Título: Rumor de renegociação de dívida russa causa tensão
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Fonte: Valor Econômico, 11/02/2009, Internacional, p. A12

Rumores de uma negociação de US$ 400 bilhões em dívidas de empresas russas mexeram ontem com os mercados, temerosos de que bancos possam sofrer perdas importantes. O governo russo negou estar mediando essa suposta reestruturação e disse que as empresas do país estão funcionando e pagando suas dívidas corretamente. Bancos citados não quiseram comentar o assunto.

O jornal japonês "Nikkei" citou ontem Anatoli Aksakov, presidente da associação russa de bancos regionais, dizendo que ele havia pedido ajuda do governo para mediar as negociações com os credores externos da dívida corporativa.

Moscou logo desmentido. "O governo da Federação Russa não tem planos em relação à questão da reestruturação das dívidas de bancos e empresas russas", disse o ministro das Finanças, Alexei Kudrin. O governo insiste que as empresas podem cumprir seus compromissos e os bancos russos dizem ter dinheiro para cobrir US$ 130 bilhões de sua dívida corporativa que devem vencer neste ano.

Os operadores de mercado, entretanto, venderam euros, antevendo problemas causados pela forte exposição dos bancos europeus em relação às dívidas russas. "Embora vejamos negativas sendo feitas agora, a história parece estar pesando contra a Rússia, contra os bancos europeus e contra o euro", disse Chris Weafer, estrategista do banco de investimentos Uralsib, de Moscou.

Segundo o jornal "Nikkei", alguns bancos europeus, como HSBC e Deutsche Bank, deram indícios de que têm interesse em iniciar negociações de reestruturação de dívida russa. Tanto o Deutsche Bank quanto o HSBC não quiseram fazer comentários.

Os calafrios no mercado são compreensíveis. A Rússia realmente tem problemas em relação à dívida externa de suas companhias. Com o sistema bancário do país sem liquidez e com os preços das commodities caindo, os defaults corporativos tendem a se multiplicar.

Quantificar o problema, entretanto, é difícil. Enquanto a Rússia pagou a maior parte de sua dívida soberana nos últimos anos, as empresas do país foram ávidas atrás de créditos externos. Os dados mais recentes do Banco Central, de outubro passado, mostram um total de dívidas em moeda estrangeira de US$ 541 bilhões, incluindo US$ 43 bilhões em dívida soberana (pública). Cerca de US$ 198 bilhões são dívidas dos bancos, e há ainda US$ 300 bilhões em dívida privada não bancária.

Mesmo assim, menos de US$ 130 bilhões aparecem nos balanços das cem principais companhias russas, diz o Goldman Sachs.

O governo russo diz que não pretende assumir dívidas do setor privado. Após ter queimado US$ 200 bilhões de suas reservas internacionais para defender o rublo, Moscou se deu conta de que sua capacidade é limitada.

Um programa de US$ 50 bilhões para ajudar as companhias a reestruturar suas dívidas foi suspenso após o uso de apenas US$ 11 bilhões. As autoridades disseram que vão focar na recapitalização do sistema bancário.

(Com o Financial Times)