicas e particulares de todo o país que ainda não se adequaram terão até agosto para passar a oferecer o ensino de língua espanhola aos estudantes do ensino médio. A determinação é da Lei federal nº11.161, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não só transforma a disciplina em obrigatória como dá para as instituições de ensino o prazo de cinco anos para a conclusão do processo de implantação. Curiosamente, a obrigação acaba no dever da escola, segundo a legislação, o aluno pode optar por cursar ou não a matéria.

Os diretores de escolas acreditam que a ideia, embora pareça adequada, deve resultar em um problema grave: encontrar professores qualificados para ministrar a nova disciplina. Para o diretor do Centro de Ensino Nº 3 de Ceilândia, Waldek Batista, os alunos em processo de formação que aceitarem a oferta terão várias portas abertas na carreira profissional. Como destacou, a atual realidade é ¿de um mundo globalizado e de um mercado de trabalho competitivo¿, por isso, ¿aqueles que tiverem no currículo outra língua, terão mais oportunidades¿. Mas ¿ Waldek ressalta ¿ vai ser difícil colocar em prática o que manda a lei. ¿Hoje, o estado já obriga a oferta do inglês. Mas no caso do espanhol, vamos passar por dificuldades. A Secretaria de Educação terá que prover as escolas com esses professores, habilitados para trabalhar com essa disciplina¿, destacou o diretor.

A presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), Amábile Pacios, explica que as escolas particulares já oferecem o ensino da língua espanhola, mas também encontram dificuldade para fechar o corpo docente. ¿Não vai ter professor para atender todas as escolas. O governo, de fato, vai precisar incentivar as pessoas para que elas possam optar pelo curso de espanhol para dar aula.¿

Outro ponto destacado por Amábile é que, se os legisladores começarem a acrescentar disciplinas na grade curricular, as escolas terão dificuldade para ensinar a ler e a escrever. ¿A obrigatoriedade da educação no trânsito e educação sexual, por exemplo, são projetos de lei que estão esperando para serem aprovados. Daqui a pouco, não teremos hora para dar o português e a matemática. Os legisladores precisam conversar com os educadores antes de apresentarem as propostas¿, diz a presidente. Outra matéria que também já é obrigatória, e até o ano que vem deverá ser implantada nas escolas, é o ensino de música.

Às vésperas de iniciar o ano letivo, a coordenadora de Supervisão Institucional e Normas de Ensino da Secretaria de Educação, Leila Pavanelli, explicou que o órgão está começando a trabalhar para colocar a lei em prática. Até o fim do mês de janeiro, a secretaria divulgará o edital do concurso para a contratação de outross professores para as escolas públicas. ¿O ensino do espanhol é um decreto presidencial e nós podemos implantar até o mês de agosto. Porém, decidimos que já vamos chamar os profissionais para começar a trabalhar, provavelmente, até o mês de março.¿