Título: Senado aprova, mas plano de estímulo é questionado nos EUA
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2009, Internacional, p. A13

O pacote de estímulo econômico proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, superou ontem mais uma etapa necessária para obter a aprovação definitiva do Congresso nos próximos dias, mas as dúvidas sobre a eficácia que suas medidas terão no combate à crise atual só têm aumentado.

O Senado dos EUA aprovou ontem um plano que destina US$ 838 bilhões à recuperação da economia, incluindo cortes de impostos e investimentos em obras públicas. A Câmara dos Representantes aprovou, há duas semanas, um pacote de US$ 819 bilhões. Agora, os líderes partidários terão que voltar à mesa de negociações para eliminar as diferenças entre os dois planos.

Obama espera que os congressistas cheguem a um acordo até esta sexta-feira. Nos últimos dias, o presidente demonstrou impaciência com as críticas recebidas pelo pacote, as dificuldades encontradas no Congresso e a demora na aprovação do plano. "Ficar sem fazer nada não é uma opção", disse ele ontem, num encontro com moradores da Flórida.

Projeções do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) indicam que apenas um quarto dos recursos previstos no pacote do Senado seria gasto neste ano. Metade do dinheiro seria desembolsado no ano que vem, e o resto, só depois disso, quando muitos economistas acham que o mundo já terá deixado para trás a fase mais aguda da crise.

As diferenças entre os dois planos em debate no Congresso são significativas. O pacote do Senado oferece US$ 110 bilhões em cortes de impostos adicionais. Alguns dos benefícios tributários propostos podem ajudar várias empresas a equilibrar suas finanças, mas dificilmente contribuirão para gerar empregos, como o governo deseja.

O pacote também alivia o bolso da classe média, oferecendo a cada família um crédito tributário que pode chegar a US$ 1 mil por ano. A ideia é fazer as pessoas voltarem a consumir, mas ninguém sabe se vai dar certo. No ano passado, os trabalhadores americanos receberam um benefício semelhante do governo, mas a maioria preferiu pagar dívidas em vez de ir às compras.

Os senadores incluíram no pacote benefícios de utilidade ainda mais duvidosa, como um crédito de até US$ 15 mil para quem trocar de casa. A ideia parece ser reativar o mercado imobiliário, mas analistas temem que o mecanismo sirva apenas para estender a mão a especuladores que perderam dinheiro com o fim da bolha que inflou os preços dos imóveis nos EUA.

O plano da Câmara destina um volume maior de recursos para investimentos do governo, oferecendo US$ 92 bilhões a mais do que o Senado para estradas, pontes e energia. Programas de construção de escolas e ajuda para Estados em dificuldades financeiras, que receberiam parte dos recursos, foram eliminadas no plano do Senado.

Os economistas do governo acreditam que investimentos em infraestrutura contribuem mais para a criação de empregos do que cortes nos impostos. O Centro para o Progresso Americano, um centro de estudos influente no governo Obama, estima que o pacote da Câmara poderia criar 538 mil empregos a mais do que o plano aprovado no Senado, por causa da maior ênfase dada aos investimentos.

A meta de Obama é criar 4 milhões de postos de trabalho em três anos com o pacote. Mas muitos investimentos que receberão recursos do governo devem demorar para ser realizados, o que tende a reduzir o impacto imediato do plano. Segundo o CBO, 40% dos recursos reservados pelo pacote do Senado para investimentos só serão efetivamente gastos depois de 2011.

As dúvidas sobre o pacote levaram o Congresso a impor grande resistência à iniciativa. O Partido Democrata, de Obama, tem maioria nas duas casas do Congresso, mas no Senado o Partido Republicano ainda tem força para bloquear ou postergar projetos do governo. Apenas três senadores republicanos votaram a favor do pacote ontem. Na Câmara, nenhum deputado republicano apoiou o governo.

Pesquisas sugerem que a população americana também começou a ver a iniciativa com ceticismo nos últimos dias, apesar da enorme confiança que continua depositando em Obama três semanas depois da sua posse. Segundo o instituto Gallup, 17% dos americanos dizem que têm hoje menos confiança na capacidade de Obama de reanimar a economia do que antes da posse.